O guarda-roupa é uma arma

Um filme descosido que deposita no elenco (quase todo over the top) e no guarda-roupa (quase todo over the top) todas as suas ideias de rasgo.

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A Modista: um filme descosido DR

A australiana Jocelyn Moorhouse tem alguma fama com os seus “filmes de mulheres” (How to Make an American Quilt, nos anos 90), e A Modista é um desses filmes onde o elenco feminino pontifica. Conta o regresso da personagem de Kate Winslet, agora (anos 50) uma modista treinada nas melhores casas de Paris, à sua terra natal, um lugarejo nos confins da Austrália que ela teve que abandonar em criança depois de ter sido alvo de acusações caluniosas.

A um primeiro nível o filme é isto, um “choque cultural”, a mulher moderna e cosmopolita a revolver as cabeças dos camponeses de horizontes estreitos; depois é uma estranha mistura de Pigmalião com western vingativo (porque Winslet quer “vingar-se”), numa alternância de tons bastante descosida (é o termo) e numa direcção que rapidamente deposita no elenco (quase todo over the top) e no guarda-roupa (quase todo over the top) todas as suas ideias de rasgo.

Resulta vistoso, e percebe-se porque é que A Modista é a produção de “prestigio” australiana do ano, bem capaz de dar uma espreitadela aos Óscares. Mas fora esse lado de “vitrine” também resulta num filme bastante desconjuntado, uma mise en scène banalíssima onde pouco mais há para ver além das actrizes, Winslet certamente (em modo femme fatale) mas sobretudo a ultimamente tão desaparecida Judy Davis, ex-actriz de Cronenberg e Woody Allen, que na sua caracterização ingrata (é a “bruxa”) consegue a proeza, em várias cenas, de chamar mais o olhar da câmara do que a espampanante Winslet.

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