De Niro, o paizinho

Apenas uma comédia, pachorrenta e pouco imaginativa.

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O Estagiário: meramente anedótico

E a certa altura lá temos Robert de Niro em monólogo em frente ao espelho, na enésima citação do Táxi Driver, que ele cumpre com o mesmo profissionalismo enfadado com que Schwarzenegger, no último Terminator, simulava achar graça a dizer, outra vez, “I’ll be back”.

É um duplo problema para de Niro: já fez tudo e já tem mais de setenta anos, o que lhe limita a escolha de papéis, e depois é demasiado grande, demasiado “lendário” para que os filmes passem incólumes pelo seu estatuto sem darem sinal de “reconhecimento”. Ainda assim, ele é a coisa mais especial de O Estagiário, na pele de um estagiário “sénior” e reformado admitido numa empresa muito século XXI, que vende roupa pela Internet e é dirigida pela arrebitada Anne Hathaway. Olhado com desconfiança ao princípio, acaba-se por tornar no “paizinho” do escritório, conselheiro e “grilo falante”. Podia ser um daqueles “filmes de armazém” como na Hollywood antiga (o You and Me de Lang, o Shop Around the Corner de Lubitsch) mas é claro que não é nada disso, com a sua galeria de personagens desenhadas a traço grosso e, em boa verdade, fora o par de Niro/Hathaway, sem interesse nenhum. Podia ser uma maneira de reflectir entre o mundo antigo (quando havia Páginas Amarelas, que foi a actividade profissional da personagem de de Niro) e a sua rapidíssima conversão num mundo digital e internético, mas também não é nada disso – e o que é fica pela rama, num espírito anedótico sem qualquer crítica ou, meramente, observação séria. Apenas uma comédia, pachorrenta e pouco imaginativa, fundada numa peculiar mescla de “progressismo” e “conservadorismo”, que se transforma, pelo papel de “conselheiro matrimonial” de Hathaway que o estagiário assume, numa esperançosa mensagem a fazer a quadratura do círculo: sim, é possível passar 16 horas por dia a “empreender” e depois chegar a casa e ter uma vida familiar “normal” e “tradicional”. Boa sorte, pois então. 

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