Um filme à procura de uma história de amor

Um “filme de actores” modesto e honesto, que evita com justeza as armadilhas que tinha no caminho.

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O espantoso casal de O Astrágalo formado por Leïla Bekhti e Reda Kateb DR

Se se percorre O Astrágalo com uma sensação de “já termos visto isto em qualquer lado” – o romantismo livre de desafiar os tabus da França do pós-II Guerra Mundial, uma busca da identidade existencialista rodada num preto e branco cristalino –, isso não é inteiramente casual.

Esta adaptação do romance autobiográfico homónimo de Albertine Sarrazin, a primeira mulher francesa a contar abertamente em livro a sua vida de pequena criminosa e prostituta, deve-se à actriz e realizadora Brigitte Sy, ex-companheira de Philippe Garrel. Não se quer com isto dizer que Sy tenha feito um filme “à Garrel”, antes que se reconhece aqui um tom e uma estética comuns dentro de um certo modelo francês de cinema de autor.

Dito isto, O Astrágalo é menos um filme “à maneira de” e mais um filme “à procura de”: à procura do melhor modo de contar a sua história de amor entre dois pequenos criminosos procurando reinventar-se numa França que parece não lhes querer dar grandes hipóteses, sem cair no romantismo exacerbado ou no realismo social. Consegue-o graças à entrega do seu elenco (e sobretudo do espantoso casal formado por Leïla Bekhti e Reda Kateb), como é normal nos filmes realizados por actores; mas também graças à sensibilidade de uma realizadora que, no seu segundo filme em nome próprio, prova ter maior controlo formal que narrativo mas que sabe evitar as piores armadilhas que se colocam neste tipo de histórias. Sem ser um grande filme, é um filme bem interessante e muito honesto na sua modéstia.

 

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