Tragédias do quotidiano

Enganadoramente simples, Timbuktu é um delicado e humanista apelo à tolerância.

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Timbuktu: filme enganadoramente simples, de uma eloquência discreta DR

“Faço a jihad a mim mesmo, tenho lá tempo para a jihad dos outros”, diz às tantas um ancião da cidade maliana de Timbuktu aos guerrilheiros do Ansar Dine que ocuparam o local e impõem aos residentes a sua versão fundamentalista do Islão.

Não é difícil ver na quarta longa-metragem do mauritano Abderrahmane Sissako o equivalente desse ancião que já viu e viveu muito, e por isso abana a cabeça e lamenta as tragédias que se acumulam em nome de uma interpretação da palavra do Profeta. É também esse tom resignado mas desafiador que subjaz a um filme enganadoramente simples, de uma eloquência discreta e paciente, que se constrói aos poucos em frente ao espectador a partir do que parecem ser vinhetas, anedotas ou episódios de um quotidiano onde se confrontam a tradição e o colonialismo, culturais ou religiosos, antes de florescer numa tragédia quotidiana tratada com tanto humanismo como delicadeza. O futebol pode ser proibido em Timbuktu, mas isso não impede os jihadistas de contraporem o Barcelona ao Real Madrid.

 

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