Acordo para cessar-fogo na Síria

Bashar al-Assad decidido a recuperar o controlo da totalidade do país.

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Serguei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, e John Kerry, secretário de Estado norte-americano Christof STACHE/AFP

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, anunciou na madrugada desta sexta-feira que a comunidade internacional, Rússia incluída, chegou a um acordo “ambicioso” para um cessar-fogo na Síria dentro uma semana.

A declaração de Kerry foi feita numa conferência de imprensa ao lado do ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, após um encontro em Munique, na Alemanha, do Grupo Internacional de Apoio à Síria.

“Acordámos uma cessação das hostilidades em todo o país no prazo de uma semana”, disse John Kerry. O acesso à ajuda humanitária vai ser alargado a uma série de cidades.

Na Síria, Bashar al-Assad afirmou-se decidido a recuperar o controlo de todo o país, avisando que os combates podem ser “longos”. “Não é lógico dizermos que há uma parte do nosso território à qual vamos renunciar”, disse numa entrevista realizada pela AFP em Damasco na quinta-feira e que a agência começou esta sexta-feira à tarde a divulgar.

“Sejamos capazes ou não de o fazer, é um objectivo que procuraremos atingir sem hesitações”, respondeu, quando questionado sobre se considera ser possível que o seu regime volte a controlar a Síria.

O cessar-fogo dentro de uma semana anunciado na Alemanha acaba por ser uma solução de compromisso entre os norte-americanos, que desejavam que as hostilidades cessassem imediatamente, e os russos, que pretendiam uma trégua dentro de três semanas.

Este anúncio surge numa altura em que as forças do regime de Assad, com a ajuda da Rússia, estão a fechar um cerco a Alepo, a maior e mais estratégica cidade da Síria.

"O que temos aqui são palavras no papel. O que precisamos nos próximos dias é de ver acções no terreno", acrescentou o secretário de Estado norte-americano.

O acordo de cessar-fogo não se aplica aos bombardeamentos ao autoproclamado Estado Islâmico e à frente Al-Nusra (o braço sírio da Al-Qaeda). "A nossa força aérea vai continuar a trabalhar contra estas organizações", afirmou Serguei Lavrov. Os Estados Unidos e os aliados europeus dizem que poucos bombardeamentos russos atingiram estes grupos, com a maioria deles a serem destinados a grupos rebeldes que procuram derrubar o Governo de Bashar al-Assad, nota a Reuters.

Quem são as forças em combate na Síria

As negociações entre regime e oposição síria – interrompidas na semana passada na mesma altura em que o Exército sírio, com o apoio de milícias xiitas e da aviação russa, lançava uma grande ofensiva em Alepo devem “recomeçar assim que possível”, acrescentou Kerry.

Também na madrugada desta sexta-feira, o director da CIA, John Brennan, afirmou que os jihadistas do Estado Islâmico utilizaram já por várias vezes armas químicas em acções de combate e têm capacidade para fabricar pequenas quantidades de cloro e gás mostarda.

“Houve um certo número de vezes em que o grupo extremista Estado Islâmico utilizou armas químicas no campo de batalha” e a “CIA acha que o grupo tem capacidade de fabricar pequenas quantidades de cloro e gás mostarda”, afirmou em entrevista à estação televisiva CBS.

O acordo alcançado entre russos e norte-americanos prevê que as forças armadas no terreno permitam a chegada de ajuda às populações mais necessitadas, em particular nas zonas sob cerco. A partir do Grupo Internacional de Apoio à Síria foi criada uma equipa que tem a cargo o acesso humanitário: numa primeira reunião, em Genebra, os seus representantes pediram acesso "sem demora" às áreas sitiadas.

"Já submetemos um pedido de acesso às partes que estão em redor das áreas cercadas", disse num comunicado o presidente deste grupo, Jan Egeland, secretário-geral da ONG Conselho Norueguês para os Refugiados e conselheiro do enviado da ONU para a Síria, Staffan de Mistura.

A guerra na Síria já terá feito pelo menos 470 mil mortos e quase dois milhões de feridos, segundo o relatório de um instituto sírio publicado nesta quinta-feira.

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