Palestinianos queimam Túmulo de José na Cisjordânia

Autoridade Palestiniana condenou o ataque contra o templo porque "viola a lei e a ordem e distorce a cultura, os valores morais e a religião".

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As forças palestinianas controlaram a situação Forças de Defesa de Israel

Várias dezenas de jovens palestinianos atearam fogo a um templo venerado por judeus, localizado em Nablus, nos territórios ocupados da Cisjordânia, num episódio que veio agravar ainda mais a onda de violência que começou há duas semanas. Mais a sul, em Hebron, um palestiniano que se fez passar por jornalista foi morto a tiro depois de ter esfaqueado um soldado israelita. Três outros palestinianos foram mortos durante confrontos com as forças israelitas

Na noite de quinta para sexta-feira, mais de uma centena de jovens lançaram cocktails Molotov para o interior do Túmulo de José, um local sagrado tanto para judeus como para muçulmanos e cristãos, mas que é controlado pelos israelitas desde a ocupação da Cisjordânia, em 1967.

O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, apressou-se a condenar o acto, dizendo que a queima de templos "viola a lei e a ordem e distorce a cultura, os valores morais e a religião". Os responsáveis pelo ataque foram expulsos pelas forças de segurança palestinianas, que dispararam tiros para o ar, e o incêndio foi extinto pelos bombeiros locais.

Dos Estados Unidos chegaram apelos à calma, pela voz do secretário de Estado, John Kerry, que está a equacionar uma visita à região nos próximos dias. Numa primeira reacção à onda de ataques quase diários, com epicentro em Jerusalém Oriental, o Conselho de Segurança das Nações Unidas marcou uma reunião para esta sexta-feira, de onde se espera um apelo à contenção de ambos os lados.

Apesar da condenação inequívoca por parte da Autoridade Palestiniana, o director-geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel, Dore Gold, lançou duras críticas à liderança de Mahmoud Abbas: "O facto de terem ateado fogo ao Túmulo de José é uma demonstração do que aconteceria se os locais sagrados em Jerusalém estivessem nas mãos da liderança palestiniana."

O partido nacionalista Yisrael Beytenu chegou mesmo a comparar a Autoridade Palestiniana ao Estado Islâmico. "Este fogo posto mostra que a ocupação da Autoridade Palestiniana não é diferente da protagonizada pelo Estado Islâmico", disse Avigdor Liberman, líder do Yisrael Beytenu, dando como exemplos os ataques com facas em várias cidades israelitas e "a queima de sítios sagrados e históricos, tal como o Estado Islâmico faz no Iraque e na Síria".

O Túmulo de José não fez parte dos sítios entregues aos palestinianos após os segundos acordos de Oslo, assinados em 1995, mas a saída de Nablus das forças de segurança de Israel, nesse mesmo ano, transformou o local numa espécie de enclave israelita – os judeus deslocam-se ao túmulo para rezarem em dias marcados, sob escolta das forças israelitas, que se coordenam com as forças palestinianas.

A situação tende a agravar-se nos próximos tempos, depois de o Hamas – o movimento que governa a Faixa de Gaza – ter apelado a um "dia de raiva" esta sexta-feira, em todas as cidades da Cisjordânia.

O primeiro resultado desse apelo foi o esfaqueamento de um soldado israelita por um jovem palestiniano em Hebron, também na Cisjordânia. O atacante estava vestido com um colete que o identificava como jornalista e tinha uma câmara fotográfica nas mãos. O soldado israelita ficou ferido sem gravidade e o palestiniano foi morto a tiro no local.

Na Cisjordânia, um jovem de 19 anos foi morto com um tiro no peito durante confrontos com os militares israelitas em Beit Furik, perto de Nablus. E na Faixa de Gaza, junto ao posto fronteiriço de Erez, dois palestinianos foram abatidos pelas forças israelitas, quando centenas protestavam junto à barreira que protege a passagem para Israel.

Nas últimas duas semanas, 32 palestinianos e sete israelitas foram mortos na mais recente onda de violência em Jerusalém Oriental e em várias cidades israelitas – a mais grave dos últimos anos e que muitos consideram ser o início de uma terceira intifada (revolta), depois das iniciadas em 1987 e em 2000.

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