Polícia israelita mata quatro palestinianos ao décimo dia de violência

Desde que um casal de israelitas foi abatido a tiro na Cisjordânia que se repetem diariamente ataques à faca, motins e protestos. Morreram já 20 palestinianos e quatro israelitas.

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Motins em Ramallah, na Cisjordânia. Há confrontos semelhantes por todo o território da Palestina ocupado por Israel. Mohamad Torokman/Reuters

Prosseguem os dias de extrema violência entre palestinianos e israelitas, agora pelo décimo dia consecutivo de motins violentos e ataques de vingança. Morreram quatro palestinianos neste sábado, dois deles abatidos pela polícia de Israel em confrontos na Faixa de Gaza. O Crescente Vermelho dizia ao final da tarde que, nos motins em Gaza e Cisjordânia deste sábado, a resposta policial ferira mais de 420 palestinianos, pelo menos 20 com balas reais.

A violência atinge um nível tal que se tornaram comuns referências a uma terceira Intifada, tanto em meios árabes como israelitas, embora os casos mais drásticos sejam ainda isolados e em nada comparáveis às mobilizações no final da década de 1980 e início dos anos 2000. Em todo o caso, os territórios palestinianos ocupados vivem em estado de sítio, severamente patrulhados por polícia e exército israelitas. Em particular Jerusalém Oriental, o centro da contestação.

No total, morreram já 20 palestinianos desde o início da violência, no primeiro dia do mês, e quatro israelitas. Contaram-se mais de um milhar de feridos nos últimos dez dias, quase exclusivamente palestinianos. 

Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelita, está sob pressão da ala mais conservadora do seu partido e Governo de coligação para responder à violência com punho de ferro. Fê-lo na última semana, ao anunciar novas medidas punitivas contra atacantes palestinianos, mas, na sexta-feira, acompanhou as declarações do presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, que apelou ao fim da violência. Nesse dia, a polícia israelita matou sete palestinianos num grande protesto na Faixa de Gaza – a última vítima não resistiu neste sábado aos ferimentos.

A polícia palestiniana em Gaza e na Cisjordânia diz que está a tentar restabelecer a calma. “Estamos a fazer tudo o que podemos para evitar uma Intifada armada”, disse este sábado o porta-voz das forças de segurança palestinianas, Adnan Dmiri, que condenou a severidade da resposta israelita. “Parece que Israel está a fazer com que o povo palestiniano pegue em armas, mas estamos a fazer o nosso melhor para o evitar”, disse, citado pelo canal árabe Middle East Eye.

Parecem longe de o conseguir. Nos funerais deste sábado na Faixa de Gaza avistaram-se dezenas de homens armados do Hamas. Entre a noite de sexta e manhã de sábado foram disparados dois rockets contra Israel, também desde Gaza, embora nenhum tenha feito estragos ou vítimas. Ao início do dia um jovem palestiniano de 16 anos apunhalou e feriu dois judeus ultra-ortodoxos nas ruas de Jerusalém Oriental, incidente que se repete a um ritmo quase diário desde o início do mês. Foi morto pela polícia.

Antes, ainda durante a madrugada, um raide israelita ao campo de refugiados de Shu’fat foi recebido com tiros por um grupo de jovens palestinianos. Um deles morreu e outros seis ficaram feridos. O Hamas anunciou horas depois que a vítima era um dos seus militantes. “O mártir herói lutou contra a ocupação israelita na linguagem que eles conhecem”, disse o grupo em comunicado.

A violência explodiu no início do mês com o assassínio de dois colonos na Cisjordânia, diante os seus quatro filhos. Dois dias depois, vivia-se o feriado judeu de Sukkot, outros dois israelitas morreram esfaqueados em Jerusalém Oriental, que foi encerrada para palestinianos não-residentes nos dias seguintes, o que inflamou ainda mais a contestação na comunidade islâmica.

Há anos que os palestinianos se queixam de lhes estar a ser vedada a entrada no Pátio das Mesquitas, na Cidade Velha, onde está situada a mesquita al-Aqsa, a terceira mais importante no mundo islâmico. O Governo israelita está a proibir a entrada no local a palestinianos com menos de 45 anos, embora o continuem a visitar turistas e até deputados conservadores israelitas. Esta continua a ser a razão mais vezes referida nos protestos na Cisjordânia e Gaza, para além das mortes de palestinianos à mão da polícia, como Fadi Alloun, abatido no início do mês quando fugia de um grupo de colonos israelitas.

Nesta série de ataques à faca – pelo menos seis, só entre sexta e sábado –, um dado revelador. A polícia israelita deteve na sexta-feira um homem judeu que apunhalou, com uma faca e uma chave de fendas, quatro árabes (três palestinianos e um beduíno). Este homem, porém, foi detido sem ferimentos aparentes, ao contrário dos atacantes palestinianos, que nos últimos dias foram quase todos atingidos a tiro e quase sempre de forma fatal.

 

 

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