Brasil mobiliza tropas para combater o mosquito que transmite o Zika

Acção surge no momento em que as críticas à inacção do governo brasileiro contra a propagação do Zika se avolumam

Foto
A meta da campanha militar é chegar a três milhões de residências Ueslei Marcelino/Reuters

O Brasil fez uma declaração de guerra esta semana. O “inimigo número um do país”, como lhe chamou o ministro da Saúde, Marcelo Castro, é o mosquito Aedes aegypti, responsável pelas epidemias de Zika e dengue que assolam o Brasil. O ministro da Defesa acaba de anunciar uma acção militar contra o Aedes para o próximo dia 13 de Fevereiro, que mobilizará 220 mil tropas do Exército, Marinha e Força Aérea.

O objectivo é informar a população sobre métodos de prevenção contra a proliferação do mosquito, que se reproduz em focos de água limpa e parada. Estima-se que 80% dos viveiros deste mosquito se encontram dentro das casas das pessoas, como pratos de vasos de plantas ou garrafas de água destapadas.

A meta da campanha militar, que basicamente consiste na distribuição de folhetos educativos porta-a-porta, é chegar a três milhões de residências localizadas nas grandes capitais estaduais e em três centenas de municípios mais afectados pelo vírus responsável por uma das maiores crises de saúde do Brasil nas últimas décadas. O contingente militar que vai participar dessa acção de combate ao Aedes representa 60% das Forças Armadas brasileiras. Numa segunda etapa, entre 15 e 18 de Fevereiro, 50 mil militares irão acompanhar técnicos de saúde pública para inspeccionar e erradicar eventuais focos de proliferação do mosquito.

Desde Dezembro que o exército brasileiro foi mobilizado para combater o Aedes, mas com uma participação de menor escala e mais localizada. A mobilização agora anunciada é a primeira acção com um carácter nacional e surge no momento em que as críticas à inacção do governo brasileiro contra a propagação do Zika se avolumaram. Na segunda-feira o ministro da Saúde Marcelo Castro admitiu que o país “está a perder feio a guerra” contra o Aedes, uma declaração que, segundo a imprensa brasileira, incomodou a Presidente Dilma Rousseff por soar como uma derrota do governo.

Não há dados precisos sobre o número de brasileiros infectados com este vírus – entre meio milhão e um milhão e meio, segundo as estimativas. Mas o dado mais alarmante é o aumento substancial de recém-nascidos com microcefalia, uma malformação em que os bebés nascem com cérebros e cabeças abaixo da média. Mulheres picadas pelo Aedes e infectadas com o Zika, em particular durante os primeiros três meses de gravidez, parecem ter uma maior probabilidade de terem bebés com microcefalia. O Ministério da Saúde brasileiro já confirmou a existência de uma ligação entre a microcefalia e o Zika, embora vários especialistas alertem para a necessidade de mais estudos.

Até 2014, o Brasil tinha uma média de 150 casos de microcefalia por ano. De Outubro de 2015 até ao momento, o número de casos confirmados chegou aos 270, segundo o mais recente boletim do Ministério da Saúde, divulgado esta quarta-feira. No entanto, só seis dos 270 casos têm uma relação comprovada com o Zika. Outros 3.448 casos suspeitos de microcefalia foram notificados, mas ainda estão por apurar.

O Zika deixou de ser uma crise brasileira no último mês: propagou-se por toda a América Latina. Na quarta-feira, a Presidente Dilma Rousseff, que se encontrava no Equador para participar numa cimeira de países latino-americanos e caribenhos, anunciou que os ministros da Saúde do Mercosul irão reunir-se na próxima semana  no Uruguai para discutir medidas de combate ao Aedes e ao vírus Zika. Segundo a Folha de S. Paulo, Dilma afirmou que considera participar pessoalmente no encontro por causa da importância do tema. Questionada sobre a declaração do seu ministro da Saúde de que o país “está a perder feio” a luta contra o Aedes, Dilma respondeu que ele quis dizer foi que “se a população não participar, nós perdemos essa guerra”

O ministro da Saúde, Marcelo Castro, anunciou no início desta semana que o governo vai distribuir gratuitamente repelentes às 400 mil mulheres grávidas que beneficiam do programa Bolsa Família. Mas a medida foi anunciada antes de ser discutida com fabricantes e de saber se estes têm capacidade para fornecer a quantidade pretendida sem comprometer o mercado. No início de Dezembro, o ministro já tinha anunciado uma medida idêntica, garantindo que os repelentes seriam produzidos pelo laboratório farmacêutico do exército. No dia seguinte, o exército esclareceu que não tinha capacidade para uma produção de tão grande escala. 

Sugerir correcção
Comentar