Acções da Mota-Engil perdem um quinto do valor em cinco horas

CMVM proibiu as vendas a descoberta após desvalorização de 18,59% das acções da construtora, por razões que a administração diz desconhecer.

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Gonçalo Moura Martins, CEO da Mota-Engil Fernando Veludo/NFACTOS

As acções da Mota-Engil têm acumulado perdas desde o início do ano, mas na sessão de ontem, em cerca de duas horas, desvalorizaram 22%, o que levou a Comissão do Mercado de Valores Mobiliário (CMVM) a suspender a negociação para esclarecimento ao mercado. O comunicado da administração, divulgado ao início da tarde, não conseguiu reverter a queda, que terminou em 18,59%, com cada acção a valer 1,174 euros.

O fecho em forte baixa, como uma liquidez elevada - 3,4 milhões de títulos negociados - acabou por determinar a proibição da negociação das vendas a descoberto - venda de títulos com recurso a empréstimo, na perspectiva de recompra a um preço mais baixo, ganhando com a diferença. A decisão do supervisor é válida para toda a sessão de hoje e é justificada com o facto da flutuação do preço das acções em causa não “excluir a ocorrência de um fenómeno de especulação com impacto negativo”.

Desde o início do ano, a construtora já desvalorizou 39%, o que corresponde a uma perda 178 milhões de euros na sua capitalização bolsista, que está agora em 278 milhões de euros. O ambiente negativo dos mercados financeiros, influenciados por nova queda do preço do petróleo, agora abaixo dos 30 dólares (ver caixa) e numa altura em que alguns investidores internacionais parecem estar de saída da bolsa de Lisboa, na sequência do aumento do risco do país, podem explicar alguma pressão sobre os títulos, sentida, em menor percentagem noutras cotadas portuguesas, com destaque para o sector da banca.

No comunicado, a administração começa por afirmar “que desconhece qualquer facto que possa minimamente justificar o comportamento” das suas acções. Mas o texto divulgado pretende tranquilizar os investidores em relação a preocupações que não são novas: o elevado endividamento do grupo (1600 milhões de euros de dívida líquida, dados Setembro) e a exposição a África (33% das receitas).

Respondendo a essas preocupações, a administração começou por dar conta, preliminarmente, que durante o quarto trimestre registou “transversalmente nas três regiões (Europa, África e América Latina) um fluxo positivo em termos de recebimentos que permitiu a redução assinalável dos níveis consolidados de endividamento entre final de Setembro e final de Dezembro”.

Em resposta à forte dependência de África, destaca “o aumento assinalável da actividade na América Latina, que, pela primeira vez, em Novembro, ultrapassou em volume de negócios a região de África”.

No comunicado, a construtora destaca que, “em paralelo com esta performance, o grupo tem implementado a política de refinanciamento da sua dívida em linha com o seu plano, com várias operações concluídas durante o quarto trimestre de 2015 e já durante os primeiros dias de 2016, política essa que tem como objectivos centrais a redução do custo e o aumento da maturidade média”.

A exposição a Angola, economia fortemente dependente das receitas do petróleo, é uma das razões apontadas para a forte desvalorização do título. Mas a preocupação dos investidores pode ir para além disso. Depois de ter retirado a Mota-Engil África de bolsa, por maus resultados da operação de cisão e dispersão de capital na bolsa de Amesterdão, corre no mercado a informação de que a empresa tem em curso uma reorganização mais profunda dos negócios naquela geografia, o que poderá indiciar uma reversão na aposta estratégica em África.

No comunicado, a construtora refere que “a adaptação ao contexto externo tem obviamente também consequências em termos organizativos, estando neste momento a ser preparada uma alteração orgânica e de gestão ao nível das subholdings que apoiam na coordenação da actividade de cada uma das referidas regiões, de que se destaca a de África, no sentido de alinhar ainda mais os objectivos do grupo com a realidade e contexto específicos dos mercados”. Contactado pelo PÚBLICO, fonte oficial da construtora garantiu que se trata de uma reorganização operacional, sem implicações ao nível da estratégia definida.

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