Sampaio da Nóvoa: Como levar o “tempo novo” para Belém?

Ramalho Eanes vai estar ao lado de Nóvoa esta terça-feira em Castelo Branco. A candidatura arranca com um orçamento de pequenos donativos individuais e dois mil voluntários espalhados pelo país

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O professor tem 50 sedes, muitas cedidas por apoiantes Guilherme Marques

António Sampaio da Nóvoa chega, de gabardina azul, à antiga garagem da sua sede de campanha, agora transformada em auditório. A sua cara está nos cartazes, que forram as paredes. Há uma animação pouco habitual na sede.

Um casal de Vila Real está ali a recolher materiais de campanha para os 15 dias que faltam até ao dia das eleições. Um sprint final numa autêntica maratona, que começou no dia 29 de Abril, há mais de oito meses. Nessa altura, o actual auditório, com cadeiras desdobráveis e o acrónimo SNAP (Sampaio da Nóvoa a Presidente), era uma vulgar garagem de um armazém do início do século, com vigas de madeira no telhado. O sítio onde estacionava a carrinha de sete lugares que utiliza desde que é candidato.

Marcelo Rebelo de Sousa viu sair “seis assessores” da viatura, e disso deu conta no debate da SIC, na quinta-feira, ilustrando assim a sua acusação de despesismo. Mas os seis acompanhantes de Nóvoa na estação de televisão não eram, exactamente, assessores. Pedro Delgado Alves, Pedro Sales e Ana Catarina Santos ainda podem caber nesse conceito, dado que o primeiro dirige os conteúdos políticos da campanha e os segundos a estratégia de comunicação. Mas o candidato estava acompanhado, também, por dois amigos, Manuel Lisboa e Lúcia Amante, ambos professores universitários, que integram a comissão executiva da candidatura. O debate correu bem a Nóvoa, e isso nota-se na sede. Estavam a ver 1,3 milhões de portugueses, segundo os números das audiências.

David Xavier, o mandatário financeiro da candidatura, conduzia o seu carro na noite de quinta-feira e, assim que o debate acabou, começou a receber notificações do banco: “Até à meia-noite entraram 10 donativos.” O normal é que isso aconteça ao longo de um dia inteiro, e não em poucas horas. Eram donativos pequenos, “de 10 ou 20 euros”, mas é deles que vive a “máquina” da candidatura. Aliás, o maior donativo recebido até agora, segundo Xavier, foi de mil euros, bastante longe dos 25 mil que a lei estipula como valor máximo. No total, entraram na campanha até agora cerca de 500 donativos individuais.

Pedro Sales também tem contas a fazer ao pós-debate: mil novos “likes” na página do candidato no Facebook. A página tem agora 27 mil “gostos”.

Muito do trabalho de convencimento ainda se faz num ambiente pré-redes-sociais. Milhares de folhetos e postais, 175 outdoors, muitas bandeiras são a principal fatia dos 600 mil euros que a candidatura prevê gastar. E muita mobilização invisível, mas real, de pessoas. Marta Loja Neves está ao telefone. É ela que ajuda a dinamizar os “voluntários” do distrito de Lisboa – o grupo de pessoas que mostrou vontade de ajudar Sampaio da Nóvoa a disputar a Presidência. Marta é, como quase toda a gente que está na sede, ela própria uma voluntária. Só cinco pessoas recebem salário em toda a estrutura. Haverá, segundo David Xavier, “cerca de duas mil pessoas” a trabalhar na candidatura em todo o País.

Nóvoa tem perto de 50 sedes locais, das quais apenas quatro pesam no orçamento da campanha. As outras foram cedidas por apoiantes. “Esta é uma campanha diferente”, explica o mandatário, que foi dirigente estudantil e é administrador dos serviços de acção social da Universidade de Lisboa.

Começa por ser “diferente” por partir de um candidato independente e sem experiência política – Nóvoa nunca foi autarca, deputado ou governante. Continua “diferente” por não ter apoios partidários (apenas dois partidos extra-parlamentares apelaram ao voto em Nóvoa: o Livre e o PCTP/MRPP). E mantém-se “diferente” por, apesar de tudo, ser reconhecível como a candidatura que congrega mais apoios na direcção do PS.

Na sede estão alguns apoiantes com experiência em Belém. José Manuel dos Santos, que foi consultor dos Presidentes Soares e Sampaio veio para uma reunião. Pedro Reis, que foi o organizador das célebres “Presidências abertas” de Soares, e que se manteve na Casa Civil de Jorge Sampaio, com os assuntos regionais, é outro dos colaboradores da primeira hora de Nóvoa.

Se há um apoiante que tem uma importância determinante nesta candidatura é António Ramalho Eanes, o primeiro Presidente eleito em democracia. Além do peso simbólico, e político desse apoio, Eanes ajudou a reunir à volta de Nóvoa vários apoios de militares. Na próxima terça-feira, no distrito de Castelo Branco, Eanes vai entrar na campanha, ao lado de Nóvoa.

Será assim, também, em Viseu, de onde é natural o mandatário nacional, António Correia de Campos.

Na política, além de vários ministros e figuras próximas de António Costa – como o deputado Pedro Delgado Alves, que é o director político da campanha – Nóvoa procurou reunir apoios de “diferentes sectores da esquerda”, como salienta Pedro Sales. Carvalho da Silva, ele próprio um “presidenciável”, foi um dos mais recentes.

O objectivo, nestes 15 dias finais, é garantir que haverá uma segunda volta. E que o candidato que fará frente a Marcelo Rebelo de Sousa, nessa hipótese, é Nóvoa. Para isso, a candidatura joga em duas frentes: convencer o máximo de eleitores de que é a melhor colocada para enfrentar Marcelo e, ao mesmo tempo, esperar que os restantes oito candidatos consigam reunir o número suficiente de votos para deixar Marcelo abaixo dos 50%. Para isso, a candidatura vai insistir na ideia que um “tempo novo”, em que as soluções governativas se abrem, deve ter em Belém um “novo Presidente”, que não é uma das figuras do regime. Para isso, Pedro Sales, que trabalha as declarações políticas do candidato, identifica “três bloqueios” que Nóvoa quer ultrapassar: “Um económico, com a aposta na qualificação, um social, com o combate às desigualdades, e um institucional, com a abertura à participação.”

A campanha começa este domingo, 10. Será a segunda volta a Portugal do candidato.

 

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