Michel Temer, o "fiador da estabilidade", é cada vez mais a alternativa a Dilma

À medida que a Presidente perde influência, o seu vice ganha protagonismo. À entrada para um mês difícil para o Governo, já há jogos de bastidores que preparam a subida do líder do PMDB.

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Temer é visto como o "fiador da legitimidade" do Governo, o que lhe dá cada vez mais influência no Planalto Ueslei Marcelino/Reuters

A semana horribilis de Dilma Rousseff deixou o Brasil na incerteza. Se a Presidente cair antes do final do mandato, o que é que se segue? Um cenário de eleições antecipadas, o preferido da oposição, arrisca o tumulto nos mercados, já de si severos ante o processo de ajustamento económico no Brasil e o escândalo de corrupção na Petrobras. Mas Dilma está cada vez mais fragilizada no poder e Agosto pode revelar-se ainda o pior mês de todos para a Presidente do Brasil. Daí que se comece a desenhar no Planalto um cenário alternativo.

O plano B chama-se Michel Temer, o vice-Presidente de Dilma e o líder do segundo maior partido do Governo, o PMDB. É ele quem segura por um fio a coligação no Congresso, o “fiador da estabilidade política” – termo repetido pelos jornais – num Governo fracturado e acossado por vários casos de corrupção. É também quem surge cada vez mais como um possível Presidente caso a actual não termine o mandato.

Os jogos de bastidores já começaram. Segundo os jornais Folha de São Paulo e Estadão, a cúpula do PMDB iniciou na semana passada os preparativos para ascensão de Temer à presidência. Sondaram alguns membros do PSDB de Aécio Neves, o principal partido da oposição, e receberam o apoio das federações industriais do Rio de Janeiro e São Paulo. É uma “primeira resposta positiva” num processo que “ainda não está maduro”, nas palavras do Folha.

Temer ganha influência em contraciclo com Dilma. Numa semana, a Presidente perdeu dois pequenos partidos da coligação, o PDT e o PTB, que juntos representam 44 deputados no Congresso. José Dirceu, figura maior do Partido dos Trabalhadores (PT), foi detido pela segunda vez na sua carreira política, agora no processo Lava-Jato, que investiga a rede de corrupção na Petrobras. O líder da Câmara de Deputados, Eduardo Cunha, declarou que a partir de agora fará oposição ao Governo, apesar de pertencer ao PMDB. Mais: o Congresso ignorou os apelos de Dilma e aprovou mais despesa para o Estado, sabotando assim os cortes orçamentais que o PT queria ver aprovados.

Acontece o contrário com Temer. Quanto maior é a instabilidade no Congresso, mais sobressai a sua figura apaziguadora e se torna fundamental o seu papel de ligação entre Governo e a base partidária do PMDB, que controla as duas câmaras. Quando Cunha, também sob a mira da Lava-Jato, assumiu o fim da aliança com Dilma, o vice-Presidente passou o dia reunido com elementos do Governo e do seu próprio partido a remendar relações e assegurar que a coligação se mantém. “Esta é uma crisezinha política, não se trata de instabilidade institucional”, disse há duas semanas em Nova Iorque, citado pela edição brasileira do El País.

De fiador a rebelde?
A opinião de Temer pode ter mudado. Segundo o Estadão, o líder do PMDB pensa agore que Dilma pode não sobreviver ao terramoto político em que se encontra. Não que isso vá alterar a sua postura apaziguadora. Em público, o vice-Presidente continuará a defender Dilma, “mas, reservadamente, diz estar convencido de que o perigo é real e imediato e precisa [de] ser combatido”, escreve o Estadão. Está em linha com a história do Folha de São Paulo, que cita um “aliado” de Temer. “Ele precisa ser naturalmente visto pelos políticos, pela sociedade e pelo empresariado como único agente capaz de reagrupar o país, e a ‘pecha’ de conspirador não cabe nesse cenário.”

Dilma vive um período crítico. Há novas manifestações antigovernamentais no dia 16 e, nos próximos dias, a Lava-Jato pode atingir definitivamente Eduardo Cunha – até agora, foi apenas mencionado em depoimentos de figuras detidas. Se isto acontecer, o líder da Câmara quererá afastar-se mais do PT e da Presidente, dificultando ainda mais a já difícil relação entre Planalto e Congresso.

Espera-se também que o Tribunal de Contas julgue em breve o caso das “pedaladas fiscais” de 2014. O Governo é acusado de ter atrasado a transferência de subsídios para mascarar o défice orçamental e, caso seja considerado culpado, os defensores da destituição de Dilma (impeachment, no Brasil) podem enfim conseguir um argumento legal para o fazerem.

O Partido dos Trabalhadores preocupa-se, por isso, com uma possível jogada de poder de Michel Temer e do PMDB. Na quarta-feira, o vice-Presidente disse aos jornalistas que é preciso “alguém que tenha capacidade para reunificar” o Brasil. Estas declarações foram encaradas como um sinal de que Temer tenciona afirmar-se como sucessor de Dilma – algo que foi prontamente desmentido pelo vice-Presidente. No entanto, avança o Estadão, o PT lançou já uma operação interna para retirar algum poder de Temer e distribuí-lo entre outros elementos do PMDB.

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