Nóvoa escreve “carta aberta aos socialistas” e tem casa cheia a norte

Candidato recorda queixas de pescadores da Póvoa após um naufrágio por não terem recebido qualquer mensagem de Belém.

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Marco Duarte

Sampaio da Nóvoa decidiu escrever uma “carta aberta aos socialistas”, onde afirma a ideia de que estas são eleições “decisivas”. “Vivemos mesmo num novo tempo”, garante na missiva, divulgada em primeira mão pelo PÚBLICO, onde escreve que o Presidente se deve rever “na extraordinária herança política dos dois presidentes originários do Partido Socialista, Mário Soares e Jorge Sampaio” e ser “um promotor de compromissos e de unidade do país”.

“Por tudo isto, não é indiferente a nossa escolha no próximo dia 24. Não podemos arriscar uma linha de continuidade com o que aconteceu na Presidência na última década. Não podemos arriscar eleger, uma vez mais, alguém que não se comprometa diariamente com o SNS e com a Escola Pública, com a protecção social e com a igualdade”.

Com “todo o respeito e humildade democrática”, Nóvoa termina a carta a pedir aos militantes e simpatizantes do PS “um voto de confiança”.

Críticas a Cavaco
No comício da noite desta sexta-feira, em Matosinhos, que juntou mais de 1300 pessoas no Centro de Desportos e Congressos, uma das passagens mais fortes do discurso de Sampaio da Nóvoa foi destinada a Cavaco Silva. “Acusam-me de ser vago quando prometo ser um Presidente próximo das pessoas. Não há nada como explicar aqui, numa zona que sabe pela dor pesada da experiência o que é a vida dura dos pescadores, o que quero dizer”, começou, para relatar, de seguida, a uma experiência pessoal na pré-campanha.

“Faz agora três meses, vim aqui perto, à Póvoa de Varzim. Foi uma semana depois de um brutal acidente ter levado a vida de vários pescadores num naufrágio na Figueira da Foz. Ouvi a voz de revolta dos pescadores e a sua mágoa sentida por, no meio de tanta dor e sofrimento, não terem recebido um telegrama, uma mensagem ou uma demonstração de simpatia por parte do actual Presidente. Nem um telefonema. Uma Presidência de proximidade nunca se esquece das pessoas.”

Assim que entrou no pavilhão do Centro de Desportos e Congressos de Matosinhos, acompanhado por Augusto Santos Silva, Manuel Pizarro e Guilherme Pinto – um trio de peso do PS nortenho –, Sampaio da Nóvoa anunciou: “É para ganhar.” Nesta altura, os mais de 1300 apoiantes faziam-se ouvir. Este foi o maior, e o mais interclassista, de todos os comícios da campanha.

“Olhem bem à vossa volta. Este é o sinal da vitória”, começou por exclamar o autarca de Matosinhos, Guilherme Pinto, da tribuna. Traduzido para língua gestual, o entusiasmo de Pinto ainda ganhou mais ênfase. Depois seguiu-se o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva. Num tom bastante diplomático, sem “malhar” muito na direita, o ministro ironizou. “Eu confio em António Sampaio da Nóvoa. Sei o que ele pensa. À segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado e domingo. E sei que ele não é ao mesmo tempo da chuva, do sol e do nevoeiro. Uma campanha para Presidente não é para saber quem entra mais à vontade nos cafés e na pastelaria.”

Sampaio da Nóvoa reclamou a importância desta eleição, que tem andado longe dos níveis de atenção de campanhas anteriores. “Instalou-se numa parte do país a ideia de que as eleições presidenciais não contam para nada. Que já está tudo decidido. Que há muito pouco em causa. Que o que está em causa não é ameaçado por ninguém. Desculpem, mas não entro nesta onda. Nada está decidido, porque quem decide somos nós.”

E partiu para o maior ataque, até agora, ao mandato de Cavaco Silva: “Lembrem-se dos últimos dez anos. Agora comparem o mandato do actual Presidente da República, que foi apoiado por um dos outros candidatos, com os mandatos dos três presidentes que apoiam esta candidatura. Comparem o prestígio que tinha a Presidência com o que tem agora. “

Para Nóvoa, a diferença está no “compromisso com a Constituição”. “Como os últimos meses também demonstraram, o Presidente da República não pode ser agente perturbador da vontade dos cidadãos, quando esta contraria os seus desejos pessoais ou da sua família política”, sublinhou, para acrescentar que estas eleições “vão moldar o país que vamos ter na próxima década”. “Por que razão entregaríamos durante 20 anos a Presidência a uma linha política que a conduziu aos seus piores momentos? 10 anos é muito tempo. 20 anos seria tempo a mais.”

Falando do seu percurso como professor, Nóvoa terminou o seu discurso  garantindo que é um “acto político” a eleição de um “cidadão Presidente”, que pela primeira vez nos últimos 30 anos não provém dos partidos.

Também por isso, e recebendo o apoio de dirigentes do PS, Nóvoa decidiu escrever uma “carta aberta aos socialistas”, divulgada em primeira mão pelo PÚBLICO. Repetindo a ideia de que estas são eleições “decisivas”.

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