Marcelo: “Farei o possível para que esta solução governativa dê certo”

O candidato presidencial que será apoiado pelo PSD e CDS avisou que se manterá independente e tentará ser um promotor de consensos entre “os dois países”, o da esquerda e o da direita.

Foto
Paulo Pimenta

Marcelo Rebelo de Sousa começou a sua primeira entrevista como candidato a Presidente da República a afirmar que a sua prioridade no cargo é prevenir crises políticas. “As crises políticas têm de ser prevenidas, isso implica um contacto permanente com os parceiros económicos e sociais e os partidos políticos”.

Sem querer comentar a actuação de Cavaco Silva, foi pelo contraste com o que defende ser o papel do Presidente que deixou perceber a sua distância em relação ao actual inquilino de Belém. “Não é receber o primeiro-ministro às quintas-feiras e os partidos de vez em quando”, mas acompanhar diariamente os protagonistas para permitir o “envolvimento e empatia que tem de se criar para evitar crises”, defendeu.

Na Faculdade de Direito de Lisboa, onde é professor, Marcelo Rebelo de Sousa não escondeu que, se já estivesse em Belém, teria tentado prevenir a a crise política das últimas semanas – “a mais grave dos últimos anos” - convocando eleições mais cedo: “Sempre defendi que era bom antecipar as eleições, não foi bom para as finanças do país estar em campanha mais de um ano”.

O ex-comentador político considera que o magistério do próximo Chefe de Estado será ainda mais difícil na actual conjuntura. Não apenas por causa do “deslaçar do tecido social” devido à crise económica e ao programa de resgate dos últimos quatro anos, mas também devido à “muita crispação” existente. “O resultado das eleições levou à separação de dois países, o país da direita e o país da esquerda”, diagnosticou , prometendo um “magistério de promoção de consensos e de explicação do que se está a passar”.

“É preciso fazer a ponte entre os dois países, recriar consensos”, defendeu,  e “é preciso fazê-lo junto de todos: do governo e da oposição”, mas também dos portugueses, “para que se sintam representados nas instituições”.

Mas quando questionado sobre a actual situação política, foi peremptório: “Espero que esta solução governativa dê certo. Eu farei o possível para que seja duradoura, porque é bom para o país”. Já antes tinha dito, subtilmente, que o governo PSD/CDS não tinha condições para se manter em funções: “Um governo que não garantisse a aprovação de um Orçamento do Estado não cumpria uma função fundamental”.

Mais à frente, explicou que, se for eleito como espera – “se não for à primeira, será à segunda volta” – vigiará de perto a actuação do executivo de António Costa. “No dia-a-dia acompanharei a solidez da base de apoio do governo e a compatibilização de mais justiça social com o cumprimento dos compromissos internacionais de Portugal”. Foi a resposta a uma pergunta dos jornalistas da SIC Clara de Sousa e Anselmo Crespo sobre como via a promessa da actual maioria de devolver grande parte dos cortes feitos durante o programa de ajustamento que Marcelo deixou o aviso.

“Tivemos quatro anos e meio muito difíceis, é evidente que teve consequências sociais”, disse, referindo-se ao aumento de pobreza, de desigualdades e de desemprego e à normal expectativa de que esse ciclo se inverta. Isto “se a Europa correr bem, se o mundo correr bem, se lá de fora não vierem más notícias”, avisou. E Marcelo concorda com algum reajustamento, é aí que diz residir a sua social-democracia. Com uma razão acrescida: “Se Portugal não entrar num processo de crescimento sustentado, as tensões sociais e políticas não desaparecem”.

Mas se voltar a existir uma crise política, o que faria? “Se vier a ocorrer uma crise politica grave, para a qual não haja solução governativa no quadro parlamentar, decidirei caso a caso, sem abdicar de nenhum dos poderes” presidenciais. Antes já os tinha explicado: exoneração do primeiro-ministro ou dissolução da Assembleia da República, deixando perceber que não entendia por que razão nenhum anterior Chefe de Estado tinha optado pelo primeiro. E avisou alguns correligionários do partido:  “Essa coisa da dissolução antecipada não existe”.

Sobre os apoios do PSD e do CDS que estão prestes a ser decididos, o ex-líder social-democrata disse “aceitar e agradecer”, mas garantiu que eles “não vinculam em nada” a sua candidatura. Independência foi palavra que repetiu, tanto no campo político como pessoal. Chamado a explicar a sua amizade com Ricardo Salgado, Marcelo garantiu ser “muito raro ter cortes de relações com os amigos”, mas que “a amizade não tem nada a ver com dependência”. Afirmou nunca ter trabalhador com o ex-banqueiro – “nem um parecer, nada” – e garantiu que, se alguma vez houver um conflito entre as suas funções e a amizade “sacrifica-se, não a amizade, mas as suas manifestações”.

Terminou dizendo que não tem plano B caso não vença as eleições, até porque não precisa. “Eu era muito feliz. Não precisava disto para ter importância política, económica, social, nem sequer para ter influência mediática. Achei que era minha obrigação. Não podia faltar à chamada”.

Sugerir correcção
Ler 24 comentários