“O povo não exige, nem quer tudo de uma vez”, mas quer mudanças, diz Jerónimo

Comunistas insistem na ideia de que este não é o programa do PCP, mas reconhecem o esforço para a mudança de políticas e avisam que é preciso que se confirmem.

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Jerónimo de Sousa Enric Vives-Rubio

Poderá ser a primeira cedência do PCP ao PS. Jerónimo de Sousa disse esta quinta-feira à tarde, no encerramento do debate do programa do Governo socialista, que o PCP tem a “consciência de que o povo não exige, nem quer tudo de uma vez”, mas avisou que o mesmo povo “também não quer que se mude alguma coisa para ficar tudo na mesma”.

Uma declaração que acaba por ser uma contradição nítida em relação ao que o PCP sempre defendeu: que todos os cortes de salários e pensões, assim como as sobretaxas deveriam ser eliminados imediatamente e que o salário mínimo nacional deveria ser aumentado para os 600 euros em 2016.

O secretário-geral do PCP voltou na insistir na ideia de que este programa não é, “naturalmente”, o programa do PCP. “Não seria exigível, reconhecidas que são as diferenças programáticas, que o programa do Governo PS correspondesse ao conjunto de opções e políticas que identificamos como necessárias para, de forma sólida, dar resposta a questões estruturais que o país enfrenta e que PSD-CDS agravaram exponencialmente”, argumentou Jerónimo de Sousa.

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No entanto, é um documento que acolhe as contribuições comunistas que resultaram de um “esforço de convergência” dos dois partidos, enalteceu Jerónimo de Sousa. E reconheceu:  “[O programa afirma a] vontade de inverter o rumo das políticas dos últimos anos e um propósito de mudança que desejamos que a vida confirme.”

“O passo que se dá agora é um passo importante para travar a ofensiva mais desenfreada destes anos e que desejamos e esperamos seja um safanão na política das inevitabilidades que cerca a vida dos portugueses”, disse o secretário-geral comunista, não sem antes admitir a “visão distinta” do PS sobre as causas e as respostas de que o país precisa para enfrentar a situação de crise. Jerónimo voltou a citar os “constrangimentos internos e externos” – como os instrumentos financeiros europeus – que são um “manifesto colete-de-forças” e que impedem o desenvolvimento “soberano”.

Jerónimo de Sousa fez uma crítica acesa da política do Governo PSD-CDS e da atitude dos dois partidos nos dois dias deste debate, durante o qual optaram por uma “política da terra queimada”, expressando “uma azedo mau perder”, ao apostarem numa imagem de “iminente catástrofe no país” com um executivo PS.

À proposta de moção de rejeição do programa do PS, o PCP responderá com um não “inequívoco”. “Já chega de políticas de exploração, empobrecimento e retrocesso civilizacional”, justificou o líder comunista. “Votaremos contra, porque queremos manter aberta a janela da esperança que a luta dos trabalhadores e das populações abriu”, acrescentou.

Apesar de tudo, Jerónimo de Sousa considera que “está agora aberta uma nova fase na vida política nacional susceptível de responder a muitos dos problemas mais imediatos dos trabalhadores e do povo português”. Uma nova fase em que o Governo PS tem agora as “condições” para entrar em funções e adoptar uma política que assegure uma “solução duradoura na perspectiva da legislatura”.

Verdes enaltecem medidas suas que PS integrou no programa
Os Verdes, tal como PCP e Bloco, vão chumbar a moção de rejeição do programa do Governo proposta por PSD e CDS, porque querem “provar” a sua “determinação” em entrar por uma “porta de esperança para a mudança” que consideram que o executivo socialista representa.

A argumentação foi dada pela deputada Heloísa Apolónia no encerramento do debate do programa do Governo PS, que acrescentou que o partido ecologista tem uma “predisposição séria e assumida de diálogo e de encontro de convergências”.

Heloísa Apolónia enalteceu as medidas que o PEV conseguiu que o PS integrasse no seu programa de governo, dando como exemplos, entre outros, os compromissos de garantia da não privatização do sector da água, a reavaliação de um Plano Nacional de Barragens, uma “visão estratégica diferente sobre os transportes”, com modos mais sustentáveis de mobilidade e de coesão territorial, a travagem da "eucaliptização", a defesa de serviços públicos de proximidade e o reforço de meios para a conservação da natureza e da biodiversidade.

"É um programa que Os Verdes assumiriam como o seu? Não, não é. Mas é um programa que contém um conjunto de medidas emergentes que, fruto das convergências para as quais também o PEV trabalhou com o PS, vão contribuir para melhorar a vida das pessoas e, a partir daí, a vida do país", apontou a líder da bancada.

A deputada ecologista aproveitou, no entanto, para dedicar metade do seu discurso a criticar a direita e a sua “ilegítima pretensão de querer governar”, assim como a “invenção manhosa do ‘arco da governação’” para criar o equívoco nas eleições de que as legislativas serviam para eleger um primeiro-ministro e não 230 deputados. “Hoje, por determinação dos eleitores, que ditaram um resultado eleitoral concreto, a vida política portuguesa centra-se onde é justo, correcto e democrático centrar-se, ou seja, na Assembleia da República”, afirmou.

A aritmética segundo o PCP: 107 não podem impor a sua vontade a 122

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