Novo Banco vai despedir até 500 trabalhadores

Instituição diz que vai debater com representantes dos trabalhadores as vias mais adequadas para prosseguir com a reestruturação.

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Stock da Cunha deverá deixar o Novo Banco este Verão Nuno Ferreira Santos

O Novo Banco vai reduzir o seu quadro de pessoal até 500 colaboradores, o que se inscreve no plano de reestruturação acordados com a DGCom (Direcção-Geral da Concorrência Europeia). O objectivo inicial traçado por Bruxelas impunha uma redução do quadro de pessoal da instituição financeira de mil trabalhadores, em 2016, objectivo validado pelo Fundo de Resolução, gerido pelo Banco de Portugal.

As informações foram dadas, nesta quinta-feira, por Eduardo Stock da Cunha, no quadro das reuniões informais que manteve, durante a manhã, com representantes da Comissão de Trabalhadores (CT) e sindicalistas. E um dia depois de ter anunciado as contas anuais do Novo Banco relativas a 2015, com prejuízos de quase mil milhões (981 milhões, mais concretamente).

Num comunicado emitido já ao final da tarde, o Novo Banco veio confirmar os encontros com a CT e “os mais altos responsáveis das estruturas sindicais (SBSI, SBN, SBC, SNQATB, SIB e SINTAF)” e garantir que “o esforço que tem vindo a ser desenvolvido nos últimos meses, nomeadamente por via de reformas antecipadas, irá permitir limitar o esforço de redução de colaboradores ainda por concretizar para um número não superior a 500”. O plano de reestruturação negociado com Bruxelas prevê uma redução, em 2016, de 150 milhões de euros no total de custos operacionais [que em 2015 se cifraram em 754,7 milhões] e uma diminuição de mil colaboradores. Metas “validadas pelo nosso accionista - o Fundo de Resolução”, um veículo público gerido pelo Banco de Portugal, refere na nota.

No ano passado, deixaram a instituição financeira 411 colaboradores. A 31 de Dezembro de 2015, o quadro de pessoal do Novo Banco era de 7311 trabalhadores, dos quais 740 a operar no estrangeiro – fecharam 40 balcões, passando a rede comercial a ser de 635 agências, 39 fora do país. Em 2015, a diminuição de custos com pessoal foi de 8,2% passando para 397,6 milhões, o que inclui 22,8 milhões gastos com reformas antecipadas.

Ainda que a figura dos despedimentos colectivos não seja uma prática no sector bancário em Portugal, a gestão do Novo Banco deixou a possibilidade em aberto, nos encontros desta quinta-feira. Mas nada está definido. Os trabalhadores fizeram saber que recusam “totalmente” os despedimentos colectivos e sugeriram rescisões amigáveis, caso a caso, ou reformas antecipadas aos 54 anos (o que, aliás, está já a fazer o Montepio Geral). E lembram que a instituição liderada por Stock da Cunha tem actualmente cerca de 800 trabalhadores com mais de 55 anos, sendo expectável que muitos estejam disponíveis para equacionar uma proposta nesse sentido.

O banqueiro assegura, no mesmo comunicado, que vai prosseguir “um trabalho conjunto com as estruturas representantes dos trabalhadores, com vista a definir as vias mais adequadas” para alcançar, “no prazo acordado”, os objectivos de diminuição de colaboradores e corte de custos operacionais.

Durante as reuniões com a CT e os sindicatos, Stock da Cunha solicitou a não divulgação do teor da conversa, o que foi rejeitado pelos presentes “pela relevância doas esclarecimentos”. Para a próxima semana está agendada nova reunião, esta formal, para abordar os detalhes, nomeadamente, do modelo de despedimentos.

Os encontros surgiram menos de 24 horas depois da gestão do Novo Banco ter, no contexto de divulgação das contas anuais, passado uma imagem de normalidade, onde não mencionado o projecto. Decisão que se ficou a dever, segundo o presidente do Novo Banco, ao “respeito” por “um compromisso assumido” de dar em primeira mão a informação aos representantes dos trabalhadores.

 CT e sindicatos defendem nacionalização

A ronda de conversas entre gestão e trabalhadores surge num contexto particular de movimentações para travar a saída do Novo Banco do perímetro público. A CT e os sindicalistas da instituição defendem a nacionalização ou o seu controlo estatal, o que têm vindo a manifestar aos vários grupos parlamentares com os quais mantiveram reuniões, separadas, nas últimas semanas. Um membro da CT do Novo Banco que participou nos encontros revelou ao PÚBLICO que apenas “o CDS/PP se manifestou contra a solução, com o PSD a não tomar posição”. Já o BE e o PCP, como era esperado, “defenderam a nacionalização”, enquanto o PS “a admitiu caso não haja hipótese de vender a instituição em condições favoráveis”.

Nesta quinta-feira, o ministro-adjunto do primeiro-ministro, Eduardo Cabrita, reafirmou a intenção do Governo de vender o Novo Banco quando a instituição estiver “estabilizada”. Citado pela Lusa, o governante lembrou que o Novo Banco “é, neste momento, um banco de transição” e defendeu a “estabilização” da instituição “para permitir” a sua venda. “Temos de libertar recursos [financeiros] vendendo o Novo Banco nas melhores condições”, afirmou Eduardo Cabrita.

Na quarta-feira, Stock da Cunha não quis comentar esta possibilidade (que terá obstáculos de Bruxelas), tendo apenas garantido que independentemente do desfecho, manterá o foco em três objectivos: liquidez, capital e rendibilidade.  E lembrou que há tempo para concluir o processo de venda, que em Janeiro o Banco de Portugal deu por iniciado, pois este terá de estar concluído até Agosto de 2017.

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