Valentino Rossi é acusado de pontapear Márquez e isso pode custar-lhe o Mundial

Marc Márquez diz que italiano o empurrou de propósito. Italiano nega e acusa espanhol de querer impedi-lo de ser campeão

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Rossi e Márquez levaram o duelo ao limite na Malásia Manan Vatsyayana/AFP

A fotografia só tem sete anos, mas parece que foi tirada há uma eternidade, especialmente depois do que se passou no fim-de-semana, durante o Grande Prémio da Malásia em MotoGP. Na imagem vê-se Valentino Rossi, então com 29 anos e já sete títulos mundiais no currículo (cinco deles na categoria rainha), a envolver com o braço esquerdo os ombros de Marc Márquez, na altura um jovem de 15 anos que se estreava nas 125cc. Vêem-se sorrisos estampados nos rostos de ambos, e a fotografia foi durante algum tempo um testemunho da admiração e respeito que nutriam mutuamente.

Nutriam, assim mesmo no pretérito imperfeito, porque dificilmente continuarão a nutrir. Os dois protagonistas da fotografia de 2008 são, desde 2013, adversários no Mundial de MotoGP. No princípio os papéis eram de ídolo e admirador – Márquez chegou a confessar que tinha um poster de Rossi no quarto. Mas a relação entre Rossi e Márquez não voltará a ser a mesma após o incidente deste fim-de-semana em Sepang. O espanhol, campeão em título, queixa-se de ter sido empurrado para fora de pista pelo italiano. Rossi acusa Márquez de querer impedi-lo de chegar ao título, em benefício do seu compatriota Jorge Lorenzo.

Nenhuma imagem esclarece a situação por inteiro. Os dois pilotos protagonizaram uma intensa batalha, com as manobras arrojadas a sucederem-se. Houve ultrapassagens em que ficaram separados por escassos milímetros, e outras em que nem isso. Foi o caso na curva 14, quando Marc Márquez foi ao chão e teve de abandonar. Houve contacto físico entre os dois, com o espanhol aparentemente a encostar o capacete ao joelho do italiano. Rossi diz que perdeu o apoio do pé e tentou recolocá-lo, afastando a perna esquerda da moto. Nesse movimento, teria tocado no manípulo direito da moto de Márquez, desequilibrando-o.

“Ele tinha-me ultrapassado por dentro. Levantou a moto, olhou para mim, abrandou e afastou-me com a perna, atingindo-me no braço e no manípulo. Não consigo conceber o que passará pela cabeça de um piloto que deliberadamente faz cair outro. Arriscamos a vida nas corridas”, acusou o espanhol. “O Márquez sabe que isso não é verdade, e fica muito claro nas imagens que não quero atirá-lo ao chão. Ele tocou com a manete na minha perna e perdi o apoio do pé, mas se analisarem as imagens vêem que quando isso acontece o Márquez já tinha perdido o controlo da moto. Não quis pontapeá-lo. Até porque uma moto destas não cai com um pontapé”, reagiu o italiano.

A controvérsia está instalada. Rossi seria terceiro e subiu ao pódio, terminando atrás do companheiro de equipa (e rival) Jorge Lorenzo. O resultado na Malásia deixa os dois pilotos separados por apenas sete pontos na classificação do Mundial. A derradeira etapa do campeonato, no dia 8 de Novembro na Comunidade Valenciana, promete ser escaldante. Não só pela hostilidade para com Rossi, mas também porque o italiano viu confirmado pelos stewards o castigo aplicado pela direcção da corrida: três pontos de penalização, que o obrigam a partir do último lugar da grelha de partida.

Ao longo de quase 20 anos de carreira no motociclismo, Valentino Rossi protagonizou vários outros episódios, mas nenhum tão polémico quanto este. A rivalidade com Jorge Lorenzo conheceu altos e baixos, e antes tinha sido o australiano Casey Stoner. Os dois travaram uma dura batalha em Laguna Seca, nos EUA, em 2008, após a qual Stoner diria: “Perdi o respeito por um dos maiores pilotos da história”. Houve muita gente a condenar Rossi pelo que aconteceu em Sepang, mas também quem apontasse o dedo a Márquez: “Os comissários deviam indagar o porquê do que aconteceu. Sei do que falo e a atitude de Márquez é merecedora de uma sanção ainda mais grave”, apontou o argentino Sebastián Porto, vice-campeão mundial de 250cc em 2004, questionando a atitude “provocadora” de Márquez.

Resta a Valentino Rossi um ano de contrato com a Yamaha. “Quero muito experimentar as motos de 2016. O MotoGP vai mudar muito após 2015. Será uma espécie de ano zero”, afirmava, há um ano, quando renovou o vínculo. Nem imaginava a situação em que viria a encontrar-se.

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