Edoardo e a iniciação sexual

Os dilemas da iniciação sexual num filme com a sensibilidade de intuir que estas questões são menos do corpo do que da cabeça

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A adolescência já de si é uma coisa complicada sem precisar de haver uma questão fisiológica a cair-lhe em cima.

No caso de Edoardo, um puto de Pisa que tem uma paixoneta platónica pela vizinha e um melhor amigo que não pensa noutra coisa que não seja sexo, o facto de ter um prepúcio mais curto e mais grosso do que é normal torna qualquer tipo de actividade sexual dolorosa — e contra-indicada enquanto a situação não for resolvida cirurgicamente. Felizmente, o estreante italiano Duccio Chiarini recusa-se a levar a coisa pelo lado da comédia brejeira e boçal, preferindo abordar o “problema” de Edo com delicadeza e demonstrando que, nesta idade, as questões estão muito menos no corpo do que na cabeça. Justapondo os dilemas da iniciação sexual de Edo com o desagregar da relação entre os pais e as dúvidas levantadas pelos seus sentimentos por Bianca, a vizinha que se candidatou à Sorbonne, e Elisabetta, a cantora do grupo rock que gosta de Haruki Murakami, Chiarini navega elegantemente por entre os escolhos onde tantos filmes sobre a adolescência naufragam, e sai-se com uma fita atenta, que tem pessoas lá dentro e não criações literárias, que não descobre pólvora de espécie nenhuma mas é desarmantemente bem observada. 

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