Exigências da Áustria travam resposta comum à crise migratória na Europa

Líderes europeus vão reunir-se com a Turquia em Março, mas a Áustria e quatro países do Centro e do Leste não abrem mão das suas posições nacionais.

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O chanceler austríaco, Werner Faymann, foi acusado de "actuar para os tablóides" EMMANUEL DUNAND/AFP

O Governo da Áustria enfureceu muitos dos seus parceiros europeus na madrugada desta sexta-feira, no arranque da cimeira do Conselho Europeu, ao insistir na imposição de um limite ao número de migrantes e refugiados que está disposto a receber. A intransigência austríaca está a minar a iniciativa da Alemanha para se chegar a uma solução entre a UE e a Turquia para responder à crise de refugiados na Europa.

Como resultado da posição da Áustria, e de novas exigências da Hungria, da Polónia, da Eslováquia e da República Checa anunciadas quase em cima da hora da cimeira, as partes marcaram uma reunião com a Turquia para o início de Março.

"As actuações a solo não são recomendáveis", atirou um visivelmente exasperado presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.

Antes de quinta-feira esperava-se que as discussões sobre as políticas a implementar entre os países da UE, e depois com a Turquia, seriam mais pacíficas, mas o ambiente na reunião em Bruxelas aqueceu bastante por causa da intervenção do chanceler austríaco, Werner Faymann.

A agência Reuters cita alguns responsáveis de outros países da UE, não identificados, cujas palavras resumem o que se passou durante a noite: o comportamento de Viena "é o mesmo que mostrar o dedo do meio ao resto da Europa", e a actuação de Faymann "foi para os tablóides austríacos".

"Houve muito entendimento. Mas não podemos providenciar todo o asilo na Europa", desvalorizou o chanceler austríaco. A Áustria é a última paragem para as centenas de milhares de migrantes e refugiados que pretendem chegar à Alemanha, e na quarta-feira anunciou que irá repor barreiras na sua fronteira a Sul, com a Eslovénia.

Numa declaração, os líderes da UE salientaram que "a estratégia abrangente acordada em Dezembro só poderá dar resultados se todos os seus elementos forem concretizados em conjunto, e se todas as instituições e Estados-membros agirem unidos e em coordenação total".

Ainda assim, a chanceler alemã tentou salvar a noite com uma declaração em que salientou aquele que considera ser o aspecto positivo das conversações: "A declaração que importa para mim, hoje, é que não só reafirmámos o plano de acção UE-Turquia, como dissemos que é a nossa prioridade."

Mas um diplomata, citado pela Reuters sob anonimato, disse que o plano defendido por Merkel tem cada vez menos hipótese de se concretizar: "Merkel está completamente isolada, perdeu capital político. Os outros vão ficando cada vez mais impacientes a cada semana que passa."

Se não for possível concretizar um grande plano de acção entre todos os países da UE e a Turquia – com este país a servir de tampão para a chegada de mais migrantes e refugiados à Europa –, alguns países do Leste europeu avançam a proposta de blindar a Grécia, um plano que não caiu bem em Bruxelas e em Berlim.

Este plano B, sugerido pela Polónia, Hungria, Eslováquia e República Checa, levou o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, a fazer uma declaração dura: "Em primeiro lugar, temos de evitar uma batalha entre planos A, B e C. Não faz nenhum sentido, porque cria divisões entre a União Europeia."

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