Escândalo das emissões arrasta Volkswagen para os primeiros prejuízos em 15 anos

Provisões para lidar com escândalo de emissões fazem com que o grupo registe perdas entre Julho e Setembro.

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REUTERS/Sergio Perez

As contas da Volkswagen derraparam para o vermelho no terceiro trimestre e a manipulação de emissões levada a cabo pela construtora já se faz sentir na contabilidade.

O prejuízo operacional é de 3480 milhões de euros para o intervalo entre Julho e Setembro, quando em igual período do ano passado foi registado um lucro operacional de 3230 milhões de euros.

Se o escândalo de emissões ainda não se fez sentir nas vendas (o caso apenas veio a público a duas semanas do fim de Setembro), as provisões postas de parte pela Volkswagen vieram afectar negativamente as contas.

No relatório publicado esta quarta-feira, o grupo germânico conta como custos especiais 6.685 milhões de euros, um valor aproximado aos 6.500 milhões anunciados previamente como a quantia posta de parte para lidar com os custos da manipulação de emissões.

 A Bloomberg calcula que as provisões anunciadas não cheguem para lidar com os custos das reparações, multas e processos judiciais que a companhia enfrenta, apontando para um valor entre 20 mil milhões e 78 mil milhões nos próximos semestres.

Na contabilidade dos primeiros nove meses do ano, a empresa regista ainda um lucro operacional de 3342 milhões de euros, um resultado em terreno positivo, mas que sofre uma queda de 64,5% em relação ao período homólogo de 2014, quando este indicador foi de 9416 milhões de euros. 

Ainda assim, as vendas aumentaram para 51.490 milhões, uma subida de 5,3% em relação aos 48.900 milhões do terceiro trimestre de 2014. 

A Reuters refere que este é o primeiro trimestre em mais de 15 anos em que o grupo regista prejuízos, a segunda má notícia em poucos dias, depois de na segunda-feira os números de vendas divulgados pelos fabricantes de automóveis mostrarem que a Volkswagen foi ultrapassada pela japonesa Toyota.

Se, por um lado, “os números mostram a força do grupo Volkswagen”, por outro, o presidente Matthias Müller admite que o “impacto inicial da actual situação está a tornar-se claro”.

Os resultados negativos não preocuparam os investidores. As acções da Volkswagen terminaram o dia a subir 3,99%, com a cotação a fechar nos 109,35 euros, um valor que está consideravelmente acima dos mínimos próximos de 92 euros registados cerca de duas semanas após o rebentar do escândalo.

Mudança de estratégia
No mesmo dia em que apresentou resultados trimestrais negativos pela primeira vez em década e meia, Müller anunciou que a estratégia da Volkswagen deverá focar-se mais na obtenção de lucro do que em vender mais que a concorrência.

“Não é sobre vender mais 100 mil carros a mais ou a menos que um grande concorrente. É mais sobre crescimento qualitativo”, disse o presidente executivo, sublinhando o compromisso do grupo em corrigir os erros de supervisão que levaram ao escândalo das emissões.

A cultura empresarial em que a prioridade era ser “mais rápido, mais alto e maior” deve ser revista, considera o dirigente, acrescentando que a nova estratégia da Volkswagen até 2025 vai ser apresentada em meados de 2016. 

A extensão dos danos causados pela instalação do software de manipulação de emissões em 11 milhões de viaturas em todo o mundo deverá ser ainda mais perceptível quando forem publicadas as contas do quarto trimestre, no início de 2016. 

Na previsão para os resultados anuais, apesar de antecipar que as vendas de veículos se mantenham ao nível do ano passado, os alemães estimam que o lucro operacional fique “significativamente” abaixo do recorde de 12.700 milhões de euros registado em 2014.

A pensar no impacto do escândalo de emissões, depois de Matthias Müller ter referido que “tudo o que não for absolutamente necessário" seria "cancelado ou adiado”, a Volkswagen anunciou há duas semanas o corte de mil milhões de euros por ano nos investimentos previstos até 2019.,

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