Grécia aprova novas medidas dos credores, mas divisões no Syriza mantêm-se

Voto favorável em reformas bancárias e Justiça foi esmagador. Trinta e seis deputados da ala esquerda do Syriza votaram contra e Varoufakis passou para o lado do Governo.

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As medidas passaram com facilidade no Parlamento, mas Tsipras tem ainda em mãos uma divisão no seu partido Alkis Konstantinidis/Reuters

Era já de madrugada quando o Parlamento grego aprovou com larga maioria um novo pacote de medidas exigidas pelos credores para o começo das negociações do novo resgate financeiro à Grécia. Já depois das duas da manhã desta quinta-feira, 230 deputados votaram favoravelmente reformas no sector bancário e na Justiça, contra 63 que se opuseram.

A aprovação destas medidas nunca esteve verdadeiramente em causa e as atenções estavam voltadas para o comportamento dos deputados mais à esquerda do Syriza. E, tal como aconteceu há uma semana, quando o Parlamento discutiu uma difícil subida no IVA, houve nova revolta no maior partido do Governo.

Trinta e seis deputados do Syriza abstiveram-se ou votaram contra as reformas propostas pelo executivo, menos três, contudo, do que os 39 que o fizeram na semana passada. Yanis Varoufakis, o ex-ministro grego das Finanças, foi um dos que reviu a sua posição contrária e, nesta quinta-feira, deu voto "Sim". Num artigo publicado no site The Press Project, o ex-ministro das Finanças explica que concorda com as medidas aprovadas nesta quinta e que as propôs já no passado. Em todo o caso, ressalva: "Estou convencido de que, infelizmente, o meu voto não vai ajudar o Governo e a nossa causa comum."

As medidas aprovadas nesta quinta-feira são, aliás, menos severas do que a escalada no IVA da semana passada. Do exaustivo documento de 900 páginas - motivo de protestos no Parlamento  – retiram-se, essencialmente, regras europeias para proteger contribuintes e pequenos depositantes no caso da falência de um banco e alterações no Código de Justiça que permitirão acelerar alguns processos. 

“Fizemos escolhas difíceis, e eu pessoalmente fiz escolhas difíceis e responsáveis”, disse o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, num discurso ao Parlamento antes do voto final desta quinta-feira. Tsipras falava sobretudo aos seus próprios deputados e dissidentes. “Escolhemos um compromisso difícil para evitar os planos mais extremos dos círculos mais extremos da Europa”.

Não surtiu grande efeito. O grosso da contestação no interior do Syriza mantém-se e, com ela, também a incerteza sobre o que poderá ser o futuro do Governo grego. Juntos, Syriza e Gregos Independentes têm 162 deputados no Parlamento de 300 lugares – 149 pertencem ao Syriza e 13 ao pequeno partido de direita. Sem os mais de três dezenas de deputados em cisão no partido de esquerda, Alexis Tsipras perde a maioria parlamentar. E não se espera que a oposição europeísta, que tem votado favoravelmente as medidas exigidas pelos credores, se mantenha do lado do Governo noutras medidas.

Aprovado este novo pacote de medidas, o Governo pode avançar já nesta quinta-feira para as negociações do terceiro programa. A intenção do executivo é que este processo, que se antevê difícil, possa estar concluído até dia 20 de Agosto, dia em que o país tem de reembolsar 3190 milhões de euros ao Banco Central Europeu (BCE). Antes dessa data, o Governo grego quer afastar o cenário de eleições antecipadas.

Mas esse não é um assunto tabu. Tsipras admitiu na terça-feira convocar um congresso do Syriza para Setembro, onde se espera que será debatida a possibilidade de eleições antecipadas. “Podemos ir para eleições, caso isso seja necessário”, disse na quarta-feira a porta-voz do Governo, Olga Gerovasili, citada pela Reuters. “Estamos a tentar trazer a situação de regresso à normalidade.”

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