Acabou-se a alegria do happy one

José Mourinho foi despedido pelo Chelsea dois anos e meio após ter regressado. A desastrosa defesa do título que o emblema londrino está a protagonizar pesou na decisão de Roman Abramovich.

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Ben Stansall/AFP

O casamento era para durar mas chegou ao fim mais cedo do que se previa. José Mourinho deixou de ser o treinador do Chelsea, vítima da época dantesca que o clube londrino está a viver na Premier League. Campeões em título, os blues seguem em 16.º lugar na classificação da Liga inglesa, um ponto acima da zona de despromoção. A equipa de Mourinho somou 15 pontos em 16 jornadas, fruto de quatro vitórias, três empates e nove derrotas. Sete meses depois da conquista do título, este era um despedimento anunciado e o Chelsea consumou-o ao início da tarde.

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Num comunicado em que se referia a Mourinho como “o treinador mais bem-sucedido nos 110 anos de história do clube”, o Chelsea apontava os maus resultados como motivo do despedimento. “Tanto o José como a direcção concordaram que os resultados não foram suficientemente bons esta época e acreditam que é no melhor interesse de ambas as partes que se interrompa a ligação. O José parte por mútuo acordo e continuará a ser uma figura muito amada, respeitada e importante do Chelsea. O seu legado em Stamford Bridge e em Inglaterra há muito estava garantido e será sempre bem-vindo de volta”, podia ler-se.

Abdica de 40 milhões

Foi uma decisão inesperada, mas que não apanhou ninguém de surpresa. O acumular de maus resultados fazia com que o cenário da saída do treinador português fosse equacionado. Mas a postura aparentemente mais paciente do que o costume de Roman Abramovich, o milionário russo dono do Chelsea, fazia acreditar que o casamento era mesmo para aguentar. Pouco mais de dois meses após um voto público de confiança, em que o clube reforçou “todo o apoio” ao técnico português, precipitou-se o divórcio. Segundo o editor de Desporto da BBC, Dan Roan, que foi quem primeiro adiantou a notícia, Mourinho terá prescindido da indemnização a que tinha direito: “Não receberá os 40 milhões de libras (55 milhões de euros) sobre os quais se especula. As minhas fontes dizem que receberá o correspondente ao contrato até ao final da temporada, aquilo que restava dos 12 milhões de libras (16,5 milhões de euros)”.

Em Junho de 2013, no regresso à casa onde tinha sido feliz – seis anos antes tinha sido despedido por Roman Abramovich – Mourinho apresentou-se com um sorriso rasgado na cara, e autodenominou-se como happy one. Nesse interregno, o treinador português andou por Itália e Espanha, adicionando títulos ao currículo, ao serviço do Inter de Milão e Real Madrid. Mas o seu pensamento estivera sempre na Premier League. Na segunda encarnação em Stamford Bridge, a perspectiva era de um trabalho a ser desenvolvido no longo prazo. “Com 50 anos, ainda estou muito ambicioso como treinador e, neste início de um novo período, tenho a mesma personalidade, a mesma natureza, mas uma perspectiva diferente das coisas. Quero ser amado e querido por aquilo que vou conseguir agora”, disse na altura.

Após ser terceiro classificado na primeira época, o Chelsea de Mourinho arrebatou o título em 2014-15, com oito pontos de vantagem sobre o mais directo rival. Mas nesta temporada os londrinos descarrilaram: para além de uma postura desastrada no mercado de transferências, os resultados não apareceram e a relação com jogadores-chave deteriorou-se acentuadamente. “Parece claro que existia uma discórdia palpável entre treinador e jogadores”, disse Michael Emenalo, director técnico dos blues. E o episódio com Eva Carneiro, a médica do clube, ajudou a fragilizar ainda mais a posição de Mourinho.

Apesar do pesadelo vivido esta temporada, Mourinho deixa Stamford Bridge no topo da tabela de treinadores no que diz respeito à média de pontos por jogo desde a criação da Premier League: 2,19, um valor que o coloca à frente de Alex Ferguson (2,16), Manuel Pellegrini (2,14) ou Carlo Ancelotti (2,07). Na lista de candidatos à sucessão de Mourinho é o holandês Guus Hiddink que mais consensos gera, no que seria também um regresso ao Chelsea.

Ainda que os últimos anos da carreira tenham sido menos fulgurantes – a segunda passagem pelo Chelsea rendeu-lhe dois títulos, contra os seis que coleccionou entre 2004 e 2007 – não hão-de faltar ofertas de trabalho a Mourinho. Manchester United, Real Madrid, Bayern Munique ou a selecção inglesa eram as possibilidades apontadas pela BBC. O técnico português pode dar-se ao luxo de escolher.

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