Portas deixa Ofir sob escolta policial e quer Sócrates fora da campanha

Vice-primeiro-ministro foi obrigado a ficar no hotel durante algum tempo por causa dos lesados do BES, que garantem, não vão dar tréguas ao Governo.

Fotogaleria
Fotos Rui Farinha/NFACTOS
Fotogaleria
Fotogaleria
Fotogaleria
Fotogaleria
Fotogaleria
Fotogaleria
Fotogaleria
Fotogaleria
Fotogaleria

Os líderes do PSD e do CDS estão em sintonia relativamente a José Sócrates. Nem Passos Coelho nem Paulo Portas querem o ex-primeiro-ministro na campanha para as legislativas. Apesar desta posição de princípio, tanto um como outro falaram este fim-de-semana do ex-primeiro-ministro, que está a cumprir prisão domiciliária, em Lisboa, desde sexta-feira, depois de nove meses e meio de prisão preventiva em Évora, no âmbito da operação Marquês.

O vice-primeiro-ministro e líder dos centristas, Paulo Portas, foi ontem a Ofir, Esposende, de onde teve de sair sob escolta policial, depois de ser vaiado e insultado por um grupo de lesados do BES e dizer que não quer nenhum candidato a comentar casos judiciais. "Nunca o fizemos, nem fazemos agora. Acreditamos na separação de poderes", assumiu.

Numa entrevista, este sábado à noite ao canal CMTV, o primeiro-ministro afirmou que há candidatos às próximas eleições legislativas com ideias "próximas" das que foram "defendidas e executadas" por José Sócrates, mas nunca se referiu ao PS ou ao seu actual líder. Passos começou por dizer que José Sócrates, indiciado por fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e corrupção passiva para acto ilícito, não é candidato às legislativas, quando questionado sobre se é possível manter o antigo chefe de governo fora da campanha. "Há ideias próximas das que defendeu e executou, mas são outros candidatos. Podem, às vezes, ser ideias muito parecidas ou próximas, mas são outros", declarou, considerando não ver razão "para trazer o engenheiro Sócrates para a campanha". Afirmou não ver que a campanha "ganhe qualquer esclarecimento em misturar as coisas", entre o plano político e o plano da Justiça.

Em dia de rentrée política para o CDS, assinalada a norte, Paulo Portas ficou a saber que os lesados do BES não vão dar tréguas ao Governo. E ontem, em Ofir, onde se deslocou para presidir ao encerramento da Escola de Quadros do CDS, teve a certeza disso. Algumas dezenas de pessoas, que colocaram as suas poupanças no BES, concentraram-se ao fim da manhã em frente ao hotel, onde pouco depois chegaria o vice-primeiro-ministro para encerrar a iniciativa, que assinalou a rentrée do partido, e que reuniu 120 jovens.

Cedo se percebeu que os lesados do BES não iriam arredar pé e que o clima era de tensão. Com uma determinação férrea, os manifestantes não de cansaram de responsabilizar o Governo de direita "por tudo" o que lhes está a acontecer. Acusações que ganhavam alguma sonoridade com o barulho dos assobios e das gaitas que exibiam os manifestantes. A polícia ainda tentou levá-los a sair do local, para evitar confrontos, mas todos disseram que não. De vez em quando tentavam avançar para a entrada do hotel, mas o friso de agentes da GNR presente impedia-lhes qualquer investida mais ousada.

O vice-primeiro-ministro mostrou disponibilidade para os receber — o interlocutor terá sido Diogo Feyo —, mas a resposta foi negativa, já que esta não terá sido a primeira vez que os lesados do BES anuíram reunir-se com o Governo, mas sem qualquer sucesso, segundo disse ao PÚBLICO Rui Alves, um dos manifestantes.

