Antigo chefe da segurança da China condenado a prisão perpétua

Zhou Yongkang foi acusado de corrupção, mas o seu grande crime, dizem os analistas, foi ter apoiado Bo Xilai.

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Imagem que a CCTV passou do julgamento de Zhou Yongkang AFP
O julgamento foi à porta fechada
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Zhou em Março de 2012 Jason Lee/Reuters

Zhou Yongkang, que foi um dos homens mais poderosos da China, responsável pela segurança interna e membro do Comité Permanente do Politburo, foi esta quinta-feira condenado a prisão perpétua por crimes de corrupção, abuso de poder e violação de segredos de Estado. A sua queda foi motivada pelo programa de combate à corrupção mas é também uma consequência da luta pelo poder que as facções travaram em 2012.

"Aceito as acusações e os factos são claros; aceito a minha punição", disse Zhou no tribunal, segundo a agência de notícias oficial, a Nova China (Xinhua).

O antigo homem forte da segurança interna chinesa deixou de ser visto em público em Outubro de 2013, sabendo-se que estava a ser investigado por possíveis crimes de corrupção. Só no passado mês de Abril foi formalmente acusado. No dia 22 de Maio foi julgado à porta fechada e, nesta quinta-feira, o tribunal da cidade de Tianjin (Norte) onde decorreu o processo emitiu a sentença, que foi lida na televisão pública.

Segundo a Nova China, Zhou, de 72 anos, decidiu não recorrer do veredicto ou da sentença.

Uma fonte ligada ao processo disse à Reuters que Zhou, que quando foi o responsável máximo da segurança interna era ministro da polícia, esteve sempre guardado por soldados e que a sua atitude no tribunal foi "sempre boa". "Durante os interrogatórios mostrou-se sempre cooperante", disse a fonte.

A Nova China divulgou um documento de uma página e meia com as explicações do tribunal sobre as acusações. Não deu pormenores sobre os documentos secretos que Zhou divulgou – diz apenas que deu seis documentos secretos a um homem identificado como Cao Yongzheng –, mas foi mais explícita sobre os subornos. Segundo a agência noticiosa chinesa, a mulher e o filho de Zhou, que testemunharam através de uma ligação vídeo,  receberam 129 milhões de yuans (18,4 milhões de euros) em dinheiro e propriedades. Outras duas pessoas, concluiu o tribunal, colaboraram em esquemas, por ordem directa de Zhou, para a obtenção ilícita de dinheiro: o antigo director da companhia nacional de petróleo, Jiang Jiemin (que já foi julgado e espera sentença e que testemunhou no julgamento de Zhou) e o alto responsável do partido de  Sichuan,  Li  Chuncheng.

De acordo com a acusação, os crimes de Zhou Yongkang foram cometidos ao longo de várias décadas, incluindo quando foi o responsável máximo pela empresa estatal de petróleo. Também foi chefe do Partido Comunista na província de Sichuan, ministro da segurança pública e membro do Comité Permanente do Politburo, o órgão mais poderoso da China. Em 2012, Zhou retirou-se da vida pública.

Mas esse foi também o ano da mudança nas estruturas do poder - o Presidente muda de dez em dez anos -, acompanhada das inevitáveis guerras entre facções. Segundo os analistas, Zhou participou nessa luta, tentando manobrar para manter em cargos chave homens da sua confiança, segurando dessa forma influência e regalias. Foi um dos defensores de Bo Xilai, estrela em ascenção no partido, com aspirações a chegar ao Comité Permanente e que foi acusado de corrupção e condenado a prisão perpétua.

Zhou perdeu o jogo pelo poder e, diz a Reuters, o homem escolhido para Presidente, Xi Jinping, garantiu que seria punido. "Aos olhos de Xi Jinping e de outros dirigentes, o grande crime de Zhou foi ter apoiado Bo Xilai", disse à AFP Willy Lam, da Universidade Chinesa de Hong Kong.

Pouco depois de assumir o poder, Xi referiu que a corrupção era uma ameaça ao Partido Comunista e garantiu que iria investigar todos os sectores da estrutura do poder, não excluindo ninguém; usou a metáfora das "moscas" e dos "tigres" para reforçar que iria aos funcionários no fundo da hierarquia e aos mais poderosos. Já foram acusados de corrupção funcionários de todos os níveis e mesmo generais, mas até ao momento Zhou foi o único antigo membro do Comité Permanente do Politburo atingido pela guerra à corrupção.

 

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