O mal-estar húngaro

Um “filme-sintoma”. E em vez de zombies ou extraterrestres, temos cães rafeiros.

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Deus Branco: o profundo mal-estar na Europa dos anos 2010 DR

É um filme suficientemente estranho (desde a dedicatória inicial a Miklos Jancsó) para se ver sempre com interesse, mesmo que a ideia (a revolta dos cães rafeiros de Budapeste) seja melhor do que aquilo que o filme acaba por ser – e em particular aquele final, demasiado preparado, demasiado composto.

Mas é impossível deixar de o ver como um “filme-sintoma”, ao género dos que, com zombies ou extraterrestres em vez de rafeiros, Carpenter ou Romero já fizeram mais do que uma vez, e “filme-sintoma” que possivelmente não podia vir de outro sítio senão da Hungria, o país que está na vanguarda da Europa no regresso a leis socialmente repressivas (da perseguição a ciganos à criminalização dos sem-abrigo) e que propicia a “leitura” daquela matilha enquanto metáfora, mais ou menos clara, de uma revolta de excluídos e perseguidos. 

No futuro, muito provavelmente olharemos para Deus Branco como uma manifestação do profundo mal-estar na Europa dos anos 2010.

 

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