O muro de invencibilidade de Trump tremeu, pelo menos por uma noite

O líder da corrida republicana foi o alvo consensual no último debate antes da decisiva “Super Terça-feira”, mas só Marco Rubio o conseguiu atingir de forma convincente. Falta responder à pergunta-chave: fará alguma diferença?

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Apesar da barragem de ataques vinda de Rubio, poucos declararam Trump como o derrotado da noite. Mike Stone/Reuters

Donald Trump é o alvo a abater na corrida à candidatura republicana para a Casa Branca. As suas três últimas vitórias consecutivas demonstram-no, como já o faziam antes as sondagens que o colocam bem à frente dos outros concorrentes. Candidatos, analistas e responsáveis partidários demoraram a percebê-lo, ao ponto de o debate republicano da noite de quinta-feira ter subitamente surgido como uma – se não a – oportunidade crucial para abrandar a caminhada vitoriosa do magnata antes de onze estados votarem de uma só vez na próxima terça-feira.

Não é certo que isso tenha acontecido, mas Marco Rubio conseguiu o que muitos pensavam já ser impossível. O senador da Florida atacou de forma convincente Donald Trump nos seus temas favoritos, da imigração à habilidade empresarial, expondo-o numa nova luz, mais frágil e quase sempre defensiva. Confrontou-o com o registo de uma sua empresa na Florida, que, segundo revelou recentemente o New York Times, contrata muito mais trabalhadores imigrantes do que norte-americanos. É um abalo à premissa central da campanha de Trump, que diz querer recuperar os postos de trabalho perdidos para imigrantes e países de mão-de-obra barata.

“Donald, contrataste um número significativo de pessoas de outros países para empregos que americanos poderiam ter desempenhado”, lançou Rubio, antes de se referir a um caso com quase vinte anos, em que Trump foi acusado de reter salários a dezenas de trabalhadores polacos ilegais. “És a única pessoa neste palco a ter sido alguma vez multada por contratar pessoas para os teus projectos de forma ilegal”, disse Rubio, antes de o milionário ripostar, para aplauso da audiência. “Não. Sou a única pessoa aqui que alguma vez contratou alguém.”

O senador da Florida nunca parou de atacar o milionário e fê-lo em vários temas: citou processos em tribunal contra a antiga Universidade Trump, disse que estaria a “vender relógios em Manhattan” se não tivesse herdado uma fortuna de vários milhões de dólares do seu pai e acusou-o de se repetir – como o próprio Rubio, há apenas três semanas – no momento de explicar o seu plano de saúde. Do debate em Houston, no Texas, surgiu aquilo que o establishment republicano procurava no caucus do Nevada: um candidato anti-Trump que possa unir o apoio da ala mais moderada do partido.

Essa foi talvez a maior vitória para Rubio. Poucos acreditam que a liderança de Trump seja seriamente afectada pelos ataques do senador da Florida, não só porque o seu apoio eleitoral se tem revelado altamente resistente, mas também por ele ter sido capaz de se defender habilmente durante o debate. A maioria dos observadores recusa-se a declarar Trump o derrotado de quinta-feira. Não se pode dizer o mesmo de Ted Cruz. O senador do Texas batalha com Rubio pelo segundo lugar, mas, como ele, preferiu apontar armas ao magnata do imobiliário. Cruz, no entanto, foi incapaz de o fazer com a mesma intensidade de Rubio e deixou-se à margem do debate a poucos dias de um ponto crucial na campanha.

Demasiado tarde?
Se alguém se podia dar ao luxo de não vencer o debate de quinta-feira, essa pessoa é Donald Trump. O magnata caminha para a chamada “Super-Terça-feira” no topo das sondagens para quase todos os onze estados, com a notável excepção do Texas, onde o favorito é Ted Cruz – o magnata fez questão de relembrar Cruz que as sondagens o mostram cada vez mais frágil. Rubio está em condições de disputar apenas dois estados, o Arkansas e o Minnesota, e coloca-se a possibilidade de não vencer nenhum.  

Há muito em jogo na terça-feira: um quarto dos delegados de todas as primárias e metade dos necessários para vencer a nomeação. Uma vitória esmagadora de Trump pode ser decisiva, principalmente se nenhum dos seus quatro concorrentes abandonar a corrida nesse momento, mesmo John Kasich e Ben Carson, que têm poucas hipóteses de vencer a nomeação, mas esperam vitórias pontuais. Ambos sublinharam na quinta-feira não estarem preparados a render-se, como Jeb Bush.

A boa prestação de Rubio no último debate pode perder o brilho muito em breve. “Onde é que estava este Marco Rubio há quatro debates atrás”, perguntou à revista Politico Brett O’Donnel, veterano republicano e conselheiro de debates. “Nunca saberemos se faria alguma diferença na corrida porque Trump já ultrapassou o debate das primárias e já soa agora mais como um candidato de eleições gerais em vários aspectos.”

Não foi o caso de quando Trump, depois de vários minutos de ataques de Rubio e Cruz, chamou ao primeiro um “artista do engasgamento” e ao segundo “mentiroso”. Mas o líder não-convencional das primárias republicanas conseguiu mostrar-se mais moderado do que os seus concorrentes em vários temas fracturantes.

Fez uma tíbia defesa do financiamento do Estado à organização Planned Parenthood – que os republicanos abominam por permitir abortos mas que, como Trump referiu, oferece outros cuidados cruciais à saúde da mulher – e propôs-se como o homem que levará “paz ao Médio Oriente”, negociando com israelitas e palestinianos, algo que Rubio condenou, acusando-o de querer conversar “com terroristas”. 

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