A Europa Central respirará de alívio se a Alemanha prometer ficar com os sírios

ONU apela a que a UE receba pelo menos 200 mil refugiados, mas o bloco europeu continua dividido.

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Chefes de Governo da Hungria, República Checa, Polónia e Eslováquia reuniram-se em Praga David W. Cerny/Reuters
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Polícia húngara de guarda ao comboio bloqueado na estação de Bicske Leonhard Foeger/REUTERS

Os chefes de governo da República Checa, Eslováquia, Hungria e Polónia, os Quatro de Visegrado, reuniram-se em Praga para sublinhar o seu apoio à polémica política de Budapeste em relação aos refugiados. E para frisar que se opõem a qualquer distribuição de refugiados pelos Vinte e Oito. Mas tudo se poderá resolver se a Alemanha prometer que fica mesmo com todos os refugiados sírios.

“Como expressão da sua solidariedade, os primeiros-ministros estão prontos a dar mais assistência à Hungria”, diz a declaração final do encontro. O grupo da Europa Central avançou como se poderia resolver o actual impasse que os refugiados vivem na Hungria: se Berlim e Budapeste esclarecerem as suas diferenças, República Checa e Eslováquia abririam um corredor ferroviário para levar os refugiados para a Alemanha. Com outra condição: “Se houver um compromisso público da Alemanha de que aceitará e não devolverá refugiados sírios que foram registados noutro país europeu”, afirmou o ministro do Interior checo, Milan Chovanec.

O alto comissário da ONU para os Refugiados, António Guterres, pediu “uma resposta excepcional” para a “crise maciça” que já trouxe este ano mais de 300 mil pessoas até à Europa, e criou campos de refugiados com cerca de dois milhões de pessoas na Turquia e na Jordânia, e um milhão no Lìbano. É imperativo que os europeus partilhem pelo menos 200 mil refugiados da guerra da Síria. Isso deveria permitir responder às necessidades até 2016, disse.

A Comissão Europeia anunciou novos planos para distribuir pelos Vinte e Oito mais 120 mil refugiados – o que totalizaria cerca de 160 mil, se os Estados-membros o aceitarem –, mas a União Europeia continua a mostrar-se fragmentada. Enquanto a Alemanha, França e Itália apelam a uma reforma que facilite a concessão de asilo e, ao mesmo tempo, feche a porta aos imigrantes económicos, os países da Europa Central mobilizam-se para contrariar esta tentativa de resolver o problema.

O Parlamento de Budapeste aprovou esta sexta-feira um pacote legislativo proposto pelo Governo de direita de Viktor Orbán para fazer face ao afluxo de refugiados do Médio Oriente, que incluem penas de três anos de prisão para quem cruzar a fronteira ilegalmente, ou danificar a vedação que a Hungria está a construir ao longo dos 175 km de fronteira com a Sérvia. Foi aprovado também um processo acelerado de asilo, que permite que o pedido seja feito logo na fronteira, diz a Reuters.

Na quinta-feira, um número recorde de 5600 pessoas cruzou da Grécia para a Macedónia, avançou o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). O seu próximo destino é a Sérvia e, daí, a Hungria. Mas estão a ter sérias dificuldades para sair deste país e prosseguir o seu caminho. Budapeste diz querer registar todos os refugiados que entram no seu território, e exige que a Alemanha esclareça a sua política: quer mesmo ficar com todos os sírios que estão a chegar à Europa, ou vai devolvê-los ao país onde entraram pela primeira vez no espaço Shengen, como estipulam os regulamentos de Dublin?

Na Europa Central, os mais de 300 mil refugiados que já chegaram este ano às costas do Mediterrâneo são vistos como um prenúncio de invasão. Orbán diz que podem vir a tornar-se “dezenas de milhões de pessoas”. A Polónia repete uma preocupação semelhante: “Temos de pensar em como travar a migração ilegal, se não em breve teremos três a quatro milhões de refugiados económicos”, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Grzegorz Schetyna, citado pela Reuters.

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