Europa e Grécia, o eterno desacordo

O optimismo com que começou o Eurogrupo foi fugaz. O caso grego continua adiado, perigosamente.

Pela enésima vez, o caso grego encontra-se numa encruzilhada. Já houve demasiados dias “decisivos” que não o foram, demasiadas declarações de optimismo sem sustentação, e as manobras políticas que pareciam, ontem, conduzir finalmente a um acordo, tropeçaram em novos impedimentos. O que os gregos fizeram, nos últimos dias, foi jogar os trunfos que lhes restavam. Primeiro com o referendo, que na verdade serviu mais para consumo interno do que externo, depois com um reformular da proposta grega que, incrivelmente, a tornou bem mais próxima daquela que o referendo derrotou, ou seja, a da troika. Tudo parecia jogar-se já numa teia de números, prazos, percentagens, abrangências (taxas do IVA, do IRC, isenções fiscais, custos de insularidade – e tantas ilhas tem a Grécia! –, pensões e salários, despesas militares e privatizações), mas essa aparência era ilusória, porque na verdade os principais obstáculos continuam a ser políticos. E as decisões terão também de ser políticas, porque é na política que frequentemente se esbarra, não nos pormenores da dívida, não nas finanças, não na economia. A Europa não tem sido capaz, no seu conjunto, de lidar com este caso da forma certa, e isso tem não apenas dilacerado a Grécia, e principalmente o seu povo, como a própria arquitectura da União Europeia. Se a França tem, neste capítulo, sido o suporte “clandestino” dos gregos, ajudando a chegar a uma solução que possa ser consensual na União (não é por acaso que Hollande veio a público dizer que as propostas gregas são “sérias e credíveis”, ele sabe do que fala), já a Alemanha, mantendo a sua recusa a aceitar alterações sensíveis à proposta da troika (a tal que o referendo grego claramente rejeitou, mas que apesar disso já “contaminou” em parte a nova proposta do governo de Alexis Tsipras), dificulta qualquer avanço. Se à Alemanha juntarmos as posições dos países nórdicos, parece estarmos num beco sem saída. Negociar é um processo controlado de cedências de ambas as partes? Sim, mas não para alemães e nórdicos. Os gregos, mesmo com o referendo, parecem ter compreendido que é obrigatório entrarem num jogo de cedências para preservar o essencial, ou seja, uma situação que impeça um estrangulamento fatal da economia grega e um deslizar, que só a longo prazo seria reversível, para uma situação de miséria colectiva. Contudo, a Alemanha, a Finlândia, a Suécia e a Dinamarca são ferozes opositores de cedências. O que, politicamente, além de ser um erro crasso, não nos conduzirá a lado algum. Ontem, foi a Finlândia que veio a público ameaçar que iria barrar o acordo com a Grécia. Isto depois de a reunião do Eurogrupo ter começado com alguns sinais de esperança. Mas quer a posição alemã (Schäuble teria já desenhado dois caminhos possíveis: ou a Grécia se comprometia com ainda mais austeridade ou ficaria de fora da zona euro por um mínimo de cinco anos) quer a posições dos nórdicos, secundados por outros países, puseram termo ao optimismo. Hoje continua, este eterno desacordo. Terá fim?

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