Santos Silva: “Fui censurado pela TVI. A censura está de regresso a Portugal”

Fernando Medina, uma das “apostas do PS de António Costa”, é o novo comentador da TVI24.

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Estava previsto que o programa de Santos Silva acabasse no final do mês Raquel Esperança/Arquivo

O antigo ministro socialista Augusto Santos Silva soube nesta terça-feira, no próprio dia, que afinal o seu programa na estação de Queluz não iria para o ar, como estava combinado. “Fui censurado pela TVI. 41 anos depois do 25 de Abril, a censura está de regresso a Portugal.” Em vez deste habitual comentário político, será exibido um debate sobre a entrevista do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho à SIC. A TVI considera que a entrevista do primeiro-ministro justifica alterações na programação e que essas mudanças são comuns.

O ex-ministro Santos Silva não poupa a estação televisiva nas críticas e escreveu uma publicação no Facebook na qual acusa a estação televisiva de "censura", queixando-se de ter sido informado no próprio dia de que o seu comentário afinal não iria ser transmitido. 

Já se sabia que a colaboração de Santos Silva iria cessar, por vontade da TVI, mas o que tinha ficado acordado, frisa o ex-governante, era que até ao final deste mês os programas seriam transmitidos. A rubrica terminaria no fim do mês, o que significa que deveria ir para o ar nesta terça-feira e, ainda, a 21 e 28 de Julho. Na segunda-feira, aliás, a TVI confirmou ao antigo governante que haveria programa nesta terça-feira: “Em consequência, preparei-me e desloquei-me do Porto para Lisboa”, escreve na rede social.

Nesta terça, porém, a TVI terá mudado a programação e, "às 16h52", "a cerca de seis horas do início da rubrica", emitida em directo, Santos Silva diz ter recebido um telefonema do departamento de agenda da estação, no qual lhe foi comunicado que o programa Política Mesmo, em que a rubrica se insere, não seria exibido. Em substituição, acrescenta, será transmitido um debate sobre a entrevista do primeiro-ministro à SIC. “Perguntei porquê, foi-me respondido que se tratava de uma decisão editorial”, conta.

“Deixemos por enquanto de lado a má educação de tudo isto: eu, autor de Os Porquês da Política, vou ser impedido de realizar o meu próprio programa, de que sou responsável nos termos de um contrato de prestação de serviços que se encontra em vigor até ao fim de Julho. Isto tem um nome: censura. Censura é impedir administrativamente que alguém com direito à palavra a possa exercer, para que o conteúdo dessa palavra não seja acessível ao público”, escreve. O antigo ministro não tem qualquer espécie de dúvida: “Fui censurado pela TVI. 41 anos depois do 25 de Abril, a censura está de regresso a Portugal.”

"Situação comum"
Ao PÚBLICO e por email, a direcção de informação esclareceu que a programação desta terça-feira da TVI24 “sofreu alterações em consequência de acontecimentos da actualidade”. Para a direcção, a entrevista de Passos “justifica” a realização de um debate, “com uma análise mais alargada”. Além disso, sublinham, “este tipo de situação é comum, nos canais de notícias do cabo”.

No final de Junho, ficou a saber-se que o socialista Augusto Santos Silva iria ser afastado do comentário político que mantinha na estação televisiva desde Janeiro de 2012 e que a sua colaboração terminaria no final deste mês. 

O ex-ministro de António Guterres e José Sócrates já tinha criticado antes, várias vezes e publicamente, as alterações de horário e até o cancelamento da rubrica que habitualmente devia ir para o ar às terças na TVI24, no programa Política Mesmo

Os horários d'Os Porquês da Política começaram a ser alterados quando a TVI ganhou os direitos de transmissão da Liga dos Campeões e voltaram a ser alvo de mudanças por causa dos jogos da Copa América. Santos Silva não gostava destas alterações e comentou-o no Facebook.

Quando, no final do mês, reagiu ao seu afastamento, o antigo ministro dos Assuntos Parlamentares disse ao PÚBLICO que entendia a questão das audiências, mas compreendia “menos” a existência de oscilações de horários “tão variáveis”, por vezes “para o dia seguinte” e até mudanças sem que houvesse desporto.

Medina inicia em Setembro
No mesmo dia em que estala a polémica entre a estação de Queluz e o antigo ministro, a TVI enviou uma nota às redacções dando conta da nova escolha da área socialista para o comentário político: o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, será o novo comentador regular da TVI24, iniciando já em Setembro um espaço de opinião semanal. 

A nota enviada à comunicação social justifica a escolha de Medina, salientando, entre outras razões, o facto de ser o presidente da Câmara de Lisboa e “uma das mais importantes apostas do PS de António Costa para o futuro do partido”. Fernando Medina assumiu o lugar à frente da autarquia de Lisboa, depois da renúncia ao cargo do actual secretário-geral do PS, em Abril de 2015.

Natural do Porto, o economista já foi secretário de Estado nos dois governos de José Sócrates, vice-presidente da bancada parlamentar socialista e é membro do secretariado nacional do PS.

De acordo com comunicado, haverá “mais novidades” quanto ao painel de comentadores da TVI24 que “serão oportunamente anunciadas”. Mas nem da parte de Fernando Medina, nem da estação de Queluz foi possível confirmar a substituição do antigo ministro Augusto Santos Silva, com quem a estação cessou a colaboração, pelo actual autarca no programa Política Mesmo.

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