Francisco Louçã e Domingos Abrantes na lista do PS para o Conselho de Estado

Manuel Alegre tinha sido contactado por António Costa, mas acabou "desconvidado". Carlos César foi o escolhido.

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A primeira escolha de António Costa acabou por recair sobre Carlos César Enric Vives-Rubio
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Francisco Louçã, o segundo na lista, com Catarina Martins na campanha para as legislativas Nuno Ferreira Santos
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Domingos Abrantes, conotado com a linha mais ortodoxa do PCP, é a surpresa na lista do PS Nuno Ferreira Santos

O PCP vai propor o antigo deputado e histórico dirigente comunista Domingos Abrantes para integrar o Conselho de Estado como representante da Assembleia da República e será colocado em terceiro lugar da lista da esquerda, que será encabeçada pelo socialista Carlos César e irá incluir no segundo lugar o fundador e antigo líder do Bloco de Esquerda Francisco Louçã. A escolha de Louçã foi confirmada às primeiras horas da madrugada desta quarta-feira à agência Lusa por fonte da direcção bloquista.

A eleição dos representantes do Parlamento no órgão de consulta do Presidente da República está marcada para sexta-feira e as listas têm de ser entregues até esta quarta-feira. Porém, as listas que vão a votos na próxima sexta-feira têm de ter, cada uma, cinco elementos, sendo os resultados apurados segundo o método de Hondt. Isso significa que fica ainda por saber quem são ou outros dois nomes indicados pelo PS.

O nome de Domingos Abrantes, de 79 anos, acabou por ser uma surpresa, porque se esperava que fosse Jerónimo de Sousa a escolha, seguindo a linha do PCP de indicar o secretário-geral para conselheiro, como aconteceu até há dez anos, quando o partido deixou de ter representante naquele órgão consultivo.

O histórico dirigente, que foi deputado à Assembleia da República nas seis primeiras legislaturas, entre 1976 e 1991, eleito sempre pelo círculo de Setúbal com excepção da última (1991), é visto como alguém dialogante, capaz de construir pontes. Foi operário e é membro do PCP desde 1954, tendo passado a funcionário do partido dois anos depois. Integrou o comité central em 1963, no qual se manteve até há três anos, tendo saído a seu pedido na mesma altura que, por exemplo, Odete Santos. É uma das figuras de proa do partido, sendo conotado com a linha mais ortodoxa. Entre outros cargos dirigentes, integrou o conselho nacional, o secretariado e a comissão política do comité central.

Domingos Abrantes esteve preso 11 anos e participou na fuga de Caxias em 1961, prisão de onde se evadiu com outros sete comunistas (como António Tereso e José Magro) ao volante de um carro blindado.

Fonte da direcção dos socialistas afirmou esta terça-feira de manhã que o Bloco de Esquerda, ao qual cabe indicar o segundo nome, se reúne esta noite, comunicando a sua escolha até ao final da manhã de quarta-feira.

Na sexta-feira, a Assembleia da República elege os seus cinco representantes para o Conselho de Estado e o resultado será apurado com base na aplicação do método de Hondt às listas que forem apresentadas até quarta-feira – em princípio duas, uma da esquerda parlamentar e outra do PSD e CDS-PP.

Costa preferiu César em detrimento de Manuel Alegre
O Diário de Notícias refere, na edição desta terça-feira, que o ex-candidato presidencial Manuel Alegre foi "desconvidado" pelo secretário-geral do PS, António Costa, como primeiro candidato dos socialistas na lista do Conselho de Estado, tendo sido depois escolhido para essa mesma posição cimeira o presidente do partido, Carlos César.

"A princípio era para ser eu. Mas parece que há uma tradição segundo a qual o número um da lista é sempre ou o secretário-geral do partido ou o presidente do partido", diz Alegre ao DN. "Por mim, fico contente que no meu lugar vá um representante do Bloco de Esquerda ou do PCP", acrescenta.

Sobre esta controvérsia Carlos César, também líder parlamentar do PS, salientou que a sua responsabilidade neste processo situou-se "ao nível do formato da lista" alternativa à do PSD e CDS-PP para o Conselho de Estado.

"A escolha [do nome do PS para encabeçar a lista] pertenceu ao secretário-geral [António Costa]. Mesmo assim, entendo que o secretário-geral do PS agiu em consonância com as decisões do partido neste domínio", frisou Carlos César.

De acordo com o historial de decisões do PS nestes processos de escolha de candidatos ao Conselho de Estado, verifica-se que, pelo menos desde 2002, sempre que os socialistas, estando na oposição, indicaram nomes, o primeiro desses nomes foi sempre o do secretário-geral.

Estando o PS no Governo, a situação que se verifica agora, então o primeiro nome da lista a indicar para o Conselho de Estado foi sempre o do presidente do partido.

Em 2002, o primeiro nome foi o do então secretário-geral, Ferro Rodrigues, seguido do presidente Almeida Santos; em 2005, durante a fase do primeiro Governo liderado por José Sócrates, o primeiro nome foi o do presidente Almeida Santos, seguindo de Manuel Alegre; em 2009, com o segundo Governo Sócrates, o primeiro nome foi o do presidente Almeida Santos, seguido novamente de Manuel Alegre; em 2011, com o PS na oposição, o então secretário-geral, António José Seguro, liderou a lista, tendo Manuel Alegre no segundo lugar.

Desta vez, como apontou Carlos César, em resultado das negociações com o Bloco de Esquerda e PCP para a existência de uma lista única de esquerda, "o PS deixou de indicar dois [elegíveis], tendo apenas um – e essa é a diferença face ao passado".

Já sobre a questão do ex-candidato presidencial Manuel Alegre ter sido "desconvidado" por António Costa como primeiro nome para o Conselho de Estado, tal como referiu o Diário de Notícias, Carlos César insistiu que a escolha ao nível de nomes foi da responsabilidade do secretário-geral do PS.

"Fui convidado pelo secretário-geral do PS na segunda-feira. Compreendo que Manuel Alegre não queira estar em quarto lugar", disse o ex-presidente do Governo Regional dos Açores, elogiando o correligionário. "Manuel Alegre é uma referência central do PS."

Salientou nutrir pelo ex-candidato presidencial "uma grande amizade pessoal que tem ultrapassado circunstâncias em que não [estiveram] do mesmo lado no PS". "Creio sinceramente que não existe qualquer tensão entre mim e Manuel Alegre. Se a questão do Conselho de Estado tivesse sido resolvida de outra forma, também não teria agora qualquer acrimónia", acrescentou o presidente do PS. com Lusa

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