Verão termina com total de área ardida abaixo da média dos últimos dez anos

Desde o início do ano foram registados 15.505 incêndios. Valores são superiores a 2014, mas Autoridade Nacional de Protecção Civil destaca a "severidade meteorológica" de 2015.

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Desde a meia-noite que deflagraram 26 incêndios, um continua em curso Adriano Miranda

O número total de incêndios em 2015 representa mais do dobro do registado em 2014 e a área ardida também praticamente duplicou. Contudo, o comandante Operacional Nacional da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC), José Manuel Moura, afirmou que é preciso fazer comparações com um período mais alargado e contrapôs que perante a “severidade meteorológica” registada neste ano o resultado foi “bem conseguido”, com o Verão a acabar com um total de área ardida e de número de incêndios abaixo da média dos últimos dez anos.

José Manuel Moura, que falava durante uma conferência de imprensa de balanço da fase Charlie do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais, que começou a 1 de Julho e que terminou a 30 de Setembro, informou que desde o início do ano foram registados 15.505 incêndios, quando em 2014 tinham sido 6646. Já a média dos últimos dez anos ficou-se nos 18.322. Quanto a área ardida, em 2015 as chamas consumiram quase 61 mil hectares, quando no ano passado o valor tinha ficado em 19.521. A média dos últimos dez anos é de 96.705 hectares.

“O número de ignições é de 16% abaixo da média do decénio e 79% das ignições têm uma área ardida inferior a um hectare”, reforçou o responsável, apelidando de “intelectualmente desonestas” as comparações apenas com 2014, já que aquele foi “o melhor ano de sempre desde que há registo de incêndios”. O comandante Operacional Nacional da ANPC destacou, também, que 56% dos incêndios aconteceram durante a fase Charlie, a mais crítica para o dispositivo de combate a incêndios e que ocupa os meses de Julho, Agosto e Setembro.

Destes incêndios, 23% aconteceram em Agosto, mas só cinco deles tiveram uma duração superior a 24 horas e quase todos aconteceram entre 7 e 10 de Agosto: Terras de Bouro, Vila Nova de Cerveira, Monção, Gouveia e Sabugal. José Manuel Moura insistiu que também a área ardida registada até 30 de Setembro ficou “36% abaixo da média do decénio”. “Temos um decréscimo muito significativo. Só Beja, Guarda e Viana do Castelo registaram valores de área ardida acima da média do decénio”, acrescentou.

Quanto a número de incêndios, Castelo Branco, Portalegre, Santarém e Setúbal tiveram valores ligeiramente superiores ao normal. Mesmo assim, dos dez concelhos com mais fogos, há seis que fazem parte do distrito do Porto (Penafiel, Paredes, Gondomar, Amarante, Felgueiras e Vila Nova de Gaia). Os outros ficam em Montalegre (Vila Real), Cinfães (Viseu), Arcos de Valdevez (Viana do Castelo) e Guimarães (Braga).

O responsável da ANPC reforçou, depois, que os resultados foram registados quando “Julho e Agosto tiveram uma severidade meteorológica muito significativa, sendo certo que Setembro veio aligeirar a severidade”, sublinhando também a existência de duas ondas de calor em Junho e de uma onda de calor em Julho. José Manuel Moura reiterou que as condições registadas foram piores das sentidas em anos críticos, como 2005, 2010 e 2013.

“Cerca de 74% do território estava em situação de seca meteorológica severa ou extrema no final de Agosto (…) Em termos de severidade meteorológica este é o pior ano dos últimos 16 anos”, afirmou o comandante operacional. O índice de severidade, porém, só pede a secura – um dos ingredientes necessários para os incêndios. Neste ano foram poucas as vezes que se juntaram temperaturas altas com humidade baixa e ventos de leste fortes.

Num balanço total, quase 60% dos incêndios e 70% da área ardida foram registados durante o Verão, isto apesar de a fase Charlie ter contado com menos 28% de incêndios e menos 50% de área ardida do que a média dos últimos dez anos. Pelo contrário, na fase Alfa foram registados mais 6% de incêndios e mais 48% de área ardida e na fase Bravo o número de fogos subiu 11% e a área ardida 66%. Perante estes valores, José Manuel Moura atribui os “bons resultados” registados ao trabalho do dispositivo no terreno. O comandante lembrou que em 2014 tinham redesenhado o combate a incêndios e considerou que a verdadeira prova foi feita este ano.

Questionado sobre as alterações feitas, o responsável da ANPC explicou que conseguiram reduzir o tempo de resposta da primeira intervenção e que também anteciparam a utilização de meios aéreos de 90 minutos para menos de 30 minutos, depois de terem percebido que nos incêndios de maiores dimensões essa janela de tempo era fulcral.

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