Isabel Pires: “Nunca pensei que o mercado laboral me interessaria tanto, a vida ensina-nos muito”

Isabel Pires, trabalhadora num call center, em 4.º lugar na lista do BE por Lisboa

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Isabel Pires, trabalhadora num call center, está em 4.º lugar na lista do BE por Lisboa Mara Carvalho

O perfil é o que tem sido traçado há muito tempo nas páginas dos jornais. Isabel Pires tem 25 anos, uma licenciatura, uma pós-graduação e nunca trabalhou na sua área de formação. Esteve sempre em call centers, a ganhar cerca de 500 euros por mês.

Não foi só por essa razão que foi escolhida para ser a número quatro na lista do BE por Lisboa às eleições legislativas. Já tem uma longa militância no BE e uma história de activismo estudantil. Sempre foi “reivindicativa”. Ainda assim, sabe na primeira pessoa o que é ser precária e, se vier a ser eleita, o mercado laboral será uma das suas principais preocupações.

Isabel Pires é natural do Porto, mas vive em Lisboa há sete anos. Estudou Ciência Política e Relações Internacionais na Universidade Nova, onde fez uma pós-graduação na mesma área. Desde que saiu da faculdade, trabalhou sempre em call centers.

É militante bloquista desde os 18 anos – faz parte da Mesa Nacional, da Comissão Política e da Comissão Concelhia de Lisboa. É deputada na Assembleia Municipal de Lisboa.

Sempre se interessou por política. Discutia-a com amigos, professores, familiares. A tal ponto que um dia o pai lhe disse que tinha de se decidir. Isabel Pires escolheu o BE. A passagem pela faculdade, em Lisboa, ficou também marcada pelo activismo estudantil. Mobilizava os colegas para greves gerais, manifestações.

Apesar deste percurso, não esconde que o facto de ser precária também pesou na escolha para integrar as listas do BE. “Vivemos um momento político tão complicado. Nas listas temos representantes de vários sectores, dos reformados, dos professores, dos precários”, explica.

Ela faz parte desse “universo de pessoas que acabou os estudos, que ainda não emigrou e que está numa situação laboral muito precária, que já não é tão temporária como isso”.

Por isso, se chegar ao Parlamento, vai dar voz a essas pessoas. Elege como algumas das prioridades a limitação legal no recurso a empresas de trabalho temporário e limitações também no recurso a programas de estágio do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). O BE defende que as empresas só devem poder voltar a beneficiar de estágios do IEFP se, no ano anterior, tiverem contratado pelo menos metade dos estagiários.

“Nunca pensei que o mercado laboral fosse uma das áreas que me interessaria tanto, mas a vida ensina-nos muita coisa. Sem segurança no trabalho e financeira, não vou poder pensar no que vou fazer daqui a dois, três anos, ou pensar em ter filhos, por exemplo”, diz.

Isabel Pires tem uma colega com quem estudou e que também foi trabalhar para o call center. Agora tomou uma decisão: em Outubro vai para Manchester à procura de trabalho. Mas só vai depois de 4 de Outubro, dia de ir às urnas nas eleições legislativas em Portugal. Quer votar antes de partir. “É algo irónico…”, remata Isabel Pires.

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