Lesados do BES acusam Passos de fazer proposta "intelectualmente desonesta”

AIEPC desafia primeiro-ministro a assumir responsabilidades políticas pelas garantias dadas sobre a solidez do BES.

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Solução do Novo Banco apbrange apenas uma parte dos clientes lesados pelo BES Miguel Manso

A Associação dos Indignados e Lesados do Papel Comercial do BES (AIEPC) acusa o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho de estar mal informado sobre a entidade que é responsável pelo pagamento do papel comercial do BES e considera que a proposta de recurso aos tribunais “é intelectualmente desonesta”.

“É intelectualmente desonesto enviar pessoas de 70 anos para os tribunais, sabendo que o seu próprio Governo e os anteriores nada fizeram para criar um sistema judicial eficiente e rápido”, declarou ao PÚBLICO o presidente da direcção da AIEPC, Ricardo Ângelo, em reacção às declarações do primeiro-ministro, que este sábado remeteu os lesados para os tribunais.

Abordado por lesados do papel comercial do BES, numa acção de pré-campanha, em Braga, Passos Coelho respondeu-lhe que "há uma entidade que pode resolver isso, que é o tribunal". O primeiro-ministro disponibilizou-se ainda para organizar uma subscrição pública para ajudar os lesados que não têm condições económicas para recorrerem à justiça.

Para a associação de lesados, esta proposta é inaceitável, até pela idade de muitos dos lesados, o que torna impossível recuperar, em tempo útil, as suas poupanças”.

A AIEPC acusa Passos de estar mal informado quando diz “o papel comercial que não é do banco, é do Grupo Espírito Santo (GES) e das empresas do grupo".

“O primeiro-ministro deve deixar de ouvir apenas o Banco de Portugal, porque nós não somos credores do Grupo Espírito Santo (GES), mas sim do BES”, sustenta Ricardo Ângelo, que lembra que “o BES assumiu o pagamento do papel comercial, constituiu uma provisão para o fazer, pelo que, agora, é o Novo Banco que tem de cumprir esse pagamento”.

O presidente da Direcção da AIEPC defende ainda que “o primeiro-ministro tem de assumir a responsabilidade política pela garantia dada pelo seu Governo sobre a solidez do BES e as suas empresas”. Sem isso, sustenta, “as pessoas tinham tido oportunidade de resgatar as suas poupanças”.

A AIEPC garante que não está a promover manifestações de lesados em acções de pré-campanha da coligação PSD/CDS, e apela à não-violência. Mas destaca que “as pessoas têm o direito de se manifestar” e diz estar “completamente solidária com o desespero dos lesados devido às constantes tentativas de desresponsabilização do Governo relativamente ao caso”.

No caso do papel comercial, emitido por empresas do Grupo Espírito Santo (GES), mas que foi vendido pelo BES, estão em causa cerca de 2500 clientes, que reivindicam 527 milhões de euros. Muitos destes clientes têm todas as suas poupanças "presas" neste produto.

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