Portas sai rapidamente
Depois de discursar na sessão de encerramento, o líder do CDS ainda fez uma pausa para um café de cerca de meia hora no interior do hotel. Enquanto isso, agentes policiais, concertados com a segurança pessoal de Portas e dirigentes do partido tentavam encontrar a melhor solução para a sua saída. De dez em dez minutos, surgia como que um novo plano para a partida do vice-primeiro-ministro. A polícia ainda tentou despistar os jornalistas, encaminhando-os para uma outra porta que não a principal por onde Portas viria a sair com o argumento que seria por ali que estaria prevista a sua saída.

Por volta das 14h30 e protegido por um cordão policial e por membros da Juventude Centrista que cantavam "JC, JC", Paulo Portas abandonava o hotel, entrando no carro com a ajuda de dirigentes do partido em grande velocidade. Os manifestantes irritavam-se e o protesto ganhava novo fôlego. Insultaram o membro do Governo, correram desesperadamente atrás da viatura que o transportava, mas sem sucesso. No meio de toda esta correria e confusão, um ex-emigrante em França, que reside em Espinho, sentiu-se mal e acabou por cair no chão. Uma participante da Escola de Quadros do CDS, com o curso de socorrista, procurou reanimá-lo e quando o INEM chegou já Fernando Silva se encontrava ligeiramente restabelecido.

Alguns dos manifestantes criticaram os agentes da GNR por "estarem mais preocupados com os grandes do que em acudir a uma pessoa que se sente mal". A polícia refuta as acusações e afirma que tentou "evitar problemas maiores para todos". Entre a polícia e os jornalistas também houve uma troca de palavras mais azedas, mas sem incidentes — com os manifestantes a saírem em defesa dos jornalistas, dizendo que estavam ali a trabalhar.

 "Paulo Portas devia ter falado connosco e em vez disso saiu daqui de uma forma cobarde", disse Rui Alves, confirmando que o presidente dos centristas se disponibilizara para falar com os manifestantes. "[Para isso] tínhamos de ir embora", garantiu. "Já uma vez nos aconteceu isso, falámos sobre o que aconteceu, foi a mesma coisa que nada. Esta gente anda-nos a enganar", exaltou-se. Sublinhara antes que o "caso dos lesados do BES transformou-se num caso político e são os políticos que o têm de resolver".

Enquanto na rua os manifestantes zurziam no Governo, o líder dos centristas pedida ao partido para manter Sócrates fora da campanha. "Luto pela vitória da coligação, porque não quero, como português, que se repitam os mesmos erros, causas e consequências. Outra coisa são casos judiciais", declarou. E advertiu: "Não quero candidatos do CDS a comentá-los. Nunca o fizemos, nem fazemos agora. Acreditamos na separação de poderes." Declarando que "esta campanha eleitoral é sobre política, não é sobre casos judiciais", Portas recuou ao tempo em que era parlamentar: "Fui, porventura, o deputado que mais oposição fez ao antigo primeiro-ministro, achei que a sua política levaria Portugal à ruína e levou mesmo."

Num discurso recheado de críticas ao partido liderado por António Costa, o também vice-primeiro-ministro referiu-se à coligação PSD-CDS/PP como uma aliança que se "apresenta de forma centrada e tem um programa moderado", em contraste com o PS, "que se radicalizou manifestamente". "É o PS que diz, pela primeira vez em 40 anos, que o país pode ser governado não ao centro, mas com acordos entre o PS e os partidos à esquerda do PS. Legitimamente, nem o PC nem o Bloco aceitam o quadro europeu em que estamos integrados", afirmou. "Uma instabilidade dessa natureza daria cabo da confiança externa e da confiança interna. Peço-vos que não deixem o país entrar em rupturas dessa natureza ou convulsões dessa ordem", prosseguiu.

Depois Portas pediu que seja dado "o benefício da dúvida a uma coligação que, sendo reformista, ajudou não só o país a vencer a etapa da troika, como a ser, neste momento, um país com maior crescimento económico do que a zona euro, com criação de emprego a subir, confiança económica, com investimento".

Sugerir correcção
Ler 17 comentários