Marisa Matias nunca “em consciência” acumularia funções como fez Maria de Belém

A candidata apoiada pelo BE discorda do envio de tropas portuguesas para resolver a guerra com a guerra. Já Maria de Belém defende que os “compromissos” com a União Europeia e a NATO são para “manter”.

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O debate entre as duas candidatas foi ameno Miguel Manso

Quando a convidada nos debates televisivos para as eleições presidenciais é Maria de Belém, o tema regressa. A candidata tem sido acusada de ter sido presidente da Comissão Parlamentar de Saúde, ao mesmo tempo que fazia consultoria junto do grupo Espírito Santo Saúde. Neste domingo à noite, a acusação não partiu da candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda, Marisa Matias, que estava sentada à sua frente, na TVI24. Foi o jornalista quem recuperou palavras de Marisa Matias sobre a importância da independência dos interesses e lançou o tema. As respostas não se fizeram esperar: Maria Belém repetiu o argumento da legalidade. A candidata do BE garantiu que, mesmo sendo legal, jamais o faria.

Marisa Matias admite que é uma questão “política”, mas discorda da lei que permite acumular essas funções. Nunca se permitiria “em consciência” fazê-lo. Maria de Belém garantiu que as suas decisões também são sempre “filtradas” pela sua consciência, que é “muito exigente”. Mas “os deputados em Portugal não são obrigados a estar em exclusividade e quem não está, ganha menos”, justificou.

Foi um debate ameno o que aconteceu neste domingo à noite entre as duas mulheres que se candidatam à Presidência da República. Duas feministas, ambas afirmam ser de esquerda. Afinal, o que as distingue? Maria de Belém usou os seus 40 anos de “vida pública” para se distanciar de Marisa Matias, elencou os vários cargos que já teve e acrescentou que era uma feminista “mais velha, mais antiga”. Marisa Matias, eurodeputada, contrapôs: “A Presidência da República não deve ser vista como um concurso de antiguidade.”

Outros temas foram o Estado Social, o Orçamento Rectificativo, o envio de tropas portuguesas para o estrangeiro. A candidata apoiada pelo BE “jamais assinaria de cruz” um orçamento que serve para os contribuintes pagarem “desvarios financeiros”, optaria por devolver o debate à Assembleia da República (AR). Maria de Belém insistiu: se a AR o reconfirmasse, Marisa Matias seria obrigada a promulgá-lo.

Em relação à Saúde, Maria de Belém considerou, por exemplo, “absolutamente inaceitável” que se aumente o valor das taxas moderadoras ao mesmo tempo que se diminui o rendimento das pessoas e se sobe o custo de bens essenciais. “Ainda por cima, é economicamente altamente ineficaz”, disse, justificando que, quando as pessoas vão demasiado tarde aos serviços de saúde, tal implica mais gasto. Se for eleita, dará “muita atenção à avaliação do impacto” deste tipo de medidas.

Mais do que questionar o valor das taxas moderadoras, Marisa Matias centrou-se no que diz a Constituição: um Serviço Nacional de Saúde universal e tendencialmente gratuito: “tendencialmente sem taxas moderadoras”, “sem promiscuidades” entre público e privado, que garanta uma saúde “acessível a todos, independentemente do dinheiro que têm no bolso”.

Quanto ao envio de tropas portuguesas para conflitos, a posição de Marisa Matias é clara: é contra. Diz que conhece bem os territórios de guerra, pelas suas funções como eurodeputada, e que resolver a guerra com guerra “é uma hipocrisia”. O que defende – e já apresentou propostas nesse sentido no Parlamento Europeu, mas foram chumbadas – é “secar as fontes de financiamento dos grupos terroristas”, é não comprar mais petróleo nos territórios ocupados por grupos terroristas. E os acordos que existem com a NATO? “Se os acordos forem para fazer mais guerra não contem comigo.”

Maria de Belém concorda que é preciso travar as “transacções que alimentam o Estado Islâmico”, mas ressalva que Portugal “tem compromissos no âmbito da União Europeia e da NATO” que deve “manter”. E que o envio de tropas portuguesas deve ser feito à escala de Portugal e de acordo com uma “reflexão aprofundada”.

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