Activistas pedem a Obama para não receber Presidente chinês

Líder de Pequim vai a Washington em Setembro. Grupos dizem que a situação dos direitos humanos piorou desde que Xi Jinping chegou ao poder.

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XI e Obama encontraram-se em território dos EUA na Califórnia, em 2013 Jewel Samad/AFP

Um grupo de activistas dos direitos humanos da China enviou uma carta ao Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a pedir-lhe para não receber Xi Jinping em Setembro. Acusam o chefe de Estado chinês de ter lançado uma campanha de repressão e silenciamento de activistas e advogados.

De acordo com o grupo de Hong Kong China Human Rights Lawyers Concern Group, citado pelo jornal The Guardian, 145 activistas e advogados (alguns deles especializados em casos de direitos humanos) foram detidos na última semana, numa campanha contra a sociedade civil. A Amnistia Internacional, também citada por este jornal britânico, diz que, actualmente, ainda estão detidos para averiguações "perto de 25".

A primeira a ser detida terá sido Wang Yu, advogada de uma empresa de Pequim que aceita casos políticos sensíveis. Seguiram-se outros, tendo alguns deles assinado uma petição para a libertação de Wang.

"Desde que Xi chegou ao poder [em 2012] que a situação dos direitos humanos na China tem piorado", diz o documento que os activistas enviaram para Washington — fizeram um abaixo assinado mas apenas recolherem cerca de 1400 assinaturas, quando precisavam de cem mil para terem uma resposta oficial ao seu pedido para Obama não receber Xi, que estará em visita oficial aos Estados Unidos em Setembro.

"Os Estados Unidos têm a responsabilidade moral de reagir ao que se passa na China. São a única potência que pode fazer de contrabalanço [a Pequim]. Por isso, esperamos que Obama tome decisões", disse ao Guardian Wen Yunchao, uma conhecida blogger pró-democracia que apoia a petição.

"A visita aos Estados Unidos prevista para Setembro deve ser cancelada, e todas a trocas oficiais com o Governo chinês devem ser suspensas até que este assunto seja resolvido", diz o documento.

De Washington não surgiu uma resposta oficial, mas um porta-voz do Departamento de Estado disse que o Governo americano "está atento aos relatos que dão conta do facto de as forças da ordem estarem sistematicamente a deter indivíduos que, em comum, têm a defesa dos direitos humanos, incluindo aqueles que através da lei desafiam as políticas oficiais".

Xi já visitou Obama nos Estados Unidos, em 2013, mas na Califórnia. É a primeira vez que o Presidente chinês vai a Washington em visita oficial destinada a criar solidez em laços cuja deterioração — em parte devido à ascenção chinesa no mercado global e à suas reivindicações territoriais no Mar do Sul da China — coincide com o fim do segundo e último mandato de Obama.

As autoridades chinesas negaram que as detenções da última semana sejam uma perseguição e repressão de advogados que defendem certas causas — no início de Julho o Governo chinês aprovou uma nova lei de defesa nacional que lhe dá amplos poderes para agir em defesa da "segurança política e social", e algumas organizações disseram que era um instrumento de repressão contra os defensores dos direitos humanos e os opositores do regime. Através dos media oficiais, Pequim esclareceu que se tratou de desmantelar "um gangue com quem estavam envolvidos advogados" (Global Times).

A agência Xinuha (Nova China) acusou os media ocidentais de, apesar de não conhecerem "os factos e os pormenores" do caso, estarem a defender advogados "que só pensam nos seus próprios interesses e que no lugar do coração só têm a fama".

O jornal Guardian tentou ouvir alguns advogados, mas teve dificuldade. Um dos que foi detido e libertado disse que a operação contra a sua classe foi "em larga escala, como se fosse um incidente político". Outro explicou que "provavelmente" tinha o telefone debaixo de escuta e que não podia "comentar o caso".

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