Adversários trocam acusações mas trégua mantém-se na Síria

Oposição denuncia 15 violações por parte do regime e dos seus aliados.

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Os ataques aéreos surgem apenas um dia depois do início da cessação de hostilidades Dimitar Dilkoff/AFP

Ao segundo dia de uma trégua negociada pelos Estados Unidos e pela Rússia, aliados e adversários do regime de Bashar al-Assad acusaram-se mutuamente de várias violações mas dizem manter-se comprometidos com o acordo. Nas cidades e regiões abrangidas continuou a sentir-se um ambiente de tranquilidade muito pouco habitual numa Síria há anos em guerra.

A coligação de opositores Alto Comité de Negociações queixa-se de 15 violações por parte do regime e dos seus aliados, incluindo a milícia xiita do Hezbollah, enquanto o exército russo dizia ao final do dia que a oposição violara nove vezes o acordo, estimando que “de uma forma geral, a cessação de hostilidades mantém-se”.

Em Riad, onde estão os líderes do Comité de Negociações, o ministro dos Negócios Estrangeiros saudita, Adel al-Jubeir, também acusou “a aviação russa e a aviação do regime” de terem lançado ataques contra zonas controladas por grupos de rebeldes – a trégua exclui dois grupos considerados terroristas, o autodesignado Estado Islâmico e a Frente al-Nusra (ligada à Al-Qaeda), presentes em mais de metade do país.

Esperava-se que pudessem surgir dúvidas sobre a legitimidade de alguns alvos, já que a Nusra se mistura em diferentes zonas com várias coligações de combatentes anti-Assad. Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, ONG próxima da oposição, dos alvos dos aviões sírios e russos do fim-de-semana só numa localidade, Kafr Hamra, na província de Alepo (Norte) é que está nas mãos da Nusra, em todas as outras só estão grupos não jihadistas.

Numa carta enviada ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e aos países membros do Grupo Internacional de Apoio à Síria, co-presidido por norte-americanos e russos e responsável pela negociação do acordo, a oposição síria enumera as violações e diz que, a continuarem, “irão minar os esforços internacionais para garantir” o cumprimento da trégua “e levar ao colapso do processo político adoptado pelas Nações Unidas”. No arranque da trégua, na noite de sexta-feira, a ONU anunciou que as negociações entre regime e oposição deverão recomeçar a 7 de Março em Genebra.

Ainda assim, “globalmente, está tudo muito melhor do que antes e as pessoas sentem-se bem”, afirmou aos jornalistas em Riad o porta-voz do Comité de Negociações, Salem al-Meslet. Sábado “foi o primeiro dia em que as pessoas puderam realmente sair e andar nas ruas”, diz Meslet.

Washington e Moscovo monitorizam a trégua individualmente e a oposição queixa-se de não saber exactamente como é que os norte-americanos o estão a fazer (os russos têm um centro de comando na sua base militar na província síria de Latakia) nem como é que as violações deverão ser punidas. Ao mesmo tempo, não há ainda um mapa comum com as zonas abrangidas pelo acordo.

“É preciso esperar dois ou três dias para assegurar a perenidade da paragem das hostilidades e o empenho das partes envolvidas”, escreve o jornal Al-Watan, próximo de Damasco. “Em todo o caso, os sírios ignoram as regiões incluídas com os mapas a serem mantidos secretos até agora.”

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