Eleições federativas do PS são teste à liderança de António Costa

As principais distritais estão com o secretário-geral, mas a ala segurista não vira as costas a mais um combate que tem no horizonte as autárquicas de 2017.

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Capoulas dos Santos, o único ministro presidente de uma federação, não se recandidata em Évora Miguel Manso

As eleições federativas do PS de 4 e 5 de Março e duas semanas depois os congressos das federações são um teste ao secretário-geral, que soma três derrotas desde que assumiu as rédeas do partido: legislativas, eleições na Madeira e presidenciais. As lideranças das 19 distritais vinham de António José Seguro e António Costa precisa de ganhar porque em 2017 o poder local vai a votos e o PS quer conquistar mais câmaras.

As distritais de Aveiro, Braga, Porto, Lisboa e Setúbal estão com o secretário-geral, mas a facção segurista, a que já chamaram o “sexto grupo parlamentar” por ter 15 deputados, concorre em Beja, Coimbra, Leiria, Santarém, Viseu e Vila Real. E pode haver mais. A candidatura do actual presidente da Câmara de Viana do Castelo, o segurista José Mário Costa, estava em cima da mesa no final da semana, Ao PÚBLICO, o autarca disse estar a ponderar a candidatura, alegando que não serve o projecto de Miguel Alves. A ala segurista ainda não se recompôs das escolhas para a lista de deputados por Viana - que viria a ser avocada por António Costa – e procura uma ”figura que seja consensual que garanta a pacificação do partido”. Segundo José Mário Costa, “a candidatura de Miguel Alves [presidente da Câmara de Caminha e apoiante de Costa] não representa esse esforço de convergência”.

Dos quatro membros do Governo disponíveis para ir de novo a votos, apenas dois - Pedro Nuno Santos, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, e Marcos Perestrello, secretário de Estado da Defesa –recandidatam-se O primeiro vai disputar o quarto mandato na distrital de Aveiro, e Perestrello é de novo candidato à Federação da Área Urbana de Lisboa (FAUL).

Fora da corrida estão José Luís Carneiro, presidente da distrital do Porto e secretário de Estado das Comunidades, e Carlos Miguel, líder da Federação Regional do Oeste (FRO) e secretário de Estado das Autarquias Locais.

Apoiante incondicional do líder do partido, Capoulas Santos, o único ministro do Governo que preside a uma distrital – Évora -, não se recandidata. Na corrida à sucessão estão Norberto Patinho e Florbela Fernandes, ambos apoiantes de António Costa.

Norberto Patinho, que assumiu o lugar de deputado com a saída de Capoulas para o Ministério da Agricultura, diz que a sua candidatura “surge de forma natural, com um apoio de retaguarda das figuras históricas”, mas também de “muita gente nova”. À Lusa, afirma que está em condições de promover uma “renovação natural e equilibrada, sem colocar de lado aqueles que são uma referência para o PS” e promete empenhar-se no apoio ao Governo. Quanto ao desafio das autárquicas, promete um virar de página e acredita que o PS será um “partido ganhador”, em termos do número de câmaras.

A dirigente Florbela Fernandes mostra-se empenhada em “unir o partido em torno de um projecto político de transição intergeracional”. Para isso, conta com todos, até porque – sublinha – “o partido tem pessoas com muitas capacidades e competências, que estão disponíveis para se dedicar ao trabalho político e que querem poder ter uma palavra a dizer sobre os destinos do PS”.

Três listas no Algarve?
Se em Évora o confronto é entre apoiantes de Costa, em Coimbra, o combate vai ser entre dois seguristas: o deputado Pedro Coimbra e o ex-parlamentar Victor Baptista, um dos dinamizadores do jantar da Mealhada, que juntou apoiantes de Seguro e no qual Francisco Assis mostrou disponibilidade para fundar uma tendência de oposição à actual linha de orientação do partido. Havia muita expectativa ao encontro da ala segurista, mas a mobilização não foi a que se esperava e Assis não deixou de dizer que se sentiu um pouco sozinho, embora tenha frisado que “em muitos” militantes e dirigentes do PS sentiu uma visão “não dogmática” sobre o acordo da esquerda. Recentemente, a propósito das presidenciais, Francisco Assis foi arrasador para a direcção do PS, reafirmando a sua oposição ao caminho seguido por António Costa. Para já, não avança, mas deixa a promessa de que falará sempre que o entender.

Também na Guarda, a distrital será disputada por dois apoiantes de Seguro: Eduardo Brito, ex-presidente da Câmara de Seia, e António Saraiva. Em Leiria, há dois parlamentares na corrida para suceder ao também deputado José Miguel Medeiros: o segurista António Sales e Odete João, próxima de Costa.

Ao PÚBLICO, António Sales mostra-se confiante e espera que, desta vez, haja um “combate leal e urbano”, numa alusão ao facto de nas últimas eleições federativas ter perdido por sete votos (o caso está ainda em tribunal). Quanto ao facto de haver mais do que uma candidatura, diz que isso “reflecte a diversidade do PS”. Já Odete João revela que decidiu avançar após uma “séria reflexão”. A deputada acredita “estar em condições de assegurar a democraticidade da prática interna, de reforçar a coesão das estruturas do partido e de mobilizar todos os militantes em torno de um novo projecto político no respeito pleno dos valores e princípios socialistas”. A sua moção de estratégia será apresentada dentro de dias e dela constarão muitos dos contributos dos militantes.

Sem adversários, estão, para já, Pedro Nuno Santos (Aveiro), Manuel Pizarro, (Porto), Joaquim Barreto (Braga), Bragança (Carlos Guerra), Castelo Branco (Hortense Martins), Pedro Carmo (Beja), António Mendes (Setúbal), Luís Testa (Portalegre), António Gameiro em Santarém, António Borges (Viseu) e Francisco Rocha (Vila Real). Em contrapartida, a distrital algarvia adivinha-se mais disputada. O deputado e ex-presidente da Câmara de São Brás de Alportel, António Eusébio, está na corrida, mas há quem esteja a contar espingardas. O ex-homem forte de Seguro no Algarve, Miguel Freitas, admite avançar, contra Eusébio (que esteve com Costa nas primárias), mas a candidatura está dependente de alguns contactos. A sua grande bandeira é o reforço das políticas regionais. Se a candidatura de Miguel Freitas abortar, perfila-se António Pina, presidente da câmara de Olhão.

Por fim, Nuno Cruz Inácio, especialista na área da comunicação política, candidata-se à presidência da FRO, estrutura que dentro de dois anos será integrada pela FAUL. 

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