Trump e Sanders deixam Michael Bloomberg de olho na Casa Branca. Outra vez

Multimilionário e antigo mayor de Nova Iorque admite candidatar-se como independente, incomodado com o sucesso de candidatos fora do sistema.

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Bloomberg foi mayor de Nova Iorque 12 anos e é um dos homens mais ricos do mundo Stephane Mahe/Reuters

Quando já poucos esperavam mais alguma surpresa na atribulada corrida à presidência dos Estados Unidos em 2016, o multimilionário Michael Bloomberg decidiu espalhar a ideia de que poderá surgir à última hora como uma alternativa, principalmente se o magnata Donald Trump e o senador Bernie Sanders continuarem a pôr em causa as linhas tradicionais do Partido Republicano e do Partido Democrata.

A notícia foi avançada este sábado pelo New York Times, que cita depoimentos atribuídos a amigos e conselheiros do antigo mayor de Nova Iorque, todos a coberto do anonimato.

Segundo os jornalistas, Bloomberg não fala publicamente sobre o assunto porque está "irritado" com a imagem que o eleitorado tem dele – a de um eterno possível candidato que acaba por nunca concorrer. O que fica por explicar é se a notícia do New York Times, mesmo sendo feita com base em fontes anónimas, não terá o mesmo resultado junto do eleitorado se o multimilionário não avançar.

Apesar de não ter a popularidade do magnata do imobiliário e estrela da televisão Donald Trump, Michael Bloomberg é ainda assim uma das figuras mais conhecidas no mundo dos negócios e da política nos EUA – em 2015 era o 14.º mais rico do mundo, com uma fortuna estimada em 35,5 mil milhões de dólares na tabela da revista Forbes (Trump era 405.º, com quatro mil milhões de dólares), e foi mayor de Nova Iorque durante três mandatos consecutivos, entre 2002 e 2013.

A acreditar nos conselheiros ouvidos pelo New York Times – e numa outra fonte anónima citada mais tarde pela CNN –, a ideia de Michael Bloomberg é entrar na corrida à presidência dos EUA como terceiro candidato, contra os nomeados pelo Partido Republicano e pelo Partido Democrata.

Mas (e este é um daqueles enormes "mas"), em princípio só admite candidatar-se se tudo indicar que os eleitores norte-americanos terão mesmo de escolher entre Donald Trump ou Ted Cruz, que lideram as sondagens no Partido Republicano, e Bernie Sanders, que já esteve mais distante da favorita Hillary Clinton na corrida do Partido Democrata.

Apesar de aquela conjugação ser pouco provável, a verdade é que até ao início do Verão do ano passado era quase certo que a Casa Branca seria disputada pelo antigo governador da Florida Jeb Bush e pela antiga secretária de Estado Hillary Clinton – e, antes disso, Clinton chegou mesmo a ser vista como imbatível fosse qual fosse o cenário.

Com o passar dos meses, principalmente desde a entrada em cena de Donald Trump, em Junho do ano passado, a corrida à Casa Branca no Partido Republicano transformou-se numa montanha-russa que a direcção do partido – mais tradicional e preocupada em não alienar o centro –, nunca mais conseguiu controlar. Do outro lado, no Partido Democrata, a recente ascensão do senador Bernie Sanders – também ele visto por alguns como um radical, mas de esquerda – tem preocupado os sectores políticos mais tradicionais.

É aqui que entra Bloomberg, de 73 anos, membro do Partido Democrata durante a maior parte da sua vida, eleito pelo Partido Republicano nos dois primeiros mandatos em Nova Iorque, e reeleito em 2009 já como independente.

Ainda que seja menos provável, os mais próximos do antigo mayor dizem que ele poderá avançar mesmo que Hillary Clinton confirme o seu favoritismo no Partido Democrata, por considerar que a antiga secretária de Estado tem "guinado demasiadamente à esquerda" para poder dar resposta aos indecisos que pensam votar em Bernie Sanders.

De acordo com o New York Times, Bloomberg "já deu passos concretos em relação a uma possível campanha, e disse a amigos e aliados que estaria disposto a gastar pelo menos mil milhões de dólares da sua fortuna pessoal". Segundo a CNN, o multimilionário "está a considerar seriamente a possibilidade de uma candidatura independente, e pretende tomar uma decisão em Março" – a data considerada limite para que um candidato independente possa aparecer nos boletins de voto em todos os estados.

Uma possível candidatura por fora de Michael Bloomberg teria de ultrapassar um outro obstáculo, para além do aparente fascínio de uma importante parte do eleitorado com Trump e do peso de Hillary Clinton – nunca na História dos EUA a Casa Branca foi ocupada por um candidato independente.

A questão que os analistas políticos vão agora debater é quem seria mais penalizado com a entrada de um terceiro candidato na corrida, principalmente com o peculiar posicionamento político de Michael Bloomberg – por um lado mais radical do que Barack Obama no controlo de armas e defensor do direito ao aborto, e por outro muito próximo de Wall Street.

A possível entrada em cena de Bloomberg foi discutida na semana passada, durante uma entrevista a Donald Trump ao programa This Week, da ABC News. Como seria de esperar, o magnata não tem dúvidas sobre quem sairia a perder: "Se o Michael entrar, vai tirar muitos votos à Hillary. Sabe porquê? Armas. O Michael é um forte opositor das armas e eu sou um grande defensor."

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