“A Uber está na posição em que o Google estava há uns anos”

Economista-chefe da Google diz que o mercado da Uber é o da logística, não o dos táxis.

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REUTERS/Sergio Perez

O economista chefe do Google considera que a Uber, a aplicação que permite chamar carros com motorista, “está na posição que o Google estava há uns anos”, porque as empresas que já estão instaladas no mercado “sabem que estão a fazer algo errado, mas não sabem o quê”.

Hal Varian, que para além de trabalhar no Google é também um académico, falava numa conferência sobre concorrência em Lisboa e não perdeu a oportunidade para argumentar a favor da posição da empresa na investigação que está em curso na Comissão Europeia. Pelo meio, defendeu a Uber, a aplicação para chamar carros que tem sido alvo da atenção de tribunais e entidades regulatórias em vários países.

“O que é surpreendente sobre o caso do Google na Europa é o quão estreito é”, afirmou Hal Varian, num painel de debate organizado pela Autoridade da Concorrência. De um dos lados do economista estava sentado o responsável para as questões de informação e comunicação na direcção-geral da Concorrência da Comissão Europeia, Guillaume Lorio. Do outro, estava Mark MacGann, o responsável da Uber para os assuntos regulatórios na Europa.

Varian referia-se ao facto de a Comissão ter formalizado, em Abril, acusações relativas aos anúncios que surgem nos resultados das pesquisas e que fazem comparação de preços. “Anúncios de imagens, que surgem no topo da página quando se trata de uma pesquisa que indica uma forte intenção de compra. É uma minoria das pesquisas. Isto disrompe um mercado específico, a que a Comissão chama os sites de comparação de preços”, detalhou o economista. A especificidade da acusação, apresentada em Abril, deixou insatisfeitas as empresas que se tinham queixado ao regulador europeu.

O economista criticou o facto de aquela definição de mercado incluir apenas sites que permitem a comparação de preços, mas não vendem os produtos, deixando assim de fora gigantes online como o eBay e a Amazon. “Tem de haver senso comum. É possível comparar preços na Amazon. Mas adicionar uma funcionalidade [a possibilidade de compra]...Como é que isso a pode pôr fora do mercado?”, questionou.

Pelo lado da Comissão, Guillaume Lorio foi muito mais comedido ao abordar o assunto, notando que as réplicas apresentadas pela empresa americana estão agora a ser analisadas pelo regulador europeu. “No tipo de casos que se vêem nos mercados tecnológicos, a Comissão essencialmente tenta perceber se a empresa está a ter uma conduta correcta. E se está a estender a sua posição de um mercado para o outro”, afirmou, de forma semelhante ao que tinham sido as declarações da comissária Margrethe Vestager. “Este é o tipo de alavancagens que vemos, e que vamos ver [no futuro]”, acrescentou.

A Comissão tem um historial de escrutínio a empresas tecnológicas que usam uma posição de mercado para entrar noutro. Um dos casos mais conhecidos é o da Microsoft, que usou a grande fatia de mercado do sistema operativo Windows para fomentar o uso do seu browser, o Internet Explorer.

Lorio observou também que as empresas tendem a querer falar de mercados mais abrangentes neste género de investigações e falam de mercados vastos quando se trata de conseguir que o regulador dê luz verde a aquisições e fusões.

O economista chefe do Google também estendeu a argumentação ao caso Uber, que foi um dos temas fortes do debate. “Não podemos perder a oportunidade de definir o mercado não como o dos táxis, mas como o mercado mais largo da logística”, afirmou.

O representante da Uber, por seu lado, defendeu que a regulação dos sectores do transporte começou por ser feita para proteger os consumidores e acabou por proteger as empresas já instaladas. “Estamos a tentar entrar num dos mercados mais protegidos do mundo”, afirmou.

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