Oposição e observadores dizem que eleições na Birmânia foram livres, não justas

Partido de Suu Kyi tem 78 dos 88 lugares já anunciados para o Parlamento, mas diz-se preocupado com o atraso na publicação de mais resultados.

Foto
Suu Kyi espera que o seu partido vença 75% dos votos de domingo. Phyo Mg Mg/AFP

Observadores internacionais e oposição ao poder militar na Birmânia dizem que as eleições parlamentares de domingo foram amplamente livres, mas que isso não faz delas justas, num momento em que o partido liderado pela Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi, diz ter receio de que a demora na publicação dos resultados oficiais seja um sinal de interferência do Governo.

Só se conhecem os resultados para 88 dos 440 lugares do Parlamento. Destes, 78 foram atribuídos ao LND, de Suu Kyi, e apenas cinco ao partido satélite do poder militar no país, no poder. Isto parece confirmar uma vitória esmagadora por parte da oposição. Nesta terça-feira, Suu Kyi disse à BBC que espera obter 75% dos votos, bem acima do limiar para a maioria absoluta (67%). 

No entanto, o seu partido diz-se preocupado com a lentidão na contagem dos boletins, a cargo de uma comissão eleitoral apontada pelo Governo. “Estão a atrasar intencionalmente [a publicação dos resultados] porque se calhar querem jogar uma cartada ou algo”, disse o porta-voz da LND. “Estão a tentar ser corruptos."

Em todo o caso, os observadores enviados pela União Europeia para inspeccionar as eleições de domingo vão ficar até Dezembro para controlar a contagem dos votos e asseguraram durante a manhã que 95% das urnas tiveram uma avaliação positiva, apesar de em casos pontuais faltarem nomes de eleitores no registo. Uma avaliação ecoada pelos parceiros norte-americanos do Centro Carter: “O processo eleitoral foi um sucesso”, disse Jason Carter, um dos responsáveis.

No entanto, a exclusão de minorias étnicas e religiosas do processo eleitoral, como as dezenas de milhares de muçulmanos Rohyngia a quem não é reconhecida cidadania birmanesa, e o facto de um quarto dos assentos parlamentares estarem reservados ao Exército faz com que os inspectores europeus, por exemplo, não considerem as eleições “verdadeiramente genuínas”. “Temos de reconhecer que o processo de transição democrática na Birmânia é incompleto e está em curso”, disse, por sua vez, Jason Carter, neto do ex-Presidente norte-americano Jimmy Carter, que fundou o centro com o mesmo nome.

O processo eleitoral ainda não terminou, sublinham os observadores. Isso só acontecerá quando o partido no poder reconhecer os resultados eleitorais que devem dar maioria absoluta ao LND. Tal não aconteceu em 1990, quando o Exército, ante a vitória esmagadora de Suu Kyi, a deteve e condenou-a a 15 anos de prisão domiciliária. 

Segundo ela, isso não voltará a acontecer. “Os tempos não são os mesmos, as pessoas não são as mesmas. Acho que a população está muito mais politizada agora do que antes, não apenas do que em 1990, mas do que estavam em 2012”, disse à BBC. “É muito mais difícil para quem quer entrar em irregularidades conseguir fazê-lo”, conclui.

Por enquanto, o partido do Governo parece reconhecer tacitamente a pesada derrota eleitoral, apesar de ainda não a ter admitido oficialmente – a AFP cita nesta terça um responsável do União Social para o Desenvolvimento, no poder, dizendo que o partido "perdeu completamente" e que "Suu Kyi terá agora que tomar a responsabilidade".

Suu Kyi está impedida pela Constituição da Birmânia de exercer o cargo de Presidente, uma vez que tem filhos de nacionalidade estrangeira. A Prémio Nobel já disse que isso não a vai impedir de subir ao poder, mesmo que isso signifique contornar a lei e tomar decisões através de um colega de partido. Esse Presidente será designado apenas para “corresponder às exigências da Constituição” e “não terá autoridade”, afirmou nesta terça-feira ao Channel News Asia.

 

 

 

Sugerir correcção
Ler 1 comentários