UE tenta acordo voluntário para redistribuir 40 mil migrantes

Já chegaram mais pessoas à Grécia do que a Itália desde o início do ano em busca de asilo, diz a agência Frontex.

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Imigrantes afegãos à espera de serem registados na ilha de Lesbos, na Grécia LOUISA GOULIAMAKI/AFP

Os imigrantes africanos que acampam nas rochas da costa em Ventimiglia, impedidos pela polícia de passar a fronteira de Itália pelas autoridades francesas, para daí continuarem o caminho até outros países do Norte da Europa, mostram como a imigração se tornou um problema de toda a União Europeia. O plano da Comissão Europeia para distribuir cerca de 40 mil migrantes pelos Vinte e Oito, que está para aprovação nesta cimeira europeia de 25 e 26 de Junho, enfrenta grandes resistências.

O plano devia ser obrigatório e não deverá passar de voluntário, pois os países da Europa da Leste e Espanha opõem-se à ideia de redistribuir cerca de 40 mil pessoas, entre sírios e eritreus (26 mil transferidos de Itália e 14 mil da Grécia) pelos vários países europeus, de acordo com critérios como o PIB de cada país, a taxa de desemprego, a população e o número de pedidos de asilo já registados. O primeiro-ministro húngaro classificou o plano como “roçando a insanidade”.

Mas a Irlanda e a Dinamarca, que beneficiam de uma isenção no domínio da imigração, tal como o Reino Unido, podem estar dispostos a participar, escreve o Libération. O mesmo acontece com a Suíça, a Noruega e o Liechtenstein, que fazem parte do Espaço Económico Europeu.

As resistências, no entanto, são grandes. Ninguém quer ver passar imigrantes de um país para outro. Por isso foi o caos esta semana em Calais, onde alguns dos milhares de imigrantes que esperam uma oportunidade para cruzar o mar de França para Inglaterra se lançaram para camiões em movimento no túnel da Mancha, tentando apanhar uma boleia. O primeiro-ministro David Cameron anunciou que pode vir a reforçar os controlos fronteiriços.

Estes acontecimentos são reflexos secundários do que se passa nas costas italianas e gregas, onde chegam a maior parte dos imigrantes sem documentos que cruzam o Mediterrâneo. Segundo a Frontex, a agência responsável pelas fronteiras exteriores da UE, até ao fim de Maio, 48.015 pessoas chegaram à Grécia, a maioria vindas da Síria (27.275) através da Turquia. A Itália, chegaram um pouco menos: 47.008,quase todos africanos (10.000 da Eritreia), e cujo último porto de origem é a Líbia.

A Frontex contabiliza em 153 mil os imigrantes que chegaram à Europa já este ano. “É um aumento de 149% em relação ao período equivalente em 2014.”

Neste momento, no entanto, a UE apenas tem uma acção concertada para salvar os imigrantes que chegaram a Itália – e isso após um naufrágio em que morreram 900 pessoas, e os líderes europeus se viram forçados a reforçar a missão Tritão. Esta semana, começou uma segunda fase, a missão Navfor Med, que visa as redes de tráfico de imigrantes na Líbia. Com cinco navios de guerra, dois submarinos, dois aviões, dois drones e três helicópteros, esperam recolher informações – sem entrar em águas líbias, pois não têm luz verde nem do Conselho de Segurança da ONU nem do governo líbio reconhecido internacionalmente (há dois, neste momento).

Mas o país europeu onde mais cresceu o afluxo de imigrantes foi a Hungria: mais de 50 mil imigrantes até 31 de Maio. É um aumento de 880% em relação a 2015. Este caminho é feito por migrantes que entraram na UE através da Grécia e da Bulgária e tentam chegar à Alemanha, ou aos países Nórdicos.

Esta pressão inesperada levou o Governo de Budapeste a afirmar que deixaria de receber os imigrantes que a Áustria mandasse para trás. Mas isso violaria os acordos de Dublin sobre a imigração, e Viena ameaçou repor os controlos fronteiriços, enquanto Bruxelas pediu explicações imediatas. Budapeste voltou atrás.

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