Petróleo volta a quebrar barreira dos 50 dólares

Indústria petrolífera reduz custos em 164 mil milhões para fazer face à descida dos preços.

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REUTERS/Darrin Zammit Lupi

Os preços do petróleo mantiveram-se esta quarta-feira abaixo dos 50 dólares pelo terceiro dia consecutivo. O barril de Brent fechou a valer cerca de 49,3 dólares em Londres, mesmo depois de ter negociado acima dos 50 dólares durante boa parte da sessão.

Ainda não se sabe até onde podem descer os preços do petróleo, com o valor do barril de Brent a quebrar de novo a barreira dos 50 dólares pelo terceiro dia consecutivo, mas já há uma ideia sobre quanto é que a indústria petrolífera vai cortar este ano para fazer face à queda de cotações iniciada no ano passado com o braço de ferro entre a Arábia Saudita e os produtores norte-americanos do shale oil. São números redondos, segundo a Reuters: pelo menos 180 mil milhões de dólares (cerca de 164 mil milhões de euros).

Menos investimento, menos projectos (especialmente os mais caros, como os do Ártico ou das águas ultra-profundas), e mais despedimentos têm sido a tónica dominante. Com os preços em torno dos 50 dólares (o que já não acontecia desde Janeiro) e sem sinais de alteração na estratégia da OPEP, as companhias já se estão a preparar para que os preços baixos estejam para durar. Por isso se prevê que os cortes não fiquem por aqui.

“O tom mudou”, disse recentemente o presidente da Royal Dutch Shell, Ben Van Beurden, admitindo que talvez a companhia não tivesse ainda sabido transmitir a verdadeira “dimensão de urgência” provocada pela crise de preços. Se dúvidas houvesse, ficaram desfeitas há cinco dias, quando a Shell anunciou o despedimento de 6500 trabalhadores (7% da força de trabalho) como parte de um plano de corte de custos de cerca de 3,6 mil milhões de euros.

“Estes são tempos verdadeiramente difíceis para a indústria. De Aberdeen, a Angola e a Houston… parece mesmo que voltámos a 1986”, afirmou também o presidente da BP, Bob Dudley, depois de a companhia ter visto os lucros do primeiro semestre caírem 67%. O gestor referia-se ao período entre 1985 e 1986 em que as cotações do crude caíram abruptamente para cerca de dez dólares por barril quando a OPEP quis proteger a sua quota de mercado dos produtores não-OPEP forçando a indústria a gigantescos cortes de custos.

Nesta reedição da crise de 86, o maior receio vai para o facto de o excesso de oferta no mercado se poder prolongar durante mais tempo. Até porque em 1986 não havia o fenómeno do petróleo de xisto, que tem custos de produção incomparavelmente mais baixos que o petróleo convencional. “Se os preços seguirem o caminho sugerido pela curva de [preços] futuros… a descida será maior que em 1986”, acredita a Morgan Stanley.

Segundo os analistas contactados pela Reuters, os preços deverão estabilizar em torno dos 60 dólares este ano e em 69 dólares em 2017. Em 2020, assumindo que o excesso de oferta se atenua, o preço do barril deverá rondar os 73 dólares, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE).

Apesar de o corte de custos ter permitido ao sector reduzir em cerca de dez dólares o break-even point para cada barril, em 2016 ainda continuará a precisar que cada um seja vendido a 82 dólares para cobrir custos e pagar dividendos. Essa é pelo menos a análise feita pela casa de investimento Jefferies, numa nota divulgada na quarta-feira. “Para cobrir esse intervalo as companhias vão recorrer a financiamentos. Embora o endividamento ainda seja aceitável dentro do sector, não é uma prática que se possa manter indefinidamente”, sublinha a nota, citada pela Reuters.

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