Os e-mails de Clinton continuam a entupir-lhe o caminho para a Casa Branca

Inspector-geral dos serviços secretos diz que encontrou mensagens "top secret" na conta pessoal da antiga secretária de Estado.

Foto
Hillary Clinton surge pela primeira vez atrás de Bernie Sanders numa sondagem Brian Snyder/Reuters

Depois de uma semana marcada pelos estilhaços do primeiro debate entre os candidatos do Partido Republicano que sonham chegar à presidência dos EUA, em particular os tiros verbais disparados pelo magnata Donald Trump, a atenção virou-se agora para a corrida no Partido Democrata, onde Hillary Clinton se deixou arrastar para um pântano de dúvidas sobre o tempo em que foi secretária de Estado, entre 2009 e 2013.

Durante esses quatro anos, Hillary Clinton usou uma conta de correio electrónico pessoal através de um servidor instalado na sua mansão em Chappaqua, no estado de Nova Iorque, para tratar de assuntos profissionais, o que tem levado os seus críticos no Partido Republicano a acusá-la de falta de transparência e de expor assuntos potencialmente confidenciais a ataques informáticos por parte dos adversários dos EUA. Em sua defesa, numa conferência de imprensa realizada em Março, Clinton disse que nunca tratou de assuntos confidenciais e que apenas quis evitar andar com dois telemóveis.

Apesar de os servidores do governo americano não estarem a salvo de ataques informáticos, como tem sido evidente na série de ataques noticiada nos últimos meses, os altos responsáveis da Casa Branca foram instruídos pelo Presidente Barack Obama a não comunicarem através dos seus e-mails pessoais – por um lado, pode ser menos seguro; por outro, torna mais difícil o trabalho da agência do governo que recolhe e preserva os documentos oficiais para a posteridade.

Em Dezembro do ano passado, ao fim de meses de pressão política dos seus adversários, Hillary Clinton decidiu entregar aos actuais responsáveis do Departamento de Estado metade dos e-mails que foram enviados e recebidos através da sua conta pessoal hdr22@clintonemail.com – das cerca de 60.000 mensagens, Clinton enviou ao Departamento de Estado metade, que considera estarem relacionadas com o seu trabalho enquanto secretária de Estado, e mandou apagar as outras 30.000, que incluiriam apenas assuntos privados, como os preparativos para o casamento da sua filha ou para o funeral da sua mãe. Quanto ao servidor em si, Hillary Clinton disse na conferência de imprensa de Março que iria permanecer onde sempre esteve – na sua mansão em Chappaqua.

O problema é que no lado do Partido Republicano – acicatado pela campanha presidencial em curso – ninguém se conformou com o método usado por Hillary Clinton para decidir o que era trabalho e o que era pessoal: o seu próprio método, sem a verificação de uma terceira parte independente.

O caso foi-se arrastando, até que esta semana houve dois desenvolvimentos importantes, que podem prejudicar a campanha de Hillary Clinton apesar de o seu nome continuar a surgir na frente nas sondagens nacionais.

Numa carta enviada a 17 membros de ambos os partidos na Câmara dos Representantes e no Senado, o inspector-geral dos serviços secretos norte-americanos, I. Charles McCullough, III, disse que a sua equipa encontrou nos e-mails que Clinton entregou pelo menos quatro mensagens marcadas como confidenciais – duas delas "top secret", a classificação mais restritiva na escala de segurança. A equipa de Clinton e o Departamento de Estado dizem que as mensagens em causa não estavam classificadas como confidenciais na altura em que foram trocadas, pelo que não existe nenhuma contradição com o que a antiga secretária de Estado sempre afirmou.

Mas Clinton acabou por ceder e entregou ao FBI o seu servidor e três "pens" digitais com e-mails que estavam na posse do seu advogado, guardadas nos escritórios de uma empresa privada em Washington D.C. – para além da investigação do Congresso, o FBI está também a avaliar se houve alguma falha de segurança no servidor, salientando que não está em causa nenhum procedimento criminal contra Hillary Clinton.

Toda esta confusão na forma como Clinton tem gerido o caso é naturalmente aproveitada pelo Partido Republicano, tem reflexos na sua já baixa taxa de "confiabilidade" nas sondagens e alguns analistas começam a questionar-se sobre o que acontecerá se o actual vice-presidente, Joe Biden, decidir entrar na corrida à nomeação pelo Partido Democrata – segundo uma sondagem da Universidade Franklin Pierce para o jornal Boston Herald, realizada entre 7 e 10 de Agosto, o apoio a uma candidatura de Biden subiu 19 pontos percentuais desde Março no estado do New Hampshire, o segundo estado a escolher os seus candidatos, a seguir ao Iowa.

Mas o indicador mais visível de que a embrulhada dos e-mails está a fazer mossa na corrida de Hillary Clinton é a subida do apoio declarado ao seu único concorrente de peso até ao momento, o socialista assumido Bernie Sanders. Apesar de continuar a liderar todas as sondagens a nível nacional (sempre com o factor "confiabilidade" em baixo), Clinton aparece pela primeira vez atrás de Sanders no estudo da Universidade Franklin Pierce sobre as intenções de voto no New Hampshire, o que o Boston Herald descreve como "uma chocante reviravolta numa corrida que já tinha sido entregue à antiga secretária de Estado" – Bernie Sanders surge agora com uma vantagem de sete pontos percentuais sobre Hillary Clinton (44-37), quando em Março perdia por uma margem de 36 pontos (44-8).

Sugerir correcção
Comentar