ONU condena Coreia do Norte por testar tecnologia balística

Conselho de Segurança está a trabalhar numa nova resolução com sanções "para além das expectativas de Kim Jong-un", após lançamento de foguetão que pode servir para testar tecnologia de mísseis balísticos internacontinentais capazes de chegar aos EUA

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Kim Jong-un a seguir a trajectória do foguetão, no exterior do centro de controlo, em imagens oficiais Kyodo/REUTERS

O Conselho de Segurança das Nações Unidas “condenou de veementemente” o lançamento de foguetão pela Coreia do Norte para pôr um satélite em órbita, um mês depois do que anunciou ser um ensaio de uma bomba de hidrogénio. Reunido de emergência em Nova Iorque, considerou que testes de “tecnologia balística contribuem para o desenvolvimento de sistemas de lançamento de armas nucleares, o que representa uma violação das sanções” em vigor desde 2006, quando Pyongyang realizou o seu primeiro teste de uma bomba nuclear.

Esta declaração foi adoptada de forma unânime, mas o objectivo é que o Conselho adopte “tão rapidamente quanto possível” uma nova resolução” com sanções que torne claro para Kim Jong-un que estas atitudes não serão permitidas, afirmou a embaixadora norte-americana nas Nações Unidas, Samantha Power. “Temos de ir além das expectativas de Kim Jong-un, de forma nenhuma isto pode ser business as usual. Por isso o Presidente Barack Obama falou com o Presidente Xi Jinping na sexta-feira, e ambos concordaram que é necessária uma acção decisiva internacional, incluindo uma resolução do Conselho de Segurança.”

A comunidade internacional, com os Estados Unidos à cabeça, receia as intenções bélicas de Kim Jong-un, receando que por trás deste lançamento esteja mais um teste para aperfeiçoar a tecnologia necessária para criar um míssil balístico intercontinental capaz de chegar aos Estados Unidos.

Com o lançamento do foguetão Unha-3, os norte-coreanos dizem ter colocado em órbita o satélite de observação da Terra Kwangmyongsong-4 (Estrela Polar), que agora completa uma volta à Terra a cada 94 minutos. Segundo Pyongyang, tem equipamentos de medição de vários parâmetros e de comunicação, diz o Washington Post e é um modelo mais recente do que aquele que foi lançado para o espaço em Dezembro de 2012 – e do qual nunca foi detectada nenhuma actividade.

“O sucesso de hoje é um orgulhoso resultado de um trabalho científico e um exercício do nosso legítimo direito ao espaço”, disse Ri Chun-hee, a apresentadora de notícias mais famosa da televisão norte-coreana, recuperada da reforma para anunciar o ensaio nuclear do mês passado e, agora, o lançamento do Unha-3. O teste foi pessoalmente ordenado por Kim Jong-un, disse Chun-hee.

Mas para os líderes ocidentais, estas palavras escondem as verdadeiras intenções do regime norte-coreano. “Ouviram classificar o lançamento como um acto provocatório, mas isto não é apenas uma provocação. Com este lançamento, a Coreia do Norte está a avançar no conhecimento da tecnologia necessária para construir mísseis balísticos – e não podemos permitir que isso aconteça”, avançou Samantha Power.

À espera do congresso
Tanto este lançamento como o teste nuclear de 6 de Janeiro são vistos pelos especialistas em Coreia do Norte como medidas de afirmação do jovem líder Kim Jong-un, de 33 anos, antes do congresso do partido único, convocado para Maio – o primeiro desde 1980. A embaixada da Coreia do Norte em Moscovo anunciou numa declaração citada pela agência russa Interfax que o país continuaria a lançar satélites.

A China, o principal aliado da Coreia do Norte e com direito de veto no Conselho de Segurança, mostrou-se pouco satisfeita, em sintonia com o discurso de que está em causa uma tecnologia com duplas potencialidades. “ A China lamenta a insistência da Coreia do Norte em avançar com o lançamento da tecnologia de mísseis, apesar da oposição internacional”, afirmou Hua Chunying, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.

Numa primeira reacção prática, o Ministério da Defesa de Seul anunciou a abertura de conversações oficiais com os Estados Unidos para a instalação na Coreia do Sul de um sistema de defesa antimíssil norte-americano destinado a enfrentar a ameaça de Pyongyang – ao qual a China e a Rússia se opõem firmemente.

A perspectiva de instalar na Coreia do Sul um sistema THAAD (Terminal High Altitude Area Defense), um dos mais avançados do mundo, tem sido regularmente evocada ao longo dos últimos anos. Para Washington, que tem na Coreia do Sul 28.500 soldados norte-americanos, é uma arma de dissuasão essencial para fazer frente ao desenvolvimento de mísseis balísticos da Coreia do Norte.

Mas Pequim e Moscovo não gostam da ideia de ter um sistema de radar capaz de penetrar no seu território, e afirmam que se trata de uma ameaça à estabilidade da região, susceptível de provocar uma corrida ao armamento.

No Ocidente, o acto da Coreia do Norte provocou quase uma competição de adjectivos entre líderes mundiais. Londres condenou-o “firmemente”, o secretário de Estado norte-americano John Kerry denunciou “uma violação flagrante” das resoluções da ONU impostas em 2006 para limitar o programa nuclear norte-coreano, que interditam ensaios de mísseis. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, classificou o lançamento como “profundamente deplorável”, Tóquio como “absolutamente intolerável”, Moscovo como um acto “muito danoso”. Paris exigiu “uma reacção rápida e severa da comunidade internacional”, reclamou “medidas punitivas fortes” e o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, apelou a que Pyongyang “se abstivesse de quaisquer novas acções provocadoras”.

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