Mulher com cancro terá envenenado filho de 11 anos

Dois corpos encontrados na madrugada desta quarta-feira. Mulher com cerca de 50 anos estava desempregada e doente e ter-se-á suicidado após envenenar o filho. Deixou vários manuscritos a justificar os actos ocorridos na pequena vila da Ponta do Sol, na Madeira.

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Caso está a chocar a população da Ponta do Sol, na costa sul da Madeira Carlos Lopes/Arquivo

Uma mulher com cerca de 50 anos, doente oncológica e desempregada, terá envenenado o filho de 11 e ter-se-á suicidado, igualmente através da ingestão de um produto tóxico. Os dois corpos foram encontrados na madrugada desta quarta-feira, no sítio do Lombo de São João, Ponta do Sol, na Madeira, por um familiar que alertou as autoridades.

Mãe e filho foram encontrados por volta das 2h30 na casa onde viviam juntamente com outra filha, já maior, e o marido desta. Foram os dois que encontraram as vítimas, deitadas na cama, e alertaram as autoridades.

Quando os Bombeiros Voluntários da Ribeira Brava chegaram ao local, a cerca de 25 quilómetros a Oeste do Funchal, encontraram a mulher e a criança sem vida, e vários manuscritos a descrever o desespero em que a mulher vivia e a justificar o sucedido.

São estes textos, em conjunto com as investigações preliminares das autoridades, que levam a crer que a mulher terá feito com que o filho ingerisse um produto tóxico, tendo feito o mesmo. “Ainda não é claro se o menor foi forçado pela mãe a ingerir o veneno, se foi simplesmente convencido ou enganado”, explica uma fonte da Polícia Judiciária, que está a investigar o caso.

A mulher, segundo o PÚBLICO apurou, era doente oncológica e estava desempregada, razões que terão motivado a tragédia, que está a chocar a população daquela pequena vila na costa Sul da Madeira, que conta com menos de dez mil habitantes. O último companheiro da mulher (que não era o pai dos três filhos) também se tinha suicidado há cerca de um mês. Igualmente através da ingestão de um produto tóxico.

Além do menino, que completava 12 anos no próximo fim-de-semana, a mulher tinha mais dois filhos: a jovem que encontrou os corpos e outro rapaz, também maior de idade, que vive fora do país, mas que estava na Madeira de férias.

Bastante doente, com dificuldades de locomoção e enfraquecida pelos tratamentos contra o cancro, a mulher é descrita pelos vizinhos como sendo muito próxima do filho. “Eram muito amigos, ela não falava muito na rua, mas via-se que gostavam muito um do outro”, comentou uma vizinha, ainda incrédula com o que aconteceu na pequena casa de dois andares, situada numa zona montanhosa.

Família e vizinhos não conseguem encontrar explicações para a tragédia, e os mais próximos adiantam que nada fazia prever tal acto. Mauro Paulino, psicólogo forense, diz ao PÚBLICO que este caso pode enquadrar-se no chamado “homicídio por compaixão”, tendo em conta a situação em que a mulher se encontrava.

“É uma situação típica em casos de doenças terminais, em que a pessoa não consegue vislumbrar uma saída e convence-se que com a sua morte, o outro ficará a sofrer e, por isso, matá-lo será a única forma de acabar com esse sofrimento”, explica Mauro Paulino. O “homicídio por compaixão”, acrescenta, é um conceito teórico, estudado pela psicologia clínica, que poderá, neste caso, servir para encontrar uma explicação. 

Mas na vizinhança, ninguém compreende. “Era um menino alegre, respeitador, que adorava jogar à bola por aqui”, comenta outra vizinha. A criança, que jogava futebol no clube da terra, era também próxima da irmã mais velha. O pai dos três irmãos saiu de casa há quatro anos. Os vizinhos não sabem dele desde essa altura.

Este não é um caso inédito. Em Janeiro de 2013, uma mulher de 40 anos envenenou faltalmente os dois filhos, um de 12 anos e outro de 11, recusando-se a aceitar uma decisão do Tribunal de Família e Menores de Cascais, que entregou a guarda dos dois menores ao pai. Com Mariana Oliveira

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