Polícia Federal brasileira pede autorização para ouvir Lula

Qual o papel do ex-Presidente na rede de corrupção e financiamento político-partidário que está a ser desvendado na operação “Lava Jato”? É isso que os investigadores querem saber, de viva voz.

Foto
Os factos investigados, que “atingem o núcleo político-partidário do Governo” de Lula da Silva, diz o relatório da Polícia Federal HUGO VILLALOBOS/AFP

A Polícia Federal brasileira quer que o ex-Presidente Lula da Silva preste depoimento para explicar o seu envolvimento no esquema na rede disseminada de corrupção que envolve e põe em causa o sistema político brasileiro, que começou a ser investigada na Petrobras, a petrolífera estatal, através da operação Lava Jato.

Num relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal, o delegado Josélio Azevedo de Sousa pede que Lula da Silva seja ouvido, porque pode ter beneficiado pessoalmente do esquema investigado pela Lava Jato. O Instituto Lula diz desconhecer o documento, diz o jornal O Globo.

“A presente investigação não pode se furtar de trazer à luz da apuração dos fatos a pessoa do então Presidente da República, que, na condição de mandatário máximo do país, pode ter sido beneficiado pelo esquema em curso na Petrobras, obtendo vantagens para si, para seu partido, o PT, ou mesmo para seu governo, com a manutenção de uma base de apoio partidário sustentada à custa de negócios ilícitos na referida estatal”, citado pelo Globo.

É pedido que Lula seja convocado para apresentar a sua versão dos factos investigados, que “atingem o núcleo político-partidário do seu Governo”.

O pedido da Polícia Federal será analisado pela Procuradoria-Geral da República e, pelas regras em vigor no Supremo, o juiz-relator dos casos da Lava Jato, Teori Zavascki, só o avaliará depois de se ter pronunciado o Procurador, Rodrigo Janot. Se este se opuser à audição de Lula, o juiz-relator não ouvirá o antigo Presidente, explica o jornal Folha de São Paulo.

O relatório da Polícia Federal reconhece não existirem provas do envolvimento directo de Lula no esquema de corrupção que já levou à acusação de José Dirceu, seu ex-chefe de gabinete, ou João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, entre muitos outros. Mas também do presidente da Câmara de Deputados no Congresso brasileiro, Eduardo Cunha, que apesar de pertencer ao segundo partido da coligação governamental, o PMDB, se transformou no pior inimigo da Presidente Dilma Rousseff. Ou de Collor de Mello, o único Presidente da República alguma vez destituído no Brasil.

Os dois denunciantes que iniciaram o caso, Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa, apenas “presumem que o ex-presidente da República tivesse conhecimento do esquema de corrupção”, tendo em vista “as características e a dimensão do mesmo”, diz o relatório.

No entanto, é preciso apurar os factos, diz a Polícia Federal: É preciso saber se o ex-presidente foi ou não beneficiado “pelo esquema em curso na Petrobras”. Os factos, lê-se, “evidenciam que o esquema que ora se apura é, antes de tudo, um esquema de poder político alimentado com vultosos recursos da maior empresa do Brasil.”

Sugerir correcção
Ler 1 comentários