São flores, mas representam mulheres assassinadas pelos maridos ou companheiros

Protesto silencioso da União de Mulheres Alternativa e Resposta decorreu esta sexta-feira no Porto, e teve como objectivo homenagear as 27 mulheres assassinadas este ano, vítimas de violência doméstica.

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“Flores partidas, nem uma mais!”, foi um protesto silencioso da UMAR, no Porto Paulo Pimenta

Ângela Faria, 31 anos, Faro, assassinada no dia 28 de Maio pelo ex-marido com arma de fogo. Maria Estrela Larsson, 60 anos, Lisboa, asfixiada até à morte no dia 13 de Setembro pelo marido. Laura Ribeiro, 56 anos, Porto, espancada até à morte no dia 4 de Novembro pelo ex-marido. Estas são apenas três das 27 mulheres assassinadas, este ano, pelos maridos ou companheiros e que esta manhã, no Porto, foram recordadas e homenageadas, numa acção de sensibilização organizada pela União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR). O relógio estava prestes a marcar as 11h quando, na Praça da Liberdade, 27 vasos com flores foram colocados num mapa de Portugal previamente desenhado a giz. Por entre os turistas que por ali passam todos os dias e pessoas mais ou menos apressadas, aquelas plantas estavam ali revestidas de simbolismo: representar geograficamente todas aquelas mulheres assassinadas.

“Simboliza as vidas que foram perdidas e que partiram antes de tempo”, explica ao PÚBLICO Ilda Afonso, directora técnica da UMAR. “Queremos homenagear cada uma delas para que não sejam esquecidas. É importante que não sejam esquecidas”, continua.

A iniciativa, que tem como título “Flores partidas, nem uma mais!”, é um protesto silencioso e visa alertar a população para a necessidade de evitar que casos como os de Ângela Faria, Maria Estrela Larsson ou Laura Ribeiro se repitam. Para isso, escolheram flores, pois “quando se corta uma flor, ela também acaba por morrer”, explica a representante da UMAR.

Em plena avenida dos Aliados, quem por ali passou não ficou indiferente à instalação. Uns olhavam de soslaio e seguiam o seu percurso, outros paravam e fixavam-se em cada um dos vasos, que estavam acompanhados de um cartão com a descrição de cada um dos homicídios. Manuel Ferreira, de 70 anos, e Maria da Graça Ferreira, de 65 anos, fizeram questão de atravessar a avenida para ver o que ali se passava. “Ainda me admiro que aconteçam estas coisas e que vemos na televisão”, diz Manuel. A mulher que o acompanha concorda e lembra que é “importante que existam pessoas que defendam estas mulheres”.

De acordo com os dados divulgados no dia 25 de Novembro (dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres) pelo Observatório de Mulheres Assassinadas, da UMAR, neste ano, morreram menos 14 mulheres face ao período homólogo de 2007. A maioria delas foram vítimas de armas brancas e fogo. Apesar desses dados, Ilda Afonso considera que os números ainda são “assustadores” e que não querem dizer que existe uma diminuição de vítimas mortais de violência doméstica, pois os valores não diminuem de ano para ano. “Se olharmos para os números desde há 11 anos, podemos ver que existem anos em que as vítimas chegaram às 45, por exemplo, e outros em que ficaram nos 21, por exemplo. Basta que exista um para ser grave”, salienta.

A representante da UMAR acusa também o Estado português e a instituições de co-responsabilidade nestas mortes, na medida em que “não protegem as vítimas”. “Os tribunais têm de dar mais valor ao testemunho das vítimas, têm de protege-las. E tem de deixar de haver penas suspensas na sua maioria. Os agressores têm de ser condenados”, avisa, lembrando também que muitas mulheres são assassinadas depois de apresentarem várias queixas, “pedindo protecção ao Estado português”.

Esta iniciativa insere-se na campanha internacional “16 dias de Activismo contra a Violência de género”, que se realiza entre 25 de Novembro e 10 de Dezembro, e que acontece anualmente em mais de 140 países. A campanha visa promover a consciência sobre a violência contra as mulheres como uma violação dos Direitos Humanos, e criar instrumentos de persuasão para que governos implementem políticas públicas voltadas para a erradicação da violência contra as mulheres.

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