Ordem dos Arquitectos contra volumetria de novo hotel no Funchal

Delegação madeirense lançou uma petição pública com o objectivo de reduzir a dimensão do projecto que, entende, vai colocar em causa a qualidade e o equilíbrio da capital do arquipélago.

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O célebre hotel do Funchal (ao centro, na linha de mar) foi demolido no meio de muita polémica em 2009 DR
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No lugar do Savoy, estão apenas parte das fundações do futuro hotel DR

A Delegação da Madeira da Ordem dos Arquitectos (OA) está a promover uma petição pública para levar ao parlamento regional o projecto de construção de um hotel no Funchal, argumentando que a volumetria prevista coloca em causa a “qualidade e o equilíbrio” da cidade.

Em causa, de acordo com o responsável pela OA no arquipélago, está o “impacto negativo” que o novo Hotel Savoy terá na capital madeirense, que tem no turismo a principal actividade económica. Não queremos, sublinhou Rui Campos Matos ao PÚBLICO, inviabilizar o projecto, o que pedimos é que a volumetria e o índice de construção sejam adaptados àquela zona da cidade.

Os promotores discordam desta visão, e afirmam que tudo está a ser feito de acordo com a lei. “Nós compramos um projecto licenciado, que está de acordo com os condicionamentos impostos pelo Plano de Pormenor definidos para aquela zona”, disse ao PÚBLICO Pedro Calado, administrador do Grupo AFA que, em Dezembro passado, adquiriu por 115 milhões de euros ao empresário Joe Berardo e aos herdeiros de Horácio Roque, a Siet Savoy, empresa que detinha aquele projecto e as unidades hoteleiras Royal Savoy e Savoy Gardens, também no Funchal.

O Grupo AFA desvaloriza a polémica em torno da dimensão da nova unidade de cinco estrelas, lembrando que o projecto estava parado desde 2009, altura em que o Hotel Savoy, uma das mais emblemáticas unidades hoteleira da cidade, foi demolido. “A cratera que ali existia, representava sim um grande impacto negativo para o Funchal”, diz Pedro Calado, lamentando que numa região com uma taxa de desemprego elevada não se elogie a coragem dos empresários que nela querem investir.

“A construção vai dar emprego directo a 350 pessoas durante três anos, e depois de concluído o hotel vai criar 200 novos postos de trabalho”, contabilizou, defendendo que estes números são demasiado importantes para serem ofuscados por questões subjectivas como são os gostos individuais de cada um. Estamos a falar, sublinha, de um projecto de 120 milhões de euros que se enquadra nos patamares de excelência que pretendemos para o turismo da cidade e da região. “Reformular o projecto implica pedir novas licenças, o que significaria um atraso na obra de três ou quatros anos”, acrescenta, frisando que esse caminho é insustentável. 

A nova unidade, que deverá ser inaugurada no final de 2018, tem 400 quartos, implantados numa área de 65 mil metros quadrados, em 16 pisos, mais três do que o anterior hotel.

Muito betão, no entender de Rui Campos Matos que, através da petição pública, quer pressionar a assembleia regional a “exigir” a redução do número de pisos, para minimizar o impacto na área envolvente. O arquitecto não questiona a legalidade do projecto, mas lamenta que os interesses da cidade tenham sido “sacrificados” por um plano de pormenor feito à medida de um investidor.

Projecto “à medida”
O dirigente da OA na Madeira lembra que o projecto foi aprovado há oito anos, na altura em que a autarquia funchalense era liderada por uma vereação do PSD, que tinha Pedro Calado como vice-presidente. “Foi feito contra os interesses da cidade, contra o Plano de Ordenamento Turístico e contra todo o bom senso”, acusa, lamentando a falta de interesse da população por esta questão. “Quando o hotel estiver de pé, é que vão ver o real impacto”, alerta.

A petição para a revisão da volumetria do novo Hotel Savoy do Funchal conta com cerca de mil subscritores, quando são necessárias duas mil assinaturas para o documento chegar ao parlamento madeirense. “Não são os governantes, nem os arquitectos que fazem as cidades, são os cidadãos, são as pessoas”, nota Rui Campos Matos, criticando o “desinteresse” da comunicação social local sobre o assunto.

Já Paulo Cafôfo, actual presidente da Câmara Municipal do Funchal, diz que foi a pensar nas pessoas que simplificou processos e procedimentos para o projecto avançar. O autarca, eleito por uma coligação de partidos que substituiu o PSD na autarquia, justificou na altura ao PÚBLICO a decisão com o impacto positivo que a obra terá na economia da cidade. “O que eu pedi, foi que o requinte e o classicismo do anterior Savoy, continuem nesta nova unidade”, explicou autarca, considerando “fundamental” para a cidade que o hotel seja construído. 

As forças políticas que sustentam a vereação liderada por Cafôfo estavam, há oito anos, contra a volumetria do projecto, e até críticaram a opção de demolir o icónico hotel. “Mais importante do que reflectir se o Savoy original deveria ou não ter sido demolido, importa olhar para o futuro e pensar que aquela cratera tem um impacto negativo muito forte numa zona nobre da cidade”, justifica o autarca funchalense.

A decisão de demolir o hotel com quase um século foi polémica. Motivou o despedimento colectivo de 95 trabalhadores e varreu da cidade uma unidade de hotelaria histórica. As obras do novo hotel começaram no ano seguinte, mas os trabalhos foram interrompidos em 2011 por falta de financiamento. Desde essa data que no coração da zona mais nobre do Funchal existe uma cratera com o tamanho de dois campos de futebol.

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