Eurogrupo falhado passa tentativa de acordo para líderes da zona euro

Cimeira de líderes da zona euro extraordinária convocada para segunda-feira apresentada como a última oportunidade para evitar incumprimento grego face ao FMI no fim do mês. Lagarde diz que são precisos “adultos na sala”. Varoufakis diz que a proposta grega é “completa”.

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Varoufakis e Lagarde THIERRY MONASSE/AFP

Poucos tinham esperança que se chegasse a um acordo sobre a Grécia nesta reunião do Eurogrupo, mas o encontro conseguiu mesmo assim ficar abaixo das expectativas. No final da reunião, que foi particularmente tensa, as posições da Grécia e dos seus credores continuam tão afastadas como antes. E é difícil vislumbrar nas declarações dos vários intervenientes qual o caminho possível para se chegar a um acordo, na próxima segunda feira, na cimeira de líderes da zona euro convocada de emergência.

Segundo um porta-voz do ministério das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis levou consigo para a reunião um documento de cinco páginas com novas propostas gregas, para apresentá-las aos seus homólogos europeus, mas visivelmente o ministro grego voltou a não convencer os seus interlocutores europeus.

Na conferência de imprensa que se seguiu à reunião, o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, disse que “muito poucas medidas foram apresentadas [pela Grécia] que sejam credíveis”. E alertou para o facto de já haver muito pouco tempo para aprovar qualquer financiamento à Grécia antes do dia 30 de Junho, a data em que o actual programa expira, deixando de forma inédita a garantia de que a zona euro “está preparada para todas as eventualidades”.

O tom de crítica em relação ao executivo grego foi mais alto do que nunca entre as instituições da troika. O comissário europeu para os Assuntos Económicos e Financeiros, Pierre Moscovici, avisou que a Grécia arrisca um “cenário catastrófico” se não actuar com seriedade nas negociações. "Esperava ao menos que esta reunião fosse útil, mas não tenho a certeza que se possa utilizar esse adjectivo”, disse

Christine Lagarde, a directora-geral do FMI, foi a mais contundente. Disse ainda “estar à espera” das respostas gregas e afirmou que um acordo apenas será possível “se estiverem adultos na sala”. O descontentamento de Lagarde em relação aos responsáveis do executivo grego é evidente, com alguns jornais gregos a noticiarem que a líder do FMI cumprimentou o ministro grego das Finanças afirmando que “aqui se apresenta a chefe criminosa”, numa referência às declarações de Alexis Tsipras, durante a semana, em que defendia que o Fundo tinha “responsabilidades criminais” na situação grega.

Os mesmo jornais gregos dizem que Yanis Varoufakis terá pedido desculpa pelo seu primeiro-ministro, garantindo que ele já teria explicado essas afirmações. E na conferência de imprensa garantiu que não sente qualquer desconforto no relacionamento que tem com Christine Lagarde, apesar de esta aparentemente não o ver como adulto.

O ministro da Finanças grego respondeu, contudo, às acusações de não apresentar propostas credíveis. Diz que o que foi exposto ao Eurogrupo foi uma proposta “completa”, “muito razoável” e “que poderia acabar com a crise já esta noite”.

Detalhou que incluem, por exemplo, “um largo plano de privatizações a dez anos”, a “liberalização dos mercados de bens e serviços” e um “novo programa de reformas desenhado em conjunto com a OCDE”. Varoufakis disse ainda que entregou aos seus colegas uma nova “mostra de boa vontade”, com o objectivo de reduzir o medo dos outros Governos de que o défice grego volte a derrapar: “Se o nosso Conselho das Finanças Públicas (uma entidade independente) antecipar um regresso aos défices primários são accionados automaticamente, sem necessidade de passagem pelo parlamento, cortes orçamentais”.

Na prática, Varoufakis disse que o Governo grego aceita aplicar qualquer reforma, incluindo na Segurança Social e nos impostos, desde que não inclua cortes nos valores das pensões e um agravamento das taxas do IVA. Mas insistiu também num alívio dos pagamentos da dívida grega, que seria conseguido, de acordo com a proposta de Atenas, através da transferência dos títulos de dívida grega detidos pelo BCE para o Fundo de Estabilidade Europeu.

O ministro grego deixou também os seus próprios alertas. “Estamos perigosamente perto de um estado de espírito que aceita a possibilidade de um acidente”, disse, não colocando, contudo, a hipótese de saída do euro em cima da mesa. “Uma União Monetária não é um regime de câmbios fixos, nem uma simples ligação de uma moeda sul-americana ao dólar”, afirmou.

Tempo a esgotar-se

Antes da reunião do Eurogrupo, a directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, tinha confirmado que não haverá mais prorrogações para a Grécia no que toca a pagamentos. "Há um vencimento no dia 30 de Junho", afirmou, e se esse pagamento não for efectuado "a Grécia estará em situação de incumprimento no que toca ao FMI": "A partir desse momento, as regras do fundo proíbem-nos de proceder a qualquer desembolso de fundos", esclareceu.

Um acordo rápido com os credores, que desbloqueie os 7200 milhões que Atenas ainda pode receber do seu empréstimo europeu, parece, por isso, ser a única hipótese para evitar uma situação de incumprimento já no final do mês de Junho. 

E um não pagamento ao FMI teria consequências também nos outros empréstimos internacionais, avisou Klaus Regling, o presidente do fundo de resgate europeu (ESM). "O nosso empréstimo está ligado ao do FMI; caso haja um não pagamento ao FMI, trata-se de um evento de incumprimento, e temos a possibilidade de acelerar o nosso empréstimo", disse Regling. A Grécia deve cerca de 130 mil milhões de euros ao ESM e ao seu antecessor, o EFSF.

Comprovando a gravidade e urgência da situação, o Presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, anunciou, poucos minutos depois da reunião do Eurogrupo ter acabado, que vai convocar uma cimeira extraordinária dos líderes da zona euro na próxima segunda-feira, declarando que "chegou a hora de discutir a situação da Grécia ao mais alto nível político." Antes dessa reunião de chefes de Estado deverá ainda ter lugar mais um Eurogrupo, para preparar a cimeira, muito provavelmente por teleconferência.

Perspectiva-se, por isso, uma maratona de reuniões extraordinárias, desta vez envolvendo directamente os líderes dos governos, para tentar evitar uma bancarrota grega no final do mês de Junho. Até lá, os parceiros europeus esperam que o Governo grego apresente propostas "credíveis", que possam formar a base um entendimento.

Mas a quebra de confiança total que parece existir entre o Governo grego e os seus credores torna difícil antecipar as formas que poderá tomar uma proposta que seja aceitável para todas as partes. E há ainda a situação dos bancos gregos, cada vez mais pressionados pela corrida aos depósitos por parte dos seus clientes. De acordo com a Reuters, que obteve a informação junto de duas pessoas presentes no Eurogrupo, os responsáveis do BCE não deram garantias em relação até quando é que os bancos podem ficar abertos. “Amanhã sim, segunda feira não sei”, terá dito o membro do conselho executivo do banco central, Benoit Coeure.

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