Portugal é dos menos “generosos” da Europa nos cuidados de longo prazo a idosos

Portugal gasta apenas 0,1% do seu Produto Interno Bruto com os cuidados de longa duração a pessoas com 65 ou mais anos. Habitualmente, são os familiares que cuidam dos idosos.

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Proprietária do lar está a ser julgada por maus tratos João Henriques (arquivo)

Portugal é dos países menos “generosos” da Europa nos cuidados a longo prazo dos idosos. Tem poucos profissionais especificamente dedicados a cuidar de pessoas com 65 ou mais anos e uma das despesas públicas nesta área das mais reduzidas do mundo, conclui a Organização Internacional do Trabalho (OIT) num estudo divulgado esta segunda-feira. São os cuidadores informais, quase sempre familiares dos idosos e habitualmente mulheres, que asseguram este tipo de protecção, sem serem pagos por isso.

Intitulado  Long-term care protection for older persons: A review of coverage deficits in 46 countries (Protecção de longa duração dos idosos: uma revisão dos défices de cobertura em 46 países), o estudo calcula que faltarão 13,6 milhões de profissionais desta área para que se consiga atingir a cobertura universal dos idosos que vivem nos países analisados (80% da população mundial com 65 ou mais anos).

“Destacamos estas lacunas, apesar do grosso dos cuidados – mais de 80% da protecção de longo prazo – ser actualmente garantido por familiares dos idosos (sobretudo mulheres) que não são pagos [pelo trabalho que fazem]. O seu número ultrapassa em muito o total de profissionais desta área em todos os países”, sublinha Xenia Scheil-Adlung, coordenadora da política de saúde da OIT e autora do estudo, em comunicado.

Os dados relativos a Portugal indicam que, na Europa, é dos países com percentagens mais reduzidas de trabalhadores formais por cada 100 idosos (apenas 0,4), enquanto a Espanha tem 2,9 e a Noruega 17,1. Uma realidade que deixa 90,4% dos idosos do país sem acesso a cuidados de longo prazo com qualidade por falta de profissionais nesta área, quando na Europa a média é inferior a um terço (30%).

A seguir a Portugal, surgem a França e a Eslováquia, onde 73,5% dos idosos não têm cuidados de longo prazo de qualidade, seguindo-se a Irlanda (56,6), a República Checa (49,4) e a Alemanha (22,9). Do lado contrário estão o Luxemburgo, a Noruega, a Suécia e a Suíça, onde a taxa de cobertura é de 100, de acordo com a OIT.

A ausência de protecção fica patente também na percentagem da despesa pública em cuidados de longa duração com os idosos em relação ao PIB (Produto Interno Bruto). Apesar de ter uma das mais elevadas percentagens de idosos do mundo (perto de 19% em 2013), o gastos públicos de Portugal com esta rubrica ficavam-se 0,1% do seu PIB, o valor mais baixo dos países analisados na Europa, à excepção da Turquia (com 0).

No fundo da tabela estão também a Estónia (0,2% do PIB), a República Checa (0,3%) e a Espanha (0,5%). No lado oposto perfilam-se a Holanda e a Dinamarca, que dedicam 2,3 e 2,2% do PIB a este tipo de cuidados, respectivamente

Calculando o valor em euros que cada pessoa gasta com os idosos do seu país, as diferenças são ainda mais impressionantes: em 2013, por exemplo, cada norueguês contribuía com cerca de 8400 dólares (7533 euros) para cuidados de longo prazo com qualidade para a população com 65 ou mais anos, enquanto cada português gastava apenas 136 dólares (117 euros).

“Encontramos em todas as regiões [do mundo] países onde entre 75 e 100% da população está excluída do acesso [a este tipo de cuidados] devido à falta de recursos financeiros”, lê-se no estudo, que coloca Portugal a par do Gana, do Chile, da Austrália ou da Eslováquia. Mas as maiores lacunas foram encontradas na Ásia, onde faltarão mais de oito millhões de profissionais. A Europa surge em segundo lugar (devidoao envelhecimento da população), com uma carência estimada de 2,3 milhões de trabalhadores.

Tendo em conta as carências detectadas na cobertura de cuidados de longa duração na maioria dos sistemas de segurança social dos países analisados, a autora do estudo estima que apenas 5,6% da população mundial vive em países que oferecem uma cobertura universal de cuidados de longa duração.

As legislações dos vários países ou não protegem de todo os idosos ou estabelecem regras tão estritas que limitam a cobertura apenas aos mais pobres, o que faz com que muitos tenham que pagar do seu bolso estes serviços, acrescenta Xenia Scheil-Adlung.

Conclui, assim, que existe "discriminação" não só em função da idade, mas também do género (por serem basicamente mulheres as pessoas que cuidam dos idosos sem serem pagas por isso), e frisa que um investimento neste tipo de cuidados poderia criar "muitos empregos".

 
 

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