O laboratório desacreditado e a fuga pela janela

AMA retirou acreditação ao laboratório antidoping de Moscovo. Cúpula da IAAF discute na sexta-feira a situação na Rússia

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O escândalo poderá levar à retirada dos atletas russos de futuras competições da IAAF AFP/FRANCK FIFE

O relatório arrasou a política antidoping russa e os efeitos fazem-se sentir. O documento da comissão independente da Associação Mundial Antidopagem (AMA) que investiga os casos de doping trazidos a público pela estação televisiva alemã ARD, em Dezembro de 2014, provocou a perda da acreditação internacional ao laboratório antidoping de Moscovo, tal como recomendado no relatório. E o Comité Olímpico Internacional (COI) suspendeu o estatuto de membro-honorário do ex-presidente da Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF), Lamine Diack, pelo seu envolvimento nas acusações levantadas pelo relatório. O dirigente senegalês é investigado por ter alegadamente recebido mais de um milhão de euros para ocultar controlos antidoping positivos. O conselho directivo da IAAF, liderado pelo britânico Sebastian Coe, vai reunir-se na sexta-feira para discutir a situação da Rússia e a eventual suspensão do atletismo russo, como a comissão independente aconselhou.

Depois das revelações feitas pelo relatório de um sistema institucionalizado de doping patrocinado pelo Estado russo – que inclui pagamentos para ocultação de controlos positivos, a destruição de 1417 amostras ou o clima de intimidação que se vivia nos laboratórios antidoping com a presença de elementos da polícia secreta russa –, veio a público o episódio rocambolesco de como um técnico escapou à polícia russa saltando pela janela. Tudo se passou em Saransk, a mais de 500 quilómetros de Moscovo, onde tinham sido recolhidas amostras de vários atletas. A história foi contada pelo próprio à comissão independente da AMA e citada pela agência AFP: “Passei várias horas a dar explicações à polícia, que estava à procura das amostras recolhidas. A polícia esperava para levar-me e às amostras ao comboio [para Moscovo]. Lá, a polícia já tinha sido avisada da minha chegada, para garantir que as amostras iam para o laboratório (aquele que ficou sem acreditação)”. “Deixei a luz e a televisão ligadas e saí do quarto pela janela, para apanhar outro comboio. A polícia estava à minha espera em Moscovo e tive de esforçar-me para lhes escapar e entregar as amostras a outra pessoa [de confiança]”, que as levou para o laboratório em Lausanne, onde seriam revelados quatro controlos positivos.

No mesmo dia em que suspendeu Lamine Diack, o COI esclareceu que não há razões para duvidar dos resultados dos testes antidoping feitos nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, em Sochi, na Rússia.

Os responsáveis russos questionam os dados do relatório: “As acusações são infundadas”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. “Vou levar o caso ao Tribunal Arbitral do Desporto. De outra maneira, esta história nunca será esclarecida”, afirmou o ex-presidente da federação russa de atletismo, Valentin Balakhnitchev.

